XXIII. Diversão

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Surpreendentemente, Azula estava gostando do campo. Talvez porque ficar na casa de Ty Lee envolvia muito menos trabalho braçal do que ela esperava e a paisagem era de tirar o fôlego. Azula nunca tinha ligado para fotos da natureza, mas ver ao vivo era realmente outra coisa. Ela quase se sentia em paz.

Além disso, era bom não perder a companhia de Ty Lee durante aquelas duas semanas. Azula iria realmente lamentar ficar tanto tempo longe dela. Perceber isso a assustou. Quando foi que Ty Lee parou de irritá-la? Na verdade, Azula nunca a achou intolerável. Ela só queria continuar encontrando desculpas para ficar sozinha.

— A gente não precisa ir na festa hoje à noite se você não quiser — Ty Lee comentou enquanto elas se arrumavam no quarto dela.

— Eu quero ir.

Azula realmente queria. Era outra coisa esquisita. Ela estava curiosa sobre como seriam os amigos de Ty Lee, e até mesmo seus ex-namorados. Estava sendo divertido conhecê-la melhor.

Ty Lee roeu as unhas e voltou a arrumar o cabelo.

— Eu estou um pouco nervosa.

— Com o quê?

— Eu quero que você goste dos meus amigos. E que eles gostem de você. E não quero que te contem coisas constrangedoras sobre mim — Ty Lee confessou.

Azula riu e começou a colocar os brincos. Ty Lee estava preocupada com a visão que a tatuadora tinha dela? O mais engraçado nisso é que a visita só estava mudando essa visão para melhor. Azula também gostou de saber que até mesmo Ty Lee se preocupava com esse tipo de coisa.

— Eu prometo que não vou gostar menos de você independente do que me contarem — ela respondeu — Você já fez coisas bem constrangedoras na minha frente.

Ty Lee corou e parou de arrumar, mortificada. Azula colocou uma mão no ombro dela.

— Ei, não se preocupa com isso. Se você não quiser ir, não iremos.

A florista suspirou e colocou uma mão por cima da dela. Ty Lee sorriu para Azula.

— Vamos. Eu estava apenas sendo boba.

A festa em si até que era bem legal. Tinha uma quantidade considerável de gente, mas ainda parecia íntima o bastante. A música não era muito alta nem muito ruim. As bebidas eram de qualidade. Além disso, Ty Lee estava muito bonita com seu vestido branco de um ombro só que expunha a barriga.

— Quais deles são seus ex-namorados? — Azula cochichou, curiosa.

— Você vai perceber — Ty Lee respondeu com um suspiro.

Poucos minutos depois, a florista estava rodeada por cinco rapazes, que Azula corretamente deduziu serem os exes. Eles pareciam dispostos a reconquistá-la, embora com os métodos mais ineficazes possíveis.

— Ty Lee! Ó, flor mais bela dentre todas as flores do campo. Gostaria de ouvir o haiku que eu compus em homenagem ao lóbulo da sua orelha esquerda?

— Ignora esse palhaço! Quer ver eu fazer duzentas flexões com você sentada nas minhas costas?

— Ty Lee, eu esculpi seu rosto nessa barra de sabão com cheiro de alfazema. E também em um dos pés da mesa de bebidas.

Ty Lee não aparentava ter um tipo. Um deles era alto e forte como um atleta; outro era magrelo e tímido; o terceiro era baixinho e atrevido, com um tronco largo e um sorriso de cafajeste. Azula não achava que ela tinha muito bom gosto. Talvez os tivesse namorado por pena ou para receber a atenção.

— Chega! Eu não quero nada com vocês. Me deixem em paz! — Ty Lee os empurrou para sair de perto.

Azula a seguiu satisfeita, encarando as expressões embasbacadas dos rapazes.

— É sempre assim — Ty Lee repôs o ponche dela — Eles não aceitam quando eu encerro as coisas. Eu terminei com o primeiro deles há quatro anos!

— Hum, e nenhum deles te supera?

— Eu não sei exatamente o que é. Essa obsessão não é normal. Eu gosto quando me admiram e fazem as coisas por mim, mas eu não quero estar em um relacionamento onde há tanto desequilíbrio. Estraga a minha aura!

Ty Lee deu um gole em seu copo e Azula a imitou em seguida. A conversa a fez erguer uma sobrancelha.

— É tipo... Eles nunca eram interessantes, sabe? Eu quero admirar a pessoa que está comigo tanto quanto ela me admira. Eu quero gostar dela, achar ela interessante. E eu também quero que ela me ache interessante.

Azula observou enquanto Ty Lee suspirava e baixava os olhos, com uma pontada de tristeza e decepção. As palavras dela faziam sentido. Azula nunca foi uma pessoa de relacionamentos, mas ela refletiu que também achava aquilo desejável. Não bastava ser endeusada se quem estivesse com ela fosse desinteressante.

— Eu concordo com você — ela comentou depois de ponderar — E sinto muito que você tenha que lidar com isso. Pelo menos, você já sabe que é interessante. Basta encontrar alguém que você possa admirar de volta, então.

Ty Lee sorriu e assentiu com a cabeça antes de enlaçar os braços delas para se afastarem da mesa de ponche.

— Você me acha interessante?

Azula revirou os olhos.

— Você fugiu com o circo e tem gêmeas idênticas, Ty Lee. Entediante você não é.

O comentário fez Ty Lee sorrir. Azula não entendia direito, mas já havia aprendido a aceitar que ela era assim. As palavras de Azula pareciam agradá-la facilmente.

— Você também é. Tudo que eu descubro sobre você é fascinante — Ty Lee a empurrou de leve com o ombro — Vem, vamos conhecer meus amigos.

A noite estava se encaminhando para ser agradável e estranhamente recheada de interações sociais positivas para Azula. Ela não costumava lidar bem com pessoas, mas aquelas ali eram extra sociáveis, o que compensava a falta de modos de Azula.

— Atenção, todo mundo! Vamos dar espaço para a atração especial da noite — Anunciou o anfitrião — Uma apresentação de acrobacia das irmãs Ty!

Azula aplaudiu junto com os outros convidados e se permitiu ficar surpresa novamente. Ela comentou com Ty Lee:

— Não sabia que suas irmãs também eram acrobatas.

Ty Lee estava encarando o palco, imóvel e boquiaberta. Azula começou a estranhar.

— Ty Lee?

— Acrobacia era algo meu — ela murmurou — Nós tínhamos um combinado.

Então, inesperadamente, Ty Lee se retirou da festa.

A Serpente em meu JardimOnde histórias criam vida. Descubra agora