Ty Lee se sentiu um lixo por vários dias. Ela tentou deixar várias mensagens para Azula, mas a garota a ignorou com mais intensidade do que nunca. A florista sentiu que merecia aquilo. Ela quis culpar Mai, embora soubesse que a amiga só queria protegê-la.
O pai de Azula era um político influente na região que havia sido preso quatro anos antes. Ele aparentemente pretendia concorrer à presidência, o que fez o escândalo ser ainda maior. Ty Lee ainda vivia com o circo na época e só ouviu a história por alto nas notícias. Ela nunca iria imaginar a ligação de Azula com aquele homem se não fosse por Mai.
A grande questão não era a prisão do pai de Azula. As origens do clube anti-Azula eram mais complexas. Ela tinha um longo histórico de crueldade e instabilidade emocional que Mai sequer quis destrinchar completamente para Ty Lee.
— Eu e Azula éramos amigas, mas não por afinidade — disse Mai — Meu pai tinha medo do pai dela, e eu tinha medo da Azula. Por isso, nós fazíamos o que eles queriam.
O coração de Ty Lee afundava com cada nova revelação e, ainda assim, ela não conseguia encontrar disposição para odiar Azula.
— Eu sei que ela era jovem e que ela tinha... outros problemas. Mesmo assim, minha vida é melhor sem Azula. Talvez a sua também seja.
— E se ela tiver mudado?
Ty Lee queria desesperadamente acreditar nessa mudança.
— Eu nunca apostaria minha vida nisso — respondeu Mai — Contudo, se você quer tanto dar uma chance pra ela, eu não vou te impedir. Só te peço que não me faça interagir com ela.
Era um pedido razoável e Ty Lee concordou sem hesitar. Mai prometeu respeitar qualquer que fosse a decisão dela. Não seria uma escolha fácil, mas pelo menos Ty Lee saberia o que esperar se as coisas dessem terrivelmente errado.
Quando Azula veio vê-la na floricultura, Ty Lee pensou que talvez tivesse encontrado um sinal de humanidade nela. Azula dificilmente demonstrava vulnerabilidade e, mesmo assim, estava praticamente implorando por uma explicação para o abandono repentino. Vê-la congelar com a menção ao pai e fugir correndo foi doloroso. Ty Lee não suportava tê-la magoado.
Azula estava se sentindo humilhada. Ty Lee sabia que uma possível reconciliação teria de partir dela. As palavras certas eram quase impossíveis de escolher, então ela preferiu recorrer a uma linguagem que compreendia melhor—a das flores.
Após fazer um dos arranjos florais mais importantes da sua carreira, Ty Lee aguardou na frente do prédio de Azula durante uma de suas tardes livres. Brotar no estúdio de tatuagem não parecia uma opção. Ela esperava não aparentar ser uma stalker por causa disso. Ty Lee respeitaria o espaço de Azula se a tatuadora dissesse que nunca mais queria vê-la, apenas torcia para que não fosse o caso.
Quando Azula saiu, as duas quase se atropelaram na calçada. Elas se encararam com igual surpresa e constrangimento. Azula parecia prestes a sair correndo de novo, então Ty Lee se apressou em estender o buquê na direção dela.
— Por favor, aceite esse pedido de desculpas. É um buquê de jacintos azuis para simbolizar que estou sendo sincera no pedido — Ty Lee cerrou os olhos, insegura.
Azula hesitou e a encarou de cima a baixo por vários segundos antes de pegar o buquê com desconfiança.
— Eu sei que não é grande coisa, mas eu não deveria ter me metido na sua vida.
Elas permaneceram naquele silêncio desconfortável por mais alguns instantes. Azula respirou fundo. Ty Lee também sentia vontade de fugir.
— Eu estava indo tomar um café agora. Gostaria de me acompanhar?
Era uma oferta de paz. Ty Lee sentia que tinham muitas palavras entaladas na garganta de Azula, mas que ela ainda era orgulhosa demais para proferi-las. Tudo bem. Ty Lee gostava de aventuras, e desbravar as camadas de Azula certamente era uma. Ela sabia que não iria se machucar, pois havia crescido resiliente. Os outros a subestimavam demais.
— Eu adoraria!
Azula relaxou os músculos tensionados e ofereceu o braço para que Ty Lee prendesse com o dela. Então, as duas caminharam. Embora Azula ainda não estivesse pronta para se abrir, ela também não odiava completamente ter tido seu segredo exposto. Ty Lee sentia que estavam fazendo progresso. Ela ainda não achava Azula um monstro.
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A Serpente em meu Jardim
Romance[CAPÍTULOS SEGUNDA, QUARTA E SEXTA] Uma energética florista se muda para a cidade grande e se encanta com a fria e atraente tatuadora com tatuagem de serpente que trabalha do outro lado da rua. Cafeterias, casas de chá e flores por todos os lados cr...