Azula tinha quase certeza que era alguma dívida cármica quando Ty Lee apareceu novamente no estúdio pedindo por um orçamento de tatuagem. Ela poderia muito bem fazer com June, mas, aparentemente, era o traço de Azula que a interessava. Perfeito. Que situação agradável.
Apesar dos pesares, Azula concluiu que, desde que Ty Lee a pagasse, ela não se importava muito.
— Para montar um orçamento, você precisa me dizer o tamanho da tatuagem — Azula respondeu, quase soltando um suspiro exausto.
— Hã... Pequeno?
Azula levou dois dedos à têmpora, fechando os olhos.
— Não me ajuda muito se você disser assim. Eu preciso do comprimento e largura em centímetros — ela explicou.
Ty Lee encarou os próprios dedos como se fossem escalas de medida e suas sobrancelhas foram franzindo à medida que ela tentava raciocinar.
— Eu... não faço a menor ideia do tamanho em centímetros.
Azula juntou as palmas das mãos, inspirando fundo para não perder a paciência (e a cliente). Então, ela deu seu melhor sorriso de atendimento ao consumidor e ofereceu uma fita métrica para Ty Lee.
— Isso aqui pode te ajudar.
Ty Lee abriu um sorriso em agradecimento e pareceu relaxar quando tomou a fita. Ela passou alguns segundos fazendo medições e então virou para Azula.
— Acho que talvez uns dez centímetros de comprimento e cinco a sete de altura? Por volta disso.
Azula balançou a cabeça absorvendo as informações, ligeiramente impressionada.
— Não é tão pequeno assim — Ela respondeu.
— Bom, eu acho tatuagens mais bonitas quando consigo ver o que é o desenho a uma certa distância — Ty Lee deu de ombros com uma expressão radiante.
— É uma boa escolha, considerando que a tinta das tatuagens expande com o tempo. Tudo que é muito pequeno costuma virar um borrão, sendo bem sincera — Azula tossiu. Tatuagens pequenas eram sua maior fonte de renda, mas ela lavava as mãos após ter explicado as possíveis consequências para os clientes. — O que você pretende tatuar?
— Flores!
O entusiasmo puro na entonação da resposta fez com que Azula soltasse uma gargalhada. Ela não conseguiu se conter. Ty Lee inclinou a cabeça e perguntou com ingenuidade:
— O quê?!
Azula se recompôs e limpou uma lágrima no canto do olho antes de responder:
— Nada. Eu apenas deveria ter previsto. Você vende flores, não é?
O comentário fez a ficha de Ty Lee cair. Ela começou a corar, possivelmente envergonhada de ter sido previsível e clichê.
— Eu nem pensei nisso.
— Tá tudo bem, não é uma escolha ruim. Muitas pessoas tatuam flores.
Azula dobrou um pouco a manga da camisa ao dizer isso, para exibir totalmente a própria tatuagem. Era uma serpente que cobria totalmente seu antebraço, com contorno e sombreado em tinta preta, mas de suas dobras saíam algumas flores azuis, como se ela estivesse se arrastando em um campo florido. Azula sempre gostou de preto e azul.
— Flores são bonitas, não são? — Ty Lee esticou os dedos, quase encostando na tatuagem, mas retraiu a mão a tempo.
Azula deu de ombros, sem concordar ou discordar. Ela não ligava muito para flores, mas até que eram bonitas sim.
— Você sabe qual tipo de flores vai tatuar?
Ty Lee congelou novamente. Ela não parecia ter pensado muito no assunto. Azula apostava que era uma decisão de impulso.
— Bom, eu... São tantas opções.
Na tentativa de poupar tempo, Azula procurou seu álbum de flashes e folheou até chegar numa seção com designs florais.
— Por que você não olha e procura algo que te agrade?
Como se seus pedidos fossem atendidos, o sino da porta tocou e Azula voltou a atenção para o novo cliente, deixando Ty Lee para lidar com a própria indecisão sozinha. Porém, quando Azula resolveu ignorar a implicância gratuita, ela percebeu que não achava a companhia tão ruim assim.
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A Serpente em meu Jardim
Romance[CAPÍTULOS SEGUNDA, QUARTA E SEXTA] Uma energética florista se muda para a cidade grande e se encanta com a fria e atraente tatuadora com tatuagem de serpente que trabalha do outro lado da rua. Cafeterias, casas de chá e flores por todos os lados cr...