Zuko passou a madrugada inteira acordado. Ele se questionava se visitar a mãe após tantos anos era uma boa ideia, especialmente se o que Ozai falou fosse verdade. E se ela tivesse esquecido deles?
O rapaz ainda se lembrava da noite que a mãe os deixou. Ela o acordou para pedir perdão e dizer o quanto o amava. Zuko não entendeu até o dia seguinte. Ele chorou por uma semana inteira. Os próximos anos foram muito difíceis, visto que o abuso de Ozai progrediu sem a esposa para impedi-lo. Durante todo aquele tempo, tudo que Zuko queria era saber que a mãe estava bem.
Após uma viagem de quase quatro horas, Zuko chegou no suposto novo endereço dela. Era uma casa pequena, bem mais humilde do que a que ele dividia com tio Iroh na cidade grande. Zuko segurou o punho perto da porta, hesitando em bater. Ele ouviu o som de uma criança rindo e correndo pela casa. De repente, uma voz que ele não ouvia há anos falou:
— Kiyi! Venha tomar seu banho!
Os olhos de Zuko se arregalaram e ele deu dois passos para trás. Lágrimas começaram a brotar, mas o rapaz as afastou. Era definitivamente a voz de sua mãe. Ele havia sentido tanta falta daquela voz.
Zuko encontrou uma janela na lateral da casa e tentou observar seu interior. Ele viu a mãe rir enquanto levantava uma criança de seis ou sete anos no ar.
— Chega de correr. A sua mãe está exausta.
Ela estava dez anos mais velha, mas o rosto era inconfundível. Era como o de Azula, porém amoroso. Era como o de Zuko, porém decidido. O mais importante era que ela parecia feliz.
Zuko observou a garotinha no colo da mãe. Kiyi, era seu nome? Será que eles se dariam bem? Zuko nunca teve a oportunidade de ser um bom irmão mais velho. Ele sentia que havia falhado com Azula. Talvez pudesse recomeçar com Kiyi.
Talvez...
Ele começou a se afastar, sentindo-se um intruso. A mãe parecia ter enfim uma família feliz. Ela agora levava uma vida humilde, mas a mansão onde haviam morado apenas acentuava a distância entre todos eles. Zuko estava contente que ela estava bem. Ele não queria atormentá-la com o passado. Ozai só não foi tão cruel com ele antes porque a mãe levava o bruto dos abusos. Zuko queria que ela jamais precisasse lembrar daquela dor.
Enquanto ele se distanciava da casa, um homem apareceu e o impediu. O homem, na casa dos quarenta anos, não era familiar, mas Zuko deduziu que fosse o novo marido da mãe.
— Eu... eu sinto muito, senhor. Errei de endereço — Zuko gaguejou tentando se justificar.
— Eu sei quem você é — O homem respondeu — Por que não entra para ver sua mãe?
Zuko o encarou com surpresa. Os olhos voltaram a embaçar com lágrimas.
— Como você...?
O homem apontou para o lado esquerdo do próprio rosto, referenciando a cicatriz de Zuko.
— E porque você tem os olhos dela — Ele concluiu.
Zuko abaixou a cabeça e fechou os olhos para não chorar. Então, inspirou fundo.
— Eu não quero atrapalhar.
O homem colocou uma mão no ombro dele.
— Ela fala sobre você todos os dias. Ela iria morrer se soubesse que estava tão perto do filho sem revê-lo. Por favor. Você também é família.
Dessa vez, uma lágrima silenciosa escapou pela bochecha de Zuko e ele prontamente a enxugou, envergonhado. Ozai sempre o humilhava por chorar. Era sinal de fraqueza.
— Tudo bem. Se o senhor não se incomoda.
O homem apertou o ombro dele para assegurá-lo e o conduziu até a entrada da casa. A chave girou e a porta se abriu. Ursa, a mãe de Zuko, já se preparava para entrar no banheiro com a filha. Ela virou o rosto com um sorriso enorme para recepcionar o marido e encontrou os olhos âmbar de Zuko. Os olhos dela imediatamente se encheram d'água e começaram a jorrar.
A menininha se soltou dos braços da mãe e correu para abraçar o pai. Ela se virou para o estranho em sua casa que havia começado a chorar e perguntou:
— Papai, quem é ele?
Ursa sorriu em meio às próprias lágrimas, que só se intensificaram. Ela começou a andar até eles.
— Zuko... Zuko. Meu Zuko.
Finalmente, após quase dez anos torturantes, Zuko pôde abraçar a mãe. Nada no mundo existia fora daquele abraço. Ele nunca mais iria soltá-la.

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A Serpente em meu Jardim
Romance[CAPÍTULOS SEGUNDA, QUARTA E SEXTA] Uma energética florista se muda para a cidade grande e se encanta com a fria e atraente tatuadora com tatuagem de serpente que trabalha do outro lado da rua. Cafeterias, casas de chá e flores por todos os lados cr...