XLV.

140 27 2
                                        

Zuko passou a madrugada inteira acordado. Ele se questionava se visitar a mãe após tantos anos era uma boa ideia, especialmente se o que Ozai falou fosse verdade. E se ela tivesse esquecido deles?

O rapaz ainda se lembrava da noite que a mãe os deixou. Ela o acordou para pedir perdão e dizer o quanto o amava. Zuko não entendeu até o dia seguinte. Ele chorou por uma semana inteira. Os próximos anos foram muito difíceis, visto que o abuso de Ozai progrediu sem a esposa para impedi-lo. Durante todo aquele tempo, tudo que Zuko queria era saber que a mãe estava bem.

Após uma viagem de quase quatro horas, Zuko chegou no suposto novo endereço dela. Era uma casa pequena, bem mais humilde do que a que ele dividia com tio Iroh na cidade grande. Zuko segurou o punho perto da porta, hesitando em bater. Ele ouviu o som de uma criança rindo e correndo pela casa. De repente, uma voz que ele não ouvia há anos falou:

— Kiyi! Venha tomar seu banho!

Os olhos de Zuko se arregalaram e ele deu dois passos para trás. Lágrimas começaram a brotar, mas o rapaz as afastou. Era definitivamente a voz de sua mãe. Ele havia sentido tanta falta daquela voz.

Zuko encontrou uma janela na lateral da casa e tentou observar seu interior. Ele viu a mãe rir enquanto levantava uma criança de seis ou sete anos no ar.

— Chega de correr. A sua mãe está exausta.

Ela estava dez anos mais velha, mas o rosto era inconfundível. Era como o de Azula, porém amoroso. Era como o de Zuko, porém decidido. O mais importante era que ela parecia feliz.

Zuko observou a garotinha no colo da mãe. Kiyi, era seu nome? Será que eles se dariam bem? Zuko nunca teve a oportunidade de ser um bom irmão mais velho. Ele sentia que havia falhado com Azula. Talvez pudesse recomeçar com Kiyi.

Talvez...

Ele começou a se afastar, sentindo-se um intruso. A mãe parecia ter enfim uma família feliz. Ela agora levava uma vida humilde, mas a mansão onde haviam morado apenas acentuava a distância entre todos eles. Zuko estava contente que ela estava bem. Ele não queria atormentá-la com o passado. Ozai só não foi tão cruel com ele antes porque a mãe levava o bruto dos abusos. Zuko queria que ela jamais precisasse lembrar daquela dor.

Enquanto ele se distanciava da casa, um homem apareceu e o impediu. O homem, na casa dos quarenta anos, não era familiar, mas Zuko deduziu que fosse o novo marido da mãe.

— Eu... eu sinto muito, senhor. Errei de endereço — Zuko gaguejou tentando se justificar.

— Eu sei quem você é — O homem respondeu — Por que não entra para ver sua mãe?

Zuko o encarou com surpresa. Os olhos voltaram a embaçar com lágrimas.

— Como você...?

O homem apontou para o lado esquerdo do próprio rosto, referenciando a cicatriz de Zuko.

— E porque você tem os olhos dela — Ele concluiu.

Zuko abaixou a cabeça e fechou os olhos para não chorar. Então, inspirou fundo.

— Eu não quero atrapalhar.

O homem colocou uma mão no ombro dele.

— Ela fala sobre você todos os dias. Ela iria morrer se soubesse que estava tão perto do filho sem revê-lo. Por favor. Você também é família.

Dessa vez, uma lágrima silenciosa escapou pela bochecha de Zuko e ele prontamente a enxugou, envergonhado. Ozai sempre o humilhava por chorar. Era sinal de fraqueza.

— Tudo bem. Se o senhor não se incomoda.

O homem apertou o ombro dele para assegurá-lo e o conduziu até a entrada da casa. A chave girou e a porta se abriu. Ursa, a mãe de Zuko, já se preparava para entrar no banheiro com a filha. Ela virou o rosto com um sorriso enorme para recepcionar o marido e encontrou os olhos âmbar de Zuko. Os olhos dela imediatamente se encheram d'água e começaram a jorrar.

A menininha se soltou dos braços da mãe e correu para abraçar o pai. Ela se virou para o estranho em sua casa que havia começado a chorar e perguntou:

— Papai, quem é ele?

Ursa sorriu em meio às próprias lágrimas, que só se intensificaram. Ela começou a andar até eles.

— Zuko... Zuko. Meu Zuko.

Finalmente, após quase dez anos torturantes, Zuko pôde abraçar a mãe. Nada no mundo existia fora daquele abraço. Ele nunca mais iria soltá-la.

A Serpente em meu JardimOnde histórias criam vida. Descubra agora