XLVIII.

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Azula não sabia por qual motivo exatamente, mas ela estava nervosa. Só enquanto aguardava para ver o pai, ela percebeu que era assim que frequentemente se sentia perto dele. Azula não sabia como rotular o sentimento antes. Geralmente, Ozai a favorecia em contraste a Zuko, mas, sem o irmão por perto, ela se sentia minúscula. Azula não sentia que era suficiente, apenas a opção menos ruim.

Ozai a recepcionou com a expressão solene de sempre. Ela engoliu a seco antes de se sentar.

— Oi, pai. Soube que o senhor queria me ver.

Ele a estudou em silêncio por vários minutos. Azula tentou não demonstrar qualquer fraqueza, mantendo a expressão e a postura tão impassíveis quanto as dele. Ozai balançou a cabeça sutilmente, em aprovação.

— Azula. Você não mudou quase nada.

Então, os olhos de Ozai se direcionaram para o antebraço dela.

— Exceto por isso. É uma serpente?

— Sim.

— Hum. Quando você nasceu no ano da serpente, eu previ que você seria intelectual, perspicaz, ambiciosa e temível. Eu estava certo. Eram qualidades que eu admirava.

Ela procurou não permitir que seu ego se inflasse. Até Ozai terminar de falar, qualquer elogio poderia preparar o terreno para uma crítica devastadora.

— Você também é errática, cabeça dura e emocional — Ozai apontou — Isso sim me decepcionou. Eu soube que você jogou o seu futuro fora.

— Pai, eu não...

— Você poderia ter tido um futuro brilhante, Azula. Eu tinha tantas expectativas para você. Sabe o que Zuko me disse da última vez? Que meus sócios o procuraram para fazer negócios.

Ozai a encarou com seriedade.

— Deveria ter sido você.

Azula usou toda a sua força para manter o olhar. Era como se forçar a encarar um trem descarrilhar em um penhasco. Mesmo assim, ela não podia desviar o rosto. Ozai não admitia fraqueza.

— Ainda dá tempo de ser você — Ele insistiu — Eu posso te aconselhar. Não é tarde demais para recuperar a sua vida. Prove para mim que ainda é aquela garota que me dava orgulho e eu serei o seu mentor.

— O senhor não vai perguntar como anda a minha vida?

— Ah.

Ozai estalou a língua e se reclinou. Ele não se importava. Azula entendeu que ele não se importava.

— Me fale as novidades.

— Eu estou namorando.

Ela cerrou os punhos instintivamente. Ozai ergueu uma sobrancelha, curioso.

— Quem é ele?

— Ela é uma florista.

Ozai fechou a cara com desgosto.

— Uma florista?

— Os pais dela são donos de uma grande extensão de terra no interior e ela é uma acrobata profissional. Ela estuda numa faculdade de prestígio e aprende artes marciais no tempo livre.

Ozai pareceu ligeiramente impressionado. Azula sabia que "ligeiramente" nunca era o bastante.

— Eu... eu ia me matricular num supletivo para conseguir meu diploma. E então, eu queria fazer faculdade.

O pai suspirou aliviado e quase abriu um sorriso. Parte do coração de Azula se aqueceu com a migalha de aprovação. Ela queria deixá-lo contente, mesmo após tantos anos.

A Serpente em meu JardimOnde histórias criam vida. Descubra agora