XL.

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Ty Lee estava gostando bastante de passar tempo com Suki fora do dojô. Em grande parte porque fora das aulas ela não levava uma surra da professora. Suki era bastante diferente de Mai e Azula, o que podia ser bem refrescante.

— Oi, Ty Lee! Vamos?

Suki estava usando uma calça jeans rasgada e uma blusa branca com um casaco verde por cima, que em nada remetiam aos seus trajes de treino. Elas iriam ao cinema e dariam um pulo na praça de alimentação para conversar. Recentemente, Suki havia presenteado Ty Lee com um colar de leque dourado igual ao que ela e as outras garotas do dojô usavam. Azula não pareceu gostar muito.

— Eu adoro a cor do seu cabelo — Ty Lee suspirou e passou a mão nos curtos fios castanho-avermelhados de Suki — Acha que ficaria bem em mim?

— Você combinaria com qualquer cor de cabelo — Suki respondeu enquanto elas enlaçavam os braços para caminhar — Acha que eu ficaria bem com o meu longo?

— Óbvio! Mas eu amo o seu chanel. Meu rosto é redondo demais pra isso.

— Deixa de bobagem! Você ficaria perfeita até careca.

Ty Lee se sentia em casa com ela. Era como ter suas amigas do interior novamente, fofocando e trocando elogios. Mai era divertida do seu próprio jeito, mas nunca intencionalmente. Ela não ligava tanto para essas "bobagens de garota".

— Como andam as coisas com Azula? — Suki perguntou alguns metros à frente.

— Melhores do que nunca, eu acho. Nós tivemos uma conversa intensa sobre o passado dela e sinto que isso nos aproximou bastante.

Suki pareceu ficar boquiaberta.

— Vocês conversaram sobre isso? O que ela te contou?

Ty Lee suspirou.

— Ela contou sobre o que levou o Ozai a ser preso e tudo que aconteceu com a família dela durante e depois do escândalo — Ty Lee encarou Suki de soslaio — Ela também me contou sobre a escola.

— Ah — Suki levantou a cabeça para encarar o céu — É, eu presenciei também. Eu não estudava lá, mas o dojô sempre foi envolvido em ajudar a comunidade, então nós apoiamos a escola. Foi assim que eu conheci o Sokka.

— Você conheceu a Azula?

— Não diretamente, mas ela teve vários encontros tensos com o pessoal, então ouvi falar. Eu, hã... não tenho nada contra você estar com ela, aliás.

Ty Lee baixou os olhos. As pessoas sempre a asseguravam disso, mas ela se sentia um pouco culpada. Não por estar com Azula, e sim porque talvez achassem que ela não os dava ouvidos.

— Eu sei que foi bem grave, mas você acha que um dia eles conseguiriam perdoar a Azula?

Suki ficou em silêncio. O clima começou a ficar desconfortável e Ty Lee tentou pensar em uma mudança de tópico.

— Sokka, talvez. Ele tem mais medo dela do que raiva — Suki respondeu, repentinamente — Toph não foi pessoalmente vitimizada, então acho que também não seria difícil. Aang é muito espiritualmente evoluído. Ele provavelmente já a perdoou.

— Katara? — Ty Lee mordeu o lábio.

Suki suspirou.

— Há pouco mais de dez anos, durante o primeiro mandato do Ozai... A mãe da Katara morreu.

— O quê?! — Ty Lee franziu a testa.

— É uma longa história. Digamos que o Ozai não desviou verba pública apenas de escolas. Muitos hospitais ficaram sem leito... Então ela tem muito rancor dessa família. Quando Azula fez o que fez, a Katara passou por um momento difícil. Eles tentaram protestar, mas o Aang sofreu brutalidade policial na frente dela. A coisa foi feia.

Ty Lee inspirou fundo, sentindo os olhos pinicarem. O coração dela apertou.

— Err... eu não acho que a Azula previu todos os desdobramentos. Ela sumiu do mapa pouco depois — Suki emendou — Se fosse qualquer outra pessoa em plenas faculdades mentais, eu teria outra opinião. O que eu sei sobre a Azula quase... quase me faz sentir pena.

Azula não gostaria de saber disso. Ela tentaria arrancar o couro cabeludo de Suki com as próprias mãos.

— Por quê?

— Porque ela havia sido internada pouco antes. O colapso mental que fez ela ser hospitalizada foi na frente do Zuko e da Katara. Até a Katara sentiu pena — Suki hesitou com as palavras — Bom, eu não deveria falar sobre isso. Deve ser algo que a Azula prefere que você não saiba.

— Ela me contou por alto, mas... — Ty Lee franziu a testa novamente — Eu nunca vi de fato uma dessas crises. Não que eu queira ver. Eu quero que a Azula melhore.

— Eu também quero — Suki afirmou com a cabeça — Ia ser bom pra todos nós. Eu acredito que, se alguém está disposto a mudar, quem sou eu pra impedir? Iroh também tem um passado conturbado e é a melhor pessoa que eu conheço hoje em dia.

— Mesmo?

— Sim. Ele não fala muito sobre isso, mas foi a morte do único filho que o impulsionou a mudar. Iroh sempre diz que nenhum ato de bondade dele vai ser o suficiente, mas que vai continuar se redimindo até morrer.

Ty Lee abriu um sorriso triste. Elas estavam quase chegando ao destino delas. Tudo sobre a família de Azula e os amigos de Zuko era devastador.

— Eu acho que ele seria uma influência positiva na Azula — Ty Lee confessou.

Suki concordou com a cabeça.

— Você também é uma influência positiva nela.

— Eu sou? — Ty Lee a encarou com os olhos arregalados.

— Sim — Suki sorriu — Todo mundo comenta que ela está diferente desde que vocês começaram a namorar. O Zuko comentou que ela até chegou bem perto de um pedido de desculpas no outro dia.

A última frase quase quebrou a mente de Ty Lee. Ela nunca tinha visto Azula pedir desculpas por nada. Aquilo a fez sorrir. Ty Lee não era mais a única a enxergar mudança em Azula, então não devia ser apenas uma ilusão.

— Suki?

— Sim?

— Obrigada. Você me deixou muito feliz.

Suki ergueu uma sobrancelha em confusão, mas sorriu ainda mais.

— Que bom. Eu que deveria te agradecer. Muita gente já tentou mudar a Azula, mas talvez você seja a primeira a conseguir.

Ty Lee riu, mas discordava. Não era ela quem estava mudando Azula, era Azula quem havia decidido mudar. Você só pode ajudar quem aceita a sua ajuda.

A Serpente em meu JardimOnde histórias criam vida. Descubra agora