XXXIV.

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Fazia bastante tempo que Mai e Ty Lee não saíam juntas fora da faculdade. Desde as férias de inverno, basicamente. Ty Lee se sentia culpada, pois ela havia priorizado o relacionamento com Azula acima de suas outras conexões. Acima até mesmo do seu trabalho ou seus estudos. Ela não sabia como contar para Mai que as coisas haviam progredido com a tatuadora.

— Bela tatuagem.

Mai apontou para o colo descoberto de Ty Lee. Algo a dizia que a amiga sabia quem havia feito a tatuagem. Ty Lee já tinha mencionado o estúdio de Azula antes.

— Obrigada.

Ela quis roer as unhas.

— Que flores são essas?

— São flores de jasmim.

— Ah — Mai respondeu monótona — Eu tenho um pé de jasmim em casa. Meu irmãozinho adora o cheiro.

— É mesmo? Fico feliz. Posso ver seu jardim um dia?

Ty Lee se empolgava com a menção de jardins alheios. Mesmo quando caminhava nas ruas, ela sentia vontade de pular o muro quando uma planta chamava sua atenção. Muitas vezes conseguia ao menos expiar o interior das casas e roubar um galho. Quem poderia julgá-la?

— Claro. Quando você quiser.

As duas voltaram a ficar em silêncio. Era esquisito. Ty Lee sentia que a conversa não vinha mais fácil para elas. Talvez porque elas viviam tentando circundar o tópico Azula.

— Mai, precisamos conversar.

Mai suspirou.

— Não gosto das implicações disso.

— Eu sei, mas uma hora precisamos falar sobre a Azula.

Ty Lee mordeu o lábio inferior, sentindo o coração palpitar de nervosismo. Ela preferia muito mais quando seu coração palpitava por ver Azula. Mai a encarou de volta.

— O que você quer falar sobre a Azula?

— Nós estamos saindo juntas.

— Hum.

Mai ficou em silêncio. Seu rosto era impossível de ler, na maior parte do tempo. Isso frustrava Ty Lee. A franja negra de Mai obscurecia ainda mais a expressão de seus olhos. Apesar disso, Ty Lee percebeu os lábios dela se comprimirem.

— Você acha mesmo que sabe o que está fazendo? — Mai finalmente perguntou.

— Eu tô apenas seguindo meu coração.

— Isso não é muito sensato.

Ty Lee não conseguiu evitar se ofender. Mai queria protegê-la, mas por que pensava que sabia o que era melhor para ela? Ty Lee podia tomar suas próprias decisões.

— Eu sei do passado entre vocês, mas ela não é a mesma pessoa.

— Você não sabe nada, Ty Lee.

A elevação do tom de voz surpreendeu a florista. Até Mai pareceu boquiaberta com a dureza de suas palavras. Ela se conteve.

— Eu não digo isso para te julgar. O erro foi meu. Eu não quis te contar tudo sobre a Azula.

— Você acha que iria mudar como me sinto sobre ela?

Ty Lee franziu a testa, preocupada. O que poderia ser tão terrível que Mai primeiro se recusou a contá-la e agora insinuava que estralhaçaria o relacionamento delas?

— Talvez — Mai respondeu — Certamente mudou como muita gente se sentia sobre ela.

— Por que você acha que nos últimos quatro anos a Azula não pode ter melhorado?

— Porque eu vi a Azula e ela parece a mesma. Porque Zuko me contou sobre as interações deles. Ele falou sobre como a Azula aproveitou a primeira oportunidade para insultá-lo e continuou culpando o Iroh pelos erros do pai.

Ty Lee não tinha como argumentar. Ela tinha presenciado algumas dessas interações, porém era injusto. Eles não tinham visto Azula em outros momentos. Não viram como Azula admirava a beleza do lago no inverno ou como ela havia incentivado Ty Lee a não ser feita de capacho ou como ela a acalmou durante a tatuagem dolorosa. Por que Mai dava ouvidos para Zuko e não para Ty Lee? Era a mesma Azula.

— Eu sei disso, só que a Azula é diferente comigo. Eu sei que ela é cheia de espinhos, porém eu também vejo mudança.

— E se você estiver sendo ingênua? E se ela te machucar?

Mai estava genuinamente preocupada. Ty Lee sorriu tranquila. A preocupação era bem-vinda, mas não era necessária.

— Se ela partir meu coração, tudo bem. Eu sabia que isso era uma possibilidade desde o começo e mesmo assim escolhi arriscar. Eu sou capaz de lidar com as minhas decisões.

Mai suspirou e abraçou Ty Lee de repente. Ela sempre odiava abraços e nunca reciprocrava os da florista. Aquilo pegou Ty Lee tão de surpresa que ela quase chorou.

— Você é boa demais pra ela.

O abraço não durou muito tempo. Mai segurou as mãos de Ty Lee e a encarou com seriedade.

— Ao menos me permita te contar tudo que ela fez.

Ty Lee engoliu a seco. Seria muito doloroso de ouvir. Por outro lado, ela sabia que deveria saber onde estava se metendo. Talvez entender o passado de Azula fosse a chave para ajudá-la a se curar também.

— Tudo bem, mas quero que você dê uma chance para a Azula se eu te provar que ela pode se redimir.

— Eu não posso te prometer isso.

— Então sem acordo.

Mai soltou as mãos dela, frustrada.

— Ok. Se você confia tanto na Azula, talvez ela te conte. Quem sabe eu dê a ela um voto de confiança se ela te falar tudo por conta própria?

Ty Lee sabia que Mai não acreditava naquela possibilidade, mas ela preferiria saber por Azula. Ouvir de outras pessoas parecia injusto. Azula não poderia se defender. Todo mundo merece a chance de recomeçar, sem que o passado interfira nas visões dos outros sobre eles.

A Serpente em meu JardimOnde histórias criam vida. Descubra agora