XXXVII.

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Ty Lee queria ouvir da boca de Azula sobre o passado dela e, se Azula não estivesse disposta a compartilhar, ela nunca mais insistiria. Ela só estava ansiosa que tocar no assunto delicado pudesse destruir o relacionamento das duas.

— Azula, eu queria conversar com você — Ty Lee começou, já sentindo o coração acelerar — Não é para terminar contigo. Eu... eu só não sabia como abordar a questão.

Azula respirou aliviada. Ty Lee não havia notado o quanto os ombros dela estavam tensos até então.

— O que houve?

— Você confia em mim agora?

— Claro — Azula respondeu.

Ty Lee segurou as mãos dela com afeição.

— Você confiaria em mim com o seu passado?

De repente, o ar foi sugado do ambiente. Felizmente, elas já haviam almoçado, senão as duas teriam perdido o apetite. A tensão era nauseante.

— Ok — Azula expirou — Ok, ok. É melhor você ouvir de mim. Por onde eu começo?

— Tome o seu tempo.

— Como você já sabe, Ozai é o meu pai.

Azula estava se referindo ao governador que sofreu impeachment quatro anos antes e foi preso um tempo depois. Ty Lee não era muito envolvida em política, mas todo mundo conhecia a família de Ozai. O avô dele, Sozin, até havia sido presidente da nação. O próprio Ozai pretendia lançar candidatura quando o escândalo aconteceu.

— Bom, eu era muito próxima dele, então... quando as acusações começaram a sair, eu fiquei muito abalada. Eu sei que meu pai cometeu erros, mas também inventaram muita coisa. Sobre ele e sobre a nossa família.

Ty Lee se aproximou de Azula. Elas estavam sentadas no chão do quarto dela, perto da cama. A florista estava atenta a qualquer sinal de crise em Azula.

— Na mesma época eu tinha acabado de... de começar um tratamento psiquiátrico — Azula virou o rosto com vergonha — Era para ser segredo, mas vazaram isso na mídia como parte da campanha contra o meu pai. Isso me levou a um colapso mental que resultou em uma internação.

Os olhos de Ty Lee começaram a encher d'água, mas ela tratou de segurar as lágrimas. Azula pensaria que eram de pena.

— Por causa do escândalo e da minha internação, eu fui convidada a me retirar do colégio de elite onde eu estudava — Azula riu com escárnio — E muitos dos nossos bens começaram a ser confiscados, então a gente não teria condição de pagar mesmo.

Azula pigarreou.

— Meu futuro estava arruinado. Nenhuma escola que se prezava me queria. Enquanto isso, eu tinha que assistir uns pirralhos de movimento estudantil difamando meu pai.

— Esses pirralhos...

— São os amigos do Zuko. Eles acusaram meu pai de promover a gentrificação do bairro deles e começaram a protestar quando vazou um projeto que fecharia a escola onde estudavam todos eles menos aquela menina cega. Ela é rica como nós.

Azula parou de falar como se tivesse levado um choque.

— Rica como você... — Ela se corrigiu.

— Eu ainda não entendo — Ty Lee tentou desviar o assunto — Por que eles te odeiam?

— Porque no final, fui eu que fechei o colégio deles.

Azula soltou a bomba no colo de Ty Lee com um sorriso constrangido. Esse era o tal momento que poderia fazer Ty Lee odiá-la.

A Serpente em meu JardimOnde histórias criam vida. Descubra agora