LIV.

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Os olhos de Ty Lee se encheram d'água. Ela não sabia o quanto o relacionamento de Azula com a mãe a afetava até então. Nem mesmo Tio Iroh parecia saber exatamente o que fazer quando Azula entrou numa crise de choro. A mãe dela estava claramente angustiada, implorando por uma reconciliação. Quando Iroh julgou que o melhor era afastar as duas para se acalmarem, Ty Lee ficou a sós com Azula.

Ela se aproximou da namorada com cautela, procurando o que dizer.

— Azula, sou eu.

O tom de voz era suave, como quem procura despertar alguém sem assustar. Azula ainda soluçava com tanta intensidade que arfava com desespero por causa da falta de ar. Ty Lee viu o quanto as mãos dela estavam tremendo e tentou segurá-las.

— Sai daqui! — Azula conseguiu dizer com dificuldade entre os soluços.

Ty Lee evitou tocar nela, para permitir-lhe um espaço.

— Tem certeza que quer que eu vá embora?

Azula cerrou os olhos e abraçou os joelhos. Então, começou a se balançar pra frente e para trás, como numa tentativa de se acalentar.

— Eu não quero ninguém.

Ty Lee conhecia Azula bem o suficiente para entender como ela estava enxergando a situação. Era humilhante. Azula não suportava o menor indício de que sentissem pena dela. Ty Lee não sentia pena, mas ela não iria acreditar nisso.

Quando elas dormiam juntas, a mente de Ty Lee gritava "eu te amo". Ela racionalizou que poderia ser o calor do momento e escolheu esperar para ter certeza.

Quando Azula a surpreendia com um presente, a mente de Ty Lee também gritava "eu te amo". Como diferenciar gratidão de amor genuíno?

Porém, quando Azula estava em seu estado mais vulnerável e buscava afastá-la com todas as forças que ainds restavam, foi quando Ty Lee teve certeza.

— Azula, eu te amo.

As palavras pareceram congelar o ar por um instante. Azula permaneceu agarrando os joelhos de olhos fechados, mas parou de se balançar. As lágrimas ainda escorriam por suas bochechas.

— Azula, eu te...

— Para.

Azula começou a soluçar e se levantou enquanto assoava o nariz na própria manga. Ty Lee se levantou com ela, sentindo o coração acelerado e as mãos inquietas. As lágrimas já embaçavam sua vista.

— Eu não quero o seu amor — Azula respondeu em voz baixa, finalmente abrindo os olhos para encará-la com as sobrancelhas franzidas — Ele me deixa fraca.

O queixo de Ty Lee começou a tremer.

— Eu...

— Obrigada por tentar. Agora sei que eu sou um caso perdido.

Embora Azula sorrisse de maneira assustadora, as lágrimas não paravam de cair.

— Eu não posso te amar sem me expor a toda essa dor. É horrível — Ela soluçou, arqueando-se para frente — Dói tanto. Eu não quero isso.

Ty Lee não queria ser responsável por tanto sofrimento. Quando ela se deu conta, as lágrimas já estavam pingando do queixo. Azula levantou o rosto e arregalou os olhos ao perceber ela chorando.

— Ei, não chore — Ela secou o rosto de Ty Lee com as mãos — Você vai ficar melhor sem mim.

— Não — Ty Lee tentou balbuciar.

— Eu não tenho os sentimentos de uma pessoa normal. Eu não saberia como te amar. Eu sou cruel.

Ela percebia que Azula acreditava em cada palavra, o que tornava ainda mais doloroso de escutar.

— Azula, por favor.

— Ty Lee, seja uma boa garota. Me deixe ir.

Com a voz autoritária, Azula deu uma ordem que Ty Lee não poderia recusar. Ela beijou o topo da cabeça da florista e foi embora antes que pudesse ser convencida a ficar.

Os joelhos de Ty Lee cederam e ela soluçou até sua mente esvaziar. Até o mundo ao seu redor sumir e ela esquecer o motivo do choro. Mai avisou que Azula partiria o coração dela. Ty Lee sempre soube do risco. Ela sobreviveria. O que a preocupava não era a própria dor, e sim que Azula voltasse a crer que era incapaz de ser amada. Para isso, Ty Lee não estava preparada.

A Serpente em meu JardimOnde histórias criam vida. Descubra agora