XXII. Paixão

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Ty Lee estava eufórica em estar de volta. O ar era mais limpo, os pássaros cantavam, as vozes das irmãs a alegravam. Além disso, tudo era tão melhor com Azula por perto. Ty Lee até mesmo a convenceu a fazer uma caminhada matinal com ela.

— Eu senti tanta saudade do nosso jardim — ela comentou enquanto as duas passeavam por uma sessão de ameixeiras — Pena que não estamos na primavera, mas as plantas invernais são igualmente lindas.

Azula observava tudo em silêncio, na maior parte do tempo. Apesar disso, ela pegou uma ameixa do pé e a encarou.

— Pode comer, se quiser. Eu vivo comendo direto do pé — Ty Lee pegou outra fruta e mordeu para incentivá-la.

Com um pouco de hesitação, Azula mordeu a ameixa. O suco da polpa escorreu pelo queixo dela, mas ela fez um som de agrado e limpou o rosto com a outra mão.

— Está bem doce.

Ty Lee sorriu e continuou a comer a própria ameixa.

— Eu tenho a teoria que comer do pé é mais gostoso, mas não posso comprovar cientificamente. Nós também temos pessegueiros mais à frente.

As duas continuaram caminhando por mais alguns metros até chegarem na borda de um pequeno lago. Ty Lee desviou dos galhos de uma árvore e ajudou Azula a descer a inclinação que levava até ele.

— Aqui é tão lindo — Azula comentou boquiaberta, encarando a paisagem rodeada por árvores e montanhas.

— Podemos dar um mergulho se você quiser.

— Eu não trouxe um biquíni.

Ty Lee riu e se sentou perto da beira, segurando os joelhos.

— Isso não é um problema. Por outro lado, a água deve estar congelando. Quem sabe no verão?

Ela se perguntou se Azula iria querer voltar lá no verão. Ty Lee também não tinha como prever sequer se elas ainda seriam próximas até lá. O pensamento a entristecia.

Azula se sentou ao lado dela com o olhar admirado enquanto aves sobrevoavam o lago de raspão.

— É. Quem sabe no verão?

As duas ficaram ali, imóveis, deixando a beleza da manhã de inverno invadir seus sentidos. Ty Lee quis apoiar a cabeça no ombro de Azula, mas temia romper o feitiço.

Quando voltaram para a casa principal, Azula respirou fundo. Elas passaram a noite anterior praticando formas de impressionar os pais de Ty Lee, embora a florista achasse o plano bobo. Os pais dela iriam gostar de Azula de qualquer jeito, mas ela sabia o quanto as aparências importavam para a tatuadora.

— Olá, Sr. e Sra. pais da Ty Lee. É um prazer conhecê-los.

— Azula, não é? Estávamos ansiosos pela sua visita. A Ty Lee falou bastante sobre você — disse o pai.

— Coisas boas, eu espero.

— Ela mencionou que você é uma tatuadora muito talentosa e que é muito elegante. Isso podemos ver — respondeu a mãe, sorrindo.

— Eu agradeço. A Ty Lee foi muito generosa na descrição. Espero não decepcioná-los.

— Então nos fale mais sobre você, Azula. Como vocês se conheceram? Há quanto tempo estão juntas?

Ty Lee engasgou com o suco, que quase saiu pelas narinas. Azula a encarou confusa e boquiaberta. O resto da mesa se entreolhou com constrangimento.

— Pai! Nós não estamos juntas! — Ty Lee esclareceu antes que Azula precisasse.

— Não? Mas... — Ele olhou para as duas, envergonhado — Quando você mencionou que ela viria, eu achei que... Você falava tanto dela.

— Honestamente, nós também pensávamos — disse Ty Woo, gesticulando para as outras irmãs, que assentiram com a cabeça.

— Que bom, Ty Lee. Suas reuniões familiares são quase tão desconfortáveis quanto as minhas — Azula sussurrou para ela, mas não parecia ofendida.

Na verdade, Ty Lee até achou que era uma tentativa de piada.

— Nos perdoe pelo equívoco, Azula. Não queria constrangê-la — O pai de Ty Lee tentou dissipar o climão.

— Ah, tudo bem. Não se preocupem com isso. Eu e a Ty Lee somos muito próximas, então entendo o que levou a essa confusão. Ela foi muito gentil em me convidar, porque sabia que eu ficaria sozinha na cidade.

Ty Lee olhou para Azula, boquiaberta. Ela sabia que para a tatuadora era uma confissão humilhante, mas Azula não perdeu a pose elegante e o sorriso amigável por um segundo.

— Ty Lee tem sido incrivelmente gentil desde que a gente se conheceu, mesmo eu sendo tão difícil no começo — O sorriso de Azula vacilou um pouco — Eu estava passando por um momento complicado, mas ela foi compreensiva e paciente. É por isso que temos uma conexão tão forte.

O coração de Ty Lee bateu mais rápido e ela abriu um sorriso que não as ajudaria a convencer sua família de que não eram um casal. Ela não se importava. Ty Lee estava muito orgulhosa da coragem de Azula.

— Nossa Ty Lee é tão empática assim? Fico feliz — respondeu o pai dela, sorrindo satisfeito.

— E que bom que a nossa filha tem uma amiga tão especial para lhe fazer companhia na cidade grande. Nós ficamos tão preocupados — Completou a mãe.

Eles estavam suficientemente impressionados com Azula, exatamente como Ty Lee havia previsto, e ela sequer precisou mencionar suas inúmeras realizações e conexões importantes.

— E que bom que vocês não estão juntas, afinal. Estávamos pensando que seria constrangedor na festa de sábado. Três dos ex-namorados da Ty Lee já confirmaram presença — comentou Ty Lao.

Ty Lee arremessou uma batata na irmã.

— É, eu percebi o quanto a Ty Lee é popular — respondeu Azula.

O sorriso dela foi minguando assim que os pais de Ty Lee tiraram os olhos de sua direção. A florista continuou a observá-la. Azula quase pareceu triste. Talvez o comentário a tivesse lembrado do dia no bar e feito a tatuadora se sentir insegura novamente. Ty Lee suspirou, porque para ela era insano. Ela não tinha olhos para outra pessoa. Não que Azula precisasse saber disso, mas Ty Lee não era exatamente discreta.

A Serpente em meu JardimOnde histórias criam vida. Descubra agora