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O mês de março havia passado como um borrão para Azula. Era difícil viver quando toda a sua vida tinha sido uma mentira até então. Mesmo assim, um dia ela se levantou e, para seu espanto, o bonsai de cerejeira estava florido.

Azula vestiu um roupão e saiu correndo empolgada. Ela parou ofegante na floricultura de Ty Lee, com um sorriso de orelha a orelha e as bochechas vermelhas por causa do esforço físico.

— Ty Lee! O bonsai!

A namorada a encarou entretida e confusa, antes de cair na risada.

— Ele amanheceu florido?

— Sim!

Ty Lee estava quase tão radiante quanto ela. A florista apoiou o rosto em uma das mãos e olhou para Azula com os olhos brilhando. Era como se Ty Lee estivesse admirando as flores de cerejeira através do rosto dela.

— Que bom. Eu acho que é um sinal.

— Como assim? — Azula aproveitou para recuperar o fôlego.

— É a primeira semana da primavera. Tudo tá extra florido. Eu ia passar no seu apartamento hoje pra te convencer a se matricular no supletivo.

Azula arregalou os olhos. Ela andava pensando muito naquilo, mas nunca teve forças de realmente ir atrás. Ty Lee esteve pesquisando por causa dela?

— Se você for comigo, tudo bem.

Ty Lee riu novamente.

— Você não vai trocar de roupa primeiro?

Só então Azula percebeu que havia saído de casa apenas com um pijama de seda vermelho e um roupão preto estampado. Ela nunca saía de casa sem se certificar de que estava impecável. Azula corou como se tivesse comido o fruto do conhecimento e percebesse enfim o quanto estava indecente.

— Eu... eu...

— Eu gostei, mas imagino que você prefira algo mais formal — Ty Lee respondeu, tentando relaxá-la — Vamos, eu te acompanho.

— Espera. Vamos passar no meu estúdio primeiro.

Ty Lee franziu as sobrancelhas. Azula pretendia trabalhar de pijama? Talvez ela tivesse caído da cama ao acordar? Ela teria que verificar se fosse o caso de uma concussão.

Azula abriu a porta da floricultura e atravessou a rua. June já estava no interior da loja, folheando uma revista até dar o horário comercial. Ty Lee a seguiu sem entender o que estava acontecendo.

— June. Ótimo. Me tatue — Azula ordenou, fazendo a outra tatuadora erguer a cabeça.

— Bom dia pra você também — June respondeu sem qualquer mudança de humor — Ah, oi, Ty Lee!

Ty Lee apareceu na porta logo atrás de Azula e acenou para ela.

— Bom dia, June! — A florista virou a cabeça para encarar a namorada — Uma tatuagem? A essa hora? Você já tomou café da manhã?

— Não — Azula respondeu elétrica e se sentou na cadeira de tatuagem — E aí? Vamos?

June suspirou e fechou a revista.

— Ok. Eu adoro ganhar dinheiro, então...

Azula retirou o roupão e estendeu o braço onde a tatuagem de serpente já estampava a pele. Ela começou a instruir June sobre o que queria enquanto a outra tatuadora fazia o stencil. Ty Le roeu as unhas ao saber que ela estava em jejum e mandou mensagens de texto.

Uns dez minutos depois, quando Azula se preparava para pagar e June começava a separar as tintas, tio Iroh entrou no estúdio com um chá e bolo.

— Bom dia, meninas — Ele as cumprimentou sorridente até seus olhos encontrarem June — Azula, você nunca mencionou que trabalhava com alguém tão...

— É, eu sei. Encantadora — June respondeu — Azula nunca mencionou um avô.

Iroh começou a rir, sem se ofender com as palavras da mulher bonita.

— Tio, na verdade. Você é engraçada também — Ele respondeu, claramente enfeitiçado.

Azula estava tão de bom humor que sua única reação àquilo foi uma veia pulsando em sua testa. Ela agarrou o copo de chá e virou todo o conteúdo de uma vez.

— Bom dia, tio. O que faz aqui?

— Sua namorada me disse que você pretendia se tatuar em jejum e me pediu para trazer comida. Ela é muito atenciosa.

Azula olhou para Ty Lee, que corou e virou o rosto. Ela era tão fofa, mesmo sem tentar ser. Azula sorriu sem perceber. Ela era tão sortuda.

— O que vai tatuar? São flores? — Tio Iroh perguntou enquanto se aproximava.

— Flores de cerejeira — Azula respondeu — Ao redor da serpente, para simbolizar recomeço.

— Gosto disso — O velho aprovou sorrindo — Algum motivo específico?

Azula amoleceu enquanto comia o bolo. A barriga dela estava mesmo prestes a roncar de fome. Fazer uma tatuagem em jejum era pedir para a pressão baixar.

— Eu vou me matricular hoje no supletivo. Vou terminar meus estudos.

Ela olhou para os olhos do tio e encontrou orgulho. Ele estava orgulhoso dela. Azula congelou e sentiu os olhos arderem, mas se recusou a ficar emocional por algo tão bobo.

— Você irá longe, Azula — Tio Iroh respondeu.

— É, eu sei — Ela reclinou a cabeça na cadeira de tatuagem.

June terminou de higienizar o equipamento e colocar as luvas.

— Pronta?

— Hum.

Azula procurou Ty Lee e estendeu o outro braço na direção dela. Ty Lee pareceu surpresa, mas foi até ela e segurou a mão estendida.

— Pronta.

June começou então a traçar a primeira flor de cerejeira.

A Serpente em meu JardimOnde histórias criam vida. Descubra agora