XLI.

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Zuko detestava tardes como aquela. Mesmo assim, ele era incapaz de abandonar o pai que tanto o maltratou. Além de Zuko, ninguém visitava Ozai, e isso lhe causava pena. Ele sempre trazia chá e tentava conversar com o pai, embora quase nunca fosse agradável.

— Pai, preciso do seu conselho.

Ozai pareceu ignorá-lo enquanto dava seu primeiro gole, sem pressa alguma.

— Esse chá está frio demais — Ozai reclamou.

A família de Zuko gostava de suas bebidas fervendo. Mesmo assim, ele ignorou o pai e apenas o encarou até que respondesse seu pedido. Ozai suspirou.

— Você quer o meu conselho? Eu te avisei que esse dia chegaria.

— Talvez eu só queira saber o que você faria para fazer o oposto.

Ozai riu com desdém.

— Isso não é forma de pedir minha ajuda.

Zuko resolveu deixar o orgulho de lado. Alguém tinha de fazê-lo.

— Por favor. Não tenho a quem recorrer nessa questão.

O pai levantou o olhar para encará-lo.

— Em que exatamente você precisa de conselho?

Zuko respirou fundo.

— Eu me formo dentro de alguns meses e tenho recebido algumas propostas de emprego. Uma delas é para retomar os negócios da família — Ele encarou o pai com cautela antes das palavras que seguiriam — Os negócios que você teve que deixar de lado. Primeiro por virar governador, ao menos no papel, e de novo quando foi preso.

Ozai entrelaçou as mãos diante do rosto, em reflexão.

— Eu sempre te achei fraco demais para os negócios ou para a política — Ele começou — Você sempre foi muito inseguro, indeciso, desinteressado em conflitos. Tanto a política como os negócios sempre foram como nadar em um tanque de tubarões. Se você se importar muito com moral, vai ser devorado. Nesse sentido, eu sempre preferi que Azula me sucedesse.

Zuko cruzou os braços e franziu a testa. Ele já estava acostumado a ser inferiorizado pelo pai. Quase não o afetava mais.

— Isso não me ajuda muito.

— É apenas a verdade — Ozai continuou — Sua mãe te amoleceu demais.

— Minha mãe me deu amor quando você foi incapaz de dar. Ela me criou para ser uma boa pessoa. Diferente de você — Zuko retorquiu, tentando manter a compostura.

— Ah, mas ela não está mais aqui, está?

— Porque você a fez ir embora. Sei que o senhor ainda se lembra.

— E por que ela não te procurou depois que eu fui preso?

Ozai queria provocá-lo. Zuko sabia disso. Infelizmente, ele não conseguia conter as próprias emoções. Conversar com o pai era sempre um erro.

— Se vamos jogar esse jogo, por que sua filha favorita nunca vem te visitar?

A resposta de Zuko retirou o sorriso arrogante do rosto de Ozai. Ele comprimiu os lábios e se inclinou para trás, para longe do filho.

— Você nem sabe se a sua irmã está viva.

— Ah, eu sei sim. Azula voltou há vários meses. Ela ainda não veio te ver? Que estranho. Minha irmã já me visitou várias vezes.

Agora era Zuko quem sorria triunfante e se inclinava na direção do pai, cuja expressão azedava a cada segundo.

— Onde está Azula?

— Onde está a minha mãe?

Ozai riu com escárnio. Zuko engoliu a seco.

— Você quer mesmo saber? Ela formou outra família e esqueceu de vocês.

— Isso é mentira. Você só quer tentar me colocar contra a minha mãe por vingança.

— Você pode verificar com seus próprios olhos. Eu sei onde ela mora. Sei até mesmo que teve outra filha.

Zuko o encarou com espanto. Ozai voltou a sorrir. Ele sabia que estava com a faca em mãos e pretendia girá-la na ferida de Zuko quantas vezes pudesse.

— Sobre o conselho que você tanto quer — Ozai continuou — Da próxima vez, tome as próprias decisões e confie nelas ao invés de ser fraco. Esse é o meu conselho. Não espere que os outros resolvam os seus problemas.

Zuko se levantou cerrando os punhos, determinado a ir embora e nunca mais voltar. Se ficasse por mais tempo, derramaria chá gelado em cima de Ozai, o que não o deixaria menos angustiado, mas certamente seria satisfatório. Tio Iroh teria que perdoar seu retrocesso espiritual.

— Como está Azula?

O tom de voz de Ozai mudou ligeiramente. Era quase imperceptível.

— Ela parece bem melhor sem você — Zuko respondeu entre os dentes.

— Se você pedir para ela me visitar, eu te dou o novo endereço da sua mãe.

Zuko parou onde estava e estudou o rosto e as palavras de Ozai. Ele sabia que já havia perdido quando começou a considerar a proposta.

A Serpente em meu JardimOnde histórias criam vida. Descubra agora