LV.

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Quando Zuko a procurou para relatar o acontecido, Katara sentiu o coração apertar. Era impossível não lembrar da última vez. A vez que a fez ter empatia por Azula.

Katara lembrava vividamente de cada detalhe, mesmo os que Zuko havia esquecido. Ela bem que gostaria de esquecer também. Azula tinha um olhar perdido quando a encontraram. O espelho atrás dela estava quebrado. Muitos anos de azar...

Zuko tentou dialogar, apesar de Katara alertá-lo. Azula não parecia em condições de ter uma conversa. Ela começou a rir de uma maneira que assombrava Katara em seus pesadelos. Foi só quando a discussão escalou e Azula partiu para cima do irmão com um pedaço de vidro, que Katara se viu forçada a intervir. Ela não soube dizer como conseguiu imobilizar Azula, senão graças à adrenalina.

Imobilizada contra o chão, Azula começou a gritar. Ela se debatia de maneira violenta, sem se importar com a própria integridade física. O coração de Katara quis sair pela boca e ela não tinha certeza se iria conseguir manter Azula imóvel. A garota poderia se machucar ou machucar outras pessoas. Por causa disso, Zuko chamou uma ambulância.

Quando a irmã foi levada para um hospital psiquiátrico, ele se sentiu muito culpado. Zuko sentia como se tivesse enviado ela para uma prisão. A situação estava fora do controle deles. Azula ficou dias sem voz de tanto gritar. Os médicos avisaram a família que ela estava num episódio de psicose. As alucinações foram novidade até para Zuko.

— Eu achei que ela tava melhorando, Katara. Eu sabia que ela não estava pronta para ver a mamãe e eu queria esperar o momento certo, mas... como eu ia saber que ela estaria em casa?

— Zuko, você não tinha como saber.

— A culpa é toda minha. Eu insisti que a mamãe e a Kiyi viessem comigo pra cá. Eu queria que elas vissem o tio Iroh.

— Ninguém poderia ter previsto nada disso.

Katara queria entender o lado de Azula. Ela queria muito. Porém, Katara daria de tudo por uma chance de rever a própria mãe. Ela nunca saberia o que motivava alguém a rejeitar o toque materno.

— Eu sei que você odeia a Azula. Eu sinto muito por trazer esse assunto até aqui. Acontece que eu precisava falar com alguém que entendesse as crises dela. Alguém que tivesse visto.

— Eu não odeio a Azula.

A admissão surpreendeu até mesmo Katara. Ela sabia que era rancorosa, e aquilo não significava que perdoaria Azula tão fácil. Por outro lado, Katara não queria que ela sofresse. Katara sentia que seria mais feliz se conseguisse perdoar Azula e, para isso, Azula precisava se curar também. Talvez fosse a influência de Aang, mas Katara sentia que, mesmo antes dele, ela era incapaz de realmente desejar o mal para alguém, por mais que quisesse.

— O que você acha que devo fazer? — Zuko suplicou por ajuda.

— Você disse que a Ty Lee fazia bem a ela. Por que não pede por ajuda?

Zuko baixou a cabeça.

— Quando eu vi a Azula indo embora, eu entrei em casa e encontrei a Ty Lee chorando. Pelo que eu entendi, a Azula terminou com ela.

Katara franziu a testa.

— E se elas se reconciliarem? Eu ajudaria mais se soubesse como. Não consigo prever as reações da Azula — Ela respondeu.

Zuko respirou fundo e sorriu para Katara, agradecido.

— Eu vou tentar. Obrigado por me ouvir. Você é uma boa amiga.

Quando Zuko foi embora, Katara deu um longo suspiro. Ela tinha esperança que, daquela vez, Azula havia mudado o suficiente para perceber a coisa certa a se fazer por conta própria. Eles teriam que esperar para ver. Da janela, a primavera contribuía para o otimismo de Katara. Ninguém conseguiria permanecer de coração partido numa estação tão bonita.

A Serpente em meu JardimOnde histórias criam vida. Descubra agora