Azula detestava acordar cedo. Ela passou quinze anos acordando cedo todos os dias com o relógio biológico de um soldado. Depois que sua vida virou de ponta cabeça, não fazia mais sentido se levantar da cama. Por isso, ela não chegava no estúdio assim que abrisse a não ser que tivesse algum cliente marcado para aquele horário. Naquele dia, acordar cedo veio a calhar, pois o céu ainda não estava nublado quando Azula saiu de casa e, portanto, ela conseguiu evitar a chuva.
Estranhamente, a garota das flores, que sempre estava arrumando a vitrine da loja e acenando para Azula quando ela passava, não estava lá daquela vez. O mistério não despertou muito interesse nela, que concluiu que a moça deveria ter amanhecido doente. Azula focou em posicionar o stencil corretamente em seu cliente, e permitiu até mesmo que o som da chuva a relaxasse. Ela tinha ombros muito tensos.
Quando o som da chuva intensificou, Azula levantou o olhar para observar a água através da porta de vidro do estúdio. Enquanto ela organizava suas tintas e agulhas, Azula avistou a pobre florista descer ensopada de uma bicicleta, tentando inutilmente se proteger com o casaco. A garota tentou abrir a porta da própria loja, mas ela estava trancada. Após apalpar todos os bolsos inúmeras vezes, a florista parecia prestes a chorar. Azula quase teve pena, mas seu foco estava reservado para seu ofício.
— Mantenha o braço parado — Ela alertou o cliente, prestes a começar o serviço.
Felizmente, a agulha ainda não havia encostado na pele dele quando o barulho da porta cortou a concentração de Azula. Ela virou o rosto incrédulo para encarar a figura que agora estava encharcando seu tapete de boas vindas. O cabelo castanho da florista estava grudado em sua testa e bochechas, por onde o rímel havia escorrido, e a pobrezinha tremia de frio tentando torcer a água de suas roupas.
— Eu... Mil perdões. Eu posso ficar aqui até a chuva passar? — A menina quase implorou de joelhos.
Azula a encarou, abrindo e fechando a boca sem emitir som. June, uma de suas sócias, foi quem respondeu à pergunta.
— Claro que pode. Você se afogaria lá fora — Ela encontrou e ofereceu uma toalha para a florista — Não é uma toalha grande, mas ajuda a se secar. Melhor do que pegar hipotermia, não acha?
A garota agradeceu e começou a se secar enquanto o queixo batia de frio. Azula ficou aliviada de poder se livrar de uma interação, e retomou seu trabalho. Ela concluiu que poderia ignorar a florista até a chuva passar e que não havia motivo algum para se irritar.
— Eu me chamo Ty Lee, aliás — A garota tornou a falar — Nos conhecemos de vista. Qual o seu nome?
Azula não respondeu.
— Err... Bela tatuagem — Ela gesticulou para o antebraço de Azula — E, bom, essa que você está fazendo também.
A pálpebra de Azula tremeu. A chuva estava mais ruidosa do que antes, e o estúdio dela também.
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Música: the girl i haven't met - kudasai

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A Serpente em meu Jardim
Romance[CAPÍTULOS SEGUNDA, QUARTA E SEXTA] Uma energética florista se muda para a cidade grande e se encanta com a fria e atraente tatuadora com tatuagem de serpente que trabalha do outro lado da rua. Cafeterias, casas de chá e flores por todos os lados cr...