XLIX.

137 22 0
                                        

Por duas semanas após visitar o pai, Azula esteve um desastre. Tirando sexo, ela não parecia ter muita energia para nada, muitas vezes apenas se trancando no próprio quarto para encarar o teto. Ty Lee não sabia exatamente o que fazer ou dizer já que elas não conversavam sobre a reunião.

A preocupação a atormentava durante mais um turno na floricultura, quando Azula a surpreendeu com uma visita. Para a felicidade de Ty Lee, ela parecia bem disposta.

— Bom dia! Eu vim trazer o seu presente — Azula anunciou.

— Meu presente?

Ty Lee abaixou o arranjo em que trabalhava e contornou a bancada. Ela não sabia qual era a ocasião.

— Hoje faz um mês do dia dos namorados, então eu te arranjei um presente.

— Ah. Azula, não precisava.

Ignorando as palavras dela, Azula tirou as mãos das costas para revelar um pequeno pacote de presente. Ty Lee não tinha como recusar. Ela segurou a caixa com entusiasmo.

— Esquece o que eu disse. Precisava sim!

Ao abrir a caixa, Ty Lee se maravilhou com uma delicada e intrincada gargantilha de ouro com desenhos de flores. Ela aparentava ter custado muito dinheiro. Ty Lee admirou cada detalhe da peça contra a luz e se sentiu prestes a cair no choro.

— Posso colocar em você? Pensei que combinaria com as tatuagens e... seu colar de leque também.

Ty Lee segurou o pingente de leque que havia ganhado de Suki e sorriu. Ela nunca tiraria nenhum dos dois do pescoço.

— Pode sim. Por favor.

Azula aproveitou a deixa e ajudou Ty Lee a vestir a joia. Era o presente mais perfeito que a florista já tinha ganhado. Ty Lee se virou e beijou a namorada em agradecimento.

— Eu amei muito. Obrigada. Obrigada!

Azula riu, satisfeita. Ela parecia aliviada.

— Eu fico feliz que tenha gostado. Não foi fácil achar o presente perfeito.

— Não me diga que você gastou muito com ele — Ty Lee franziu a testa. Ela não merecia tanto assim.

Azula balançou a cabeça com um sorriso.

— Não se preocupa com isso. Eu nunca te daria menos do que o que você merece.

Ty Lee queria gritar "eu te amo". Ela já tinha certeza daquilo. Mesmo assim, algo a impedia. Não porque tivesse orgulho demais para ser a primeira a dizer. Talvez Azula não estivesse pronta para ouvir. A tatuadora sequer dizia "eu gosto de você" ainda. Ty Lee suspirou e escolheu apenas abraçá-la.

— Eu estive preocupada com você esses dias. Que bom que você parece melhor — Ela disse no pé do ouvido de Azula.

Ty Lee sentiu a namorada apertar o abraço. Azula suspirou.

— Ver meu pai não foi fácil. Eu sabia que não seria fácil. Se fosse em qualquer outra época, eu terminaria aceitando o dinheiro dele — Azula confessou.

— Ele te ofereceu dinheiro?

Azula quebrou o abraço para poderem conversar sobre o assunto. Ela olhou nos olhos de Ty Lee com uma expressão de remorso.

— Sim, para meus estudos. Foi muito tentador. Eu sinto falta de ter dinheiro, de ter poder... Ele deve saber disso, porque somos iguais.

— Não, vocês não são.

Os lábios de Azula se comprimiram e ela baixou os olhos.

— Todos sempre disseram que eu puxei ao rosto da minha mãe e ao caráter do meu pai.

Ty Lee colocou uma mecha do cabelo de Azula atrás da orelha dela com afeição.

— Você tá mudando.

— Talvez — Azula não negou — De todo jeito, eu não teria começado a mudar se não fosse por você.

Dessa vez, Ty Lee pousou a mão no ombro de Azula e desviou o rosto.

— Você me dá crédito demais. O mérito é todo seu.

— Eu sei — Azula concordou — Mas eu escolhi fazer isso por você.

— Por quê?

— Porque você viu algo de bom em mim.

"Eu te amo".

"Eu te amo, eu te amo, eu te amo".

Era só abrir a boca e deixar as palavras saírem.

— Eu percebi que meu pai não tinha as melhores intenções para mim. Meu pai me fez acreditar que eu estava sempre certa e que todos que me repreendiam eram meus inimigos.

Ty Lee inspirou fundo.

— Obrigada. Por me admirar mesmo quando eu não tinha muitas qualidades. Por me mostrar que eu sou capaz de mudança. Por perdoar o meu passado.

Azula olhou nos dela com profunda gratidão e afeição. Ty Lee sentiu a vista embaçar. Ela queria dizer aquelas três palavras mágicas, mas também queria que Azula fosse capaz de reciprocar. As duas estavam quase lá. O sentimento que já existia era certamente genuíno.

— Obrigada por me permitir fazer tudo isso.

Ty Lee respondeu encostando a testa com a dela. Até estar pronta, ela encontraria outras maneiras de dizer "eu te amo", na esperança de que Azula entendesse o significado oculto.

A Serpente em meu JardimOnde histórias criam vida. Descubra agora