Por duas semanas após visitar o pai, Azula esteve um desastre. Tirando sexo, ela não parecia ter muita energia para nada, muitas vezes apenas se trancando no próprio quarto para encarar o teto. Ty Lee não sabia exatamente o que fazer ou dizer já que elas não conversavam sobre a reunião.
A preocupação a atormentava durante mais um turno na floricultura, quando Azula a surpreendeu com uma visita. Para a felicidade de Ty Lee, ela parecia bem disposta.
— Bom dia! Eu vim trazer o seu presente — Azula anunciou.
— Meu presente?
Ty Lee abaixou o arranjo em que trabalhava e contornou a bancada. Ela não sabia qual era a ocasião.
— Hoje faz um mês do dia dos namorados, então eu te arranjei um presente.
— Ah. Azula, não precisava.
Ignorando as palavras dela, Azula tirou as mãos das costas para revelar um pequeno pacote de presente. Ty Lee não tinha como recusar. Ela segurou a caixa com entusiasmo.
— Esquece o que eu disse. Precisava sim!
Ao abrir a caixa, Ty Lee se maravilhou com uma delicada e intrincada gargantilha de ouro com desenhos de flores. Ela aparentava ter custado muito dinheiro. Ty Lee admirou cada detalhe da peça contra a luz e se sentiu prestes a cair no choro.
— Posso colocar em você? Pensei que combinaria com as tatuagens e... seu colar de leque também.
Ty Lee segurou o pingente de leque que havia ganhado de Suki e sorriu. Ela nunca tiraria nenhum dos dois do pescoço.
— Pode sim. Por favor.
Azula aproveitou a deixa e ajudou Ty Lee a vestir a joia. Era o presente mais perfeito que a florista já tinha ganhado. Ty Lee se virou e beijou a namorada em agradecimento.
— Eu amei muito. Obrigada. Obrigada!
Azula riu, satisfeita. Ela parecia aliviada.
— Eu fico feliz que tenha gostado. Não foi fácil achar o presente perfeito.
— Não me diga que você gastou muito com ele — Ty Lee franziu a testa. Ela não merecia tanto assim.
Azula balançou a cabeça com um sorriso.
— Não se preocupa com isso. Eu nunca te daria menos do que o que você merece.
Ty Lee queria gritar "eu te amo". Ela já tinha certeza daquilo. Mesmo assim, algo a impedia. Não porque tivesse orgulho demais para ser a primeira a dizer. Talvez Azula não estivesse pronta para ouvir. A tatuadora sequer dizia "eu gosto de você" ainda. Ty Lee suspirou e escolheu apenas abraçá-la.
— Eu estive preocupada com você esses dias. Que bom que você parece melhor — Ela disse no pé do ouvido de Azula.
Ty Lee sentiu a namorada apertar o abraço. Azula suspirou.
— Ver meu pai não foi fácil. Eu sabia que não seria fácil. Se fosse em qualquer outra época, eu terminaria aceitando o dinheiro dele — Azula confessou.
— Ele te ofereceu dinheiro?
Azula quebrou o abraço para poderem conversar sobre o assunto. Ela olhou nos olhos de Ty Lee com uma expressão de remorso.
— Sim, para meus estudos. Foi muito tentador. Eu sinto falta de ter dinheiro, de ter poder... Ele deve saber disso, porque somos iguais.
— Não, vocês não são.
Os lábios de Azula se comprimiram e ela baixou os olhos.
— Todos sempre disseram que eu puxei ao rosto da minha mãe e ao caráter do meu pai.
Ty Lee colocou uma mecha do cabelo de Azula atrás da orelha dela com afeição.
— Você tá mudando.
— Talvez — Azula não negou — De todo jeito, eu não teria começado a mudar se não fosse por você.
Dessa vez, Ty Lee pousou a mão no ombro de Azula e desviou o rosto.
— Você me dá crédito demais. O mérito é todo seu.
— Eu sei — Azula concordou — Mas eu escolhi fazer isso por você.
— Por quê?
— Porque você viu algo de bom em mim.
"Eu te amo".
"Eu te amo, eu te amo, eu te amo".
Era só abrir a boca e deixar as palavras saírem.
— Eu percebi que meu pai não tinha as melhores intenções para mim. Meu pai me fez acreditar que eu estava sempre certa e que todos que me repreendiam eram meus inimigos.
Ty Lee inspirou fundo.
— Obrigada. Por me admirar mesmo quando eu não tinha muitas qualidades. Por me mostrar que eu sou capaz de mudança. Por perdoar o meu passado.
Azula olhou nos dela com profunda gratidão e afeição. Ty Lee sentiu a vista embaçar. Ela queria dizer aquelas três palavras mágicas, mas também queria que Azula fosse capaz de reciprocar. As duas estavam quase lá. O sentimento que já existia era certamente genuíno.
— Obrigada por me permitir fazer tudo isso.
Ty Lee respondeu encostando a testa com a dela. Até estar pronta, ela encontraria outras maneiras de dizer "eu te amo", na esperança de que Azula entendesse o significado oculto.

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A Serpente em meu Jardim
Romance[CAPÍTULOS SEGUNDA, QUARTA E SEXTA] Uma energética florista se muda para a cidade grande e se encanta com a fria e atraente tatuadora com tatuagem de serpente que trabalha do outro lado da rua. Cafeterias, casas de chá e flores por todos os lados cr...