Zuko não hesitou em compartilhar os eventos do breve reencontro com o tio. Ele relatou que Azula aparentava estar mais estável, porém ácida como sempre. Algo no olhar dela o preocupava secretamente, mas Zuko não sabia dizer o que era.
— Ela sente a sua falta — Iroh respondeu quando ele acabou.
Tio Iroh era quase tão insano quanto era sábio. Zuko o encarou, perplexo.
— Ainda estamos falando da Azula.
— É, eu sei.
— O primeiro comentário dela após anos separados foi para me insultar. Tem certeza que estamos falando da Azula?
O tio deu um tapa no próprio joelho enquanto caía na risada. Talvez insanidade corresse nas veias da família.
— Ela tentou agir como nos velhos tempos. Isso é sinal de que sente sua falta.
Zuko cruzou os braços com raiva. Ele não sentia falta dos velhos tempos ou de como a irmã costumava tratá-lo. Se era isso que Azula buscava, ele não estava disposto a se submeter ao pedido.
— Entendi. Eu devo ficar feliz que a Azula ainda gosta de me humilhar?
Tio Iroh parou de rir. O rosto dele voltou a exibir a pontada de tristeza que Zuko odiava presenciar.
— Eu vou tentar falar com ela — disse o velho.
Zuko não achava uma boa ideia, mas não iria impedir o tio. Ele não achava que ninguém no planeta fosse capaz de mudar Azula. Talvez fosse melhor que colocassem um rastreador no pulso dela, tal como faziam os biólogos, apenas para saberem se ela estava viva. Então, cada um tomaria o próprio rumo.
— Boa sorte com aquela garota.
Iroh colocou uma mão no joelho do sobrinho.
— Acredite, sei como é lidar com um irmão que te odeia.
Ele abriu um sorriso triste e Zuko sentiu uma pontada de angústia no peito.
— O que o senhor pretende fazer?
O velho se levantou e alongou o corpo. Zuko observou o tio, que nunca tinha pressa para responder suas perguntas.
— Unir minha família, se possível — Iroh ponderou mais um pouco — Quantas pessoas eu conseguir, pelo menos.
Os amigos de Zuko não ficaram felizes com a novidade. Ainda assim, estavam preocupados com ele. Estavam dispostos a deixar o passado com Azula de lado para focar no que era melhor para Zuko. O maior papel deles era fornecer apoio ao amigo.
— Sei não. Vocês lembram o que aconteceu da última vez que o Iroh tentou conversar com a Azula — comentou Sokka com o grupo.
Azula teve uma das piores explosões que Zuko havia presenciado e fugiu na mesma madrugada. Ela levou consigo o máximo de itens de valor que podia. Iroh e Zuko não se importavam com aquilo. Eles tentaram localizá-la e trazê-la para casa sem sucesso. As buscas esfriaram em poucas semanas, mas só tiveram que ser oficialmente suspensas quando o aniversário de dezoito anos de Azula passou. Naquela altura, os dois só queriam qualquer confirmação de que Azula estava viva. Era especialmente esquisito que a filha de uma figura pública conseguisse sumir do mapa daquele jeito.
— Talvez a gente devesse falar com a Ty Lee de novo. Ela saberia dizer se a situação está se encaminhando para uma catástrofe — sugeriu Zuko.
— Então você vai lá falar com ela de novo? — Aang indagou.
Zuko negou com a cabeça.
— Já esbarrei com Azula uma vez. Não vou correr esse risco de novo.
— Eu posso ir — Sokka se ofereceu — Hã... Mas eu nunca conheci a garota. Pode ser esquisito.
— É só dizer que você é um amigo do Zuko. Às vezes, o melhor plano é o plano menos complicado — Katara interveio.
Ninguém protestou. Sokka fazia o maior sentido para a abordagem naquele momento. Katara odiava Azula, Toph não tinha muito jeito com pessoas e Aang também tinha medo de topar com Azula no campus. Então ficou decidido.
No dia seguinte, eles aguardaram por Sokka a umas duas quadras de distância. O rapaz terminou voltando bem antes do que esperavam.
— O que houve? Algo deu errado? — Zuko perguntou.
— Vocês vão ter que mandar outra pessoa. Aquela garota não parava de dar em cima de mim — Sokka apontou na direção do campus da faculdade — Mas que fique bem claro: eu disse que tenho namorada.
— Sokka, qual é? — Katara revirou os olhos — Vai logo terminar o serviço.
— Nananinanão. Você diz isso porque não tava lá — Sokka colocou as mãos na cintura — Ela ficou passando a mão no meu cabelo e dando risadinhas. Você acha que a Suki gostaria disso?
— Sokka, você não tá traindo a Suki. Você tá extraindo informações valiosas para impedir uma crise familiar — Katara o relembrou com um peteleco — Quem mais você acha que pode ir lá?
— Eu posso — Toph ergueu a mão empolgada.
Todos recusaram em uníssono.
— Ei! O que me torna uma opção tão ruim assim? — Ela cruzou os braços.
— Toph, primeiramente, como você acharia a Ty Lee na multidão sem nunca ter ouvido a voz dela? — Sokka apontou — Não é como se você tivesse visto o rosto dela também.
Katara deu uma cotovelada no irmão.
— Eu já entendi — Toph grunhiu — Que missão mais chata.
— Tem razão. Foi mal, galera. Não foi uma boa ideia vir até aqui importunar a Ty Lee de novo — Zuko se desculpou com eles.
— A gente não se importa de vir até aqui te apoiar. Você é nosso amigo — Aang respondeu.
Zuko abriu um sorriso.
— Obrigado. Mesmo assim, vamos confiar no meu tio e deixar as coisas seguirem seu curso. Se Azula se recusar a colaborar, já será nossa resposta definitiva.
Não havia mais nenhum preparativo a ser feito. Ter uma conversa séria com Azula parecia o mesmo que ir à guerra. O desfecho não precisava ser os três integrando uma família feliz. Zuko tinha certeza que aquilo era impossível. Ele só orava por um pouco de paz.
Tio Iroh trouxe para casa um prato pintado com um lótus branco e acendeu um incenso de alfazema.
— Essa casa precisa de mais proteção e amor — disse então para o sobrinho.
Disso Zuko não discordava.
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A Serpente em meu Jardim
Romantik[CAPÍTULOS SEGUNDA, QUARTA E SEXTA] Uma energética florista se muda para a cidade grande e se encanta com a fria e atraente tatuadora com tatuagem de serpente que trabalha do outro lado da rua. Cafeterias, casas de chá e flores por todos os lados cr...