1° capitulo

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Tóia

  Não preguei os olhos a noite toda, a favela tá em alerta de invasão, temos que estar preparados, pois eles podem invadir a qualquer momento. Eles adoram fazer operação em horário que pai de família tá saindo pro trabalho, crianças indo pra escola, é sempre assim.

   Estava na sala do QG quando o Camargo entra com uma expressão séria, já sei que é problema e já fico bolada.

— Qual foi menor? Ergui a sobrancelha e percebo que ele tá nervoso. — Vamos caralho, passa a visão. - Seu rosto empalidece.

— Pô Tóia o Calebe... - Já olho torto esperando a merda que ele vai dizer. — O Calebe deu pra trás. – Quebrei a caneta que segurava tentando controlar a raiva, olho pro menor a minha frente que me olha com medo.

— Relaxa moleque, a culpa não é sua. - Meu irmão entra na sala tentando acalmar o garoto, ele vem até mim e me dar um beijo na testa. Já disse que eu odeio isso, você ouve? Pois é, nem ele.

— Sacanagem daquele pau no cú! - Me levanto indo me servir com uma dose de whisky. - Mas ele vai ser cobrado tá ligado? - Falo de costas, ele murmura algo que não consigo entender.

— Fala Camargo, quantos ficaram? - O VT pergunta, dou um gole na bebida que desce rasgando.

—10 Chefe. - O Moleque fala. — Com a saída do Calebe, 5 favelas tiraram o nome. - Pego a folha da sua mão vendo os nomes de quem eu vou fazer uma visitinha.

— Temos 10 favelas confirmadas, Tóia. - Dou mais um gole na bebida e volto a me sentar, acendo um beck e levo até a boca puxando a fumaça sentindo meu corpo relaxar. — Fala alguma coisa maninha. - Reviro os olhos e ele ri.

— Se liga mermão, pra essa merda dar certo precisamos de mais 2 favelas. - Solto a fumaça tentando me controlar, sabia que não podia deixar essa merda nas mãos dos outros eu mesmo quem deveria ter tomado a frente, o Calebe pensa que estamos brincando de ser bandido, levanto jogando a bituca no chão e piso apagando. — Vou fazer uma visitinha na Maré, muito tempo sem ir lá. - Meu irmão estreita os olhos e nega com a cabeça. — Nem adianta me olhar assim, malandro quer tirar com a cara de bandido.

— Te falo nada... - Ele nega com a cabeça e se senta revisando alguns papéis, ele já me conhece por isso fica na dele, já o Calebe parece que não me conhece ainda, anos trabalhando juntos e não sabe que odeio de ser contrariada.

  Pego a chave do carro e saio da sala, do lado de fora vejo o Betinho se aproximar, faço um toque com ele.

— Fala tu mermã, de boa? vai aonde?

— Tô de cabeça quente pra caralho maninho, vou fazer uma visitinha pro Calebe. -ele nega com a cabeça rindo.

— Tóia, Tóia não faz nada de cabeça quente. - Mantive minha expressão fechada. — Tu bolada só faz merda.

— Tô Mec. – Ri caminhando ao meu lado, tirando meu irmão só confio nesse filho da puta, mano é cria, sempre fechou comigo.

— Vai sozinha? Confirmei.
— Vamos lá, não vou deixar tu fazer merda não garota. - Ele pega as chaves da minha mão.

— Preciso de babá não garoto, tem prato pra lavar não? - Eu e ele rimos e ele bagunça meu cabelo, ele sabe que eu odeio que toquem no meu cabelo. — Depois a ciumenta da sua namorada fica me olhando de cara feia. - Paro do lado do carro. — Avisa a ela que se ela fizesse meu tipo a pegaria de jeito. - Ele me dar um tapa na cabeça.

— Se liga, talarica do caralho! - nega rindo.

— Muito sem sal. - Entro no carro e ele dá a volta pra sentar no banco do motorista. — Mina do asfalto não dá pra mim não, não entendo o que tu viu naquela garota parece aquelas patricinhas mimadas, muito chata... quer dizer mimada ela é. - Zombo da cara dele. A mina veio do asfalto, filhinha de papai anda por aqui como se fosse a mulher do presidente, destrata morador, aí não dá né cara, odeio mulher assim.

— Ainda vou ver tu de quatro por uma mina toda equipada, parecendo aquelas modelos de revistas internacionais... - Nego, prefiro mina de pé no chão, que corre atrás do seu, não sou muito de sair com essas minas daqui não, prefiro as minas das favelas vizinhas, assim elas não se apegam. A maioria só quer dinheiro e status, por isso pego de fora pra não ter dor de cabeça, as que vem pros bailes atrás de bandido querendo se aparecer e chamar atenção da família passo longe, não quero mulher pra futuro... digo sempre, nunca vou me casar, não nasci pra isso.

  Ele dá partida no carro, vamos descendo bem devagar, conversando sobre o Calebe, as ruas estão muito movimentadas, vejo uma mina do cabelão escuro caminhando na calçada segurando a mão de uma garotinha, a mina tem um corpo de tirar o fôlego e mesmo de costas dá pra notar, bem-vestida, as roupas delas não são vulgar igual as da maioria das minas daqui, deve ser alguma turista, ela acaba entrando em um beco sumindo da minha visão. Paramos na padaria, estou em uma larica do caralho antes mesmo de colocar os pés pra fora do carro os fogos foram lançados, que caralho...

— Que merda, olha a hora que esses filho da puta vem, eles só vem nesse horário, hora que criança tá indo pra escola, trabalhador descendo pro trabalho, são bando de Zé buceta, pego o radinho no bolso.

Radinho on

— O que tá pegando? - Pego minha pistola, caminhando pra trás do carro, o Betinho corre ao meu lado, ele passa umas coordenadas pros moleques.

— Atividade, atividade... - Meu irmão grita do outro lado, os tiros não param, o radinho fica mudo, tento acalmar os ânimos já que se ouve o barulho dos tiros.

— Passa a visão porra, aqui tá limpo, os tiros estão distantes subam pra laje com os fuzis ninguém entra nessa bagaça.

— Fala comigo Tóia... - Ouço a voz do Camargo. — Tá me ouvindo? - Ele fica em silêncio, ouço sua respiração pesada.

— FALA PORRA! - Grito já sem paciência.

— Acho que mataram o VT. - Paraliso, sinto meu peito apertar, o Betinho me olha com receio, ele sabe que posso explodir a qualquer momento.

— CADÊ O MEU IRMÃO, CARALHO? - grito querendo não acreditar nessas porras. — ME RESPONDE CARALHO.

— Calma Tóia...

— CALMA É O CARALHO, ME RESPONDE PORRA CADÊ O MEU IRMÃO.

—Ele...ele foi baleado. - Se nota o medo na voz do moleque.

— Tóia eu não pude fazer nada quando fui ver, ele já estava no chão os tiros vinham de todos os lados. - Agora quem toma a voz é o Faguinho.

— Você tá onde mano? - O Betinho perguntou, eu ainda tô sem reação... ele não pode ter morrido, meu irmão não morreu.

— No beco da 9 cara, o QG foi invadido, eles arrastaram o corpo do VT. - Volto pra realidade, preciso encontrar o meu irmão sei que ele ainda está vivo.

— Quero todos procurando o VT! - Tomo a voz, de longe dá pra ouvir os tiros. —Sobe de cargo quem encontrar o VT, vivo ou...morto. - Sinto minha garganta secar. - Só mais uma coisa, aqui foi fita dada, quem fez isso vai ser cobrado pode esperar, x9 não se cria na minha baixada... - Vejo um movimento estranho, me posiciono quando ouço os tiros cada vez mais próximo.

Radinho off

A trocação de tiro foi intensa, perdemos muitos mas não saímos por baixo, eles queriam dar um recado, temos x9 nessa bagaça, vou descobrir quem é o filho da puta e vou estourar a cara dele.
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