Cutivando-se

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Estou andando pelo corredor extenso, apressadamente. O sol da tarde ilumina as janelas, mas a luz parece distante. Minha mochila quica nas costas, pesada com os livros que peguei da biblioteca quase abandonada da ala estudantil.

-- Jungguk! -- Uma voz feminina me chama, e, instintivamente, olho para trás. Uma garota de cabelos cacheados e azulados vem correndo em minha direção. -- Desculpe por isso, eu sou a Giu. O Yoongi deve ter falado sobre mim.

Ela para à minha frente, respirando rápido, e estende a mão. Hesito por um segundo, mas aperto sua mão.

-- Ah, sim. Ele mencionou você. Você é do batalhão A, certo?

Ela assente com um sorriso breve. Seu rosto pequeno e arredondado combina perfeitamente com o corte proporcional dos seus cachos, como se cada detalhe fosse cuidadosamente equilibrado.

-- Bom, eu não quero tomar muito do seu tempo, mas...

Ela parece hesitar, o olhar desviando por um momento enquanto mordia o lábio inferior, como se estivesse organizando os pensamentos.

-- Pode dizer. -- Quebro o silêncio, incentivando-a a continuar.

Ela suspira, finalmente erguendo os olhos para mim.

-- Eu sei que parece estranho, mas... não consigo parar de pensar em você desde o dia no refeitório, com o Matheo.

Franzo o cenho, confuso.

-- Não entendi.

-- Eu sei que soa estranho. -- Ela balança a cabeça levemente, como se tentasse ordenar suas palavras. -- Nós mal nos conhecemos, mas sinto que precisamos conversar sobre o que está acontecendo por aqui.

Ela olha ao redor, verificando se estamos sozinhos. Sua expressão muda, ficando mais séria, quase cautelosa.

-- O que exatamente você quer dizer com "o que está acontecendo por aqui"? -- pergunto, cruzando os braços, agora intrigado.

Ela dá um passo mais perto, abaixando a voz.

-- Tem algo errado, Jungguk. Algo que ninguém está comentando, mas eu sei que você percebeu também.

Meu estômago revira, e de repente a leveza dos livros nas costas parece um peso insignificante. Algo me diz que essa conversa está prestes a mudar o rumo da minha tarde – talvez até mais do que isso.

-- Eu ainda não entendi.

Ela sorriu. Os olhos redondos da garota, se iguala com a de um coala.

-- O que quero te dizer é, você pode ser um ótimo aliado para um... __ela se aproximou mais de mim, chamando-me com a mão para que eu me abaixasse um pouco até a sua altura. -- "Projeto que eu estou desenvolvendo."

Eu olhei para a garota ainda sem entender nada. Ela entendeu as minhas expressões, e suspirou pesadamente, claramente me achando lerdo.

-- Você pode ser um pouco mais específica...

-- Você é bem devagar mesmo.

Franzi o cenho.

-- Eu sou o quê? -- interrompi, cruzando os braços e estreitando os olhos para ela.

Giu riu, o som leve, mas carregado de ironia.

-- Eu disse que você é devagar. -- Ela repetiu, inclinando a cabeça de um jeito quase desafiador. -- Mas tudo bem, vou tentar explicar de um jeito que você entenda.

Ela abriu a pasta que carregava e tirou de lá um papel amarelado e desgastado, cheio de anotações confusas. As bordas estavam rasgadas, e havia manchas de tinta que pareciam ter décadas.

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