̶,̶R̶e̶s̶p̶o̶s̶t̶a̶s̶ ̶C̶o̶n̶t̶é̶m̶ ̶P̶e̶r̶g̶u̶n̶t̶a̶s̶.̶

Ovacionar.

Já passa das oito horas da noite, e eu ainda estou sentado no banco traseiro do táxi que consegui alcançar pouco tempo atrás. Sei que estou atrasado, mas foda-se, eu passei mal hoje, e ainda sinto dores no meu calcanhar por ter corrido quando o taxista quase me atropelou.

Desço do carro, quando aponto para o endereço que o Taehyung me mandou alguns minutos atrás. Eu deixei bem claro que só jantaria com ele, se o lugar fosse pelo menos bom, caso o contrário, eu votaria para o alojamento, e ele nunca mais veria a minha cara. Mas fui eu quem o procurou para conversar, e sou eu que tenho que o seguir, se quero mesmo ajudar a Giulia a não se ferrar.

De primeira, há um letreiro pregado na varanda do andar de cima, e uma passarela de piso marrom como entrada. Caminhei até a porta de vidro, e me deparei com duas garçonetes de patins, estilo anos 80/90. Elas estão servindo as mesas, agilmente, sem demonstrar nenhum medo de cair ou desequilibrar. Fecho a porta, e quando me viro mais para o lado, encontro Taehyung vestido em uma calça cargo verde folgada, camiseta branca lisa, um casaco moletom verde vusgo repleto de botões, e um sorriso cínico estampado nos lábios vermelhos, e o cabelo ondulado, fazendo a franja junto com o corte caindo sobre a testa, quase nos olhos.

Ele desviou o olhar para o celular, e passou a digitar avidamente.

-- Está atrasado!__ele disse sem olhar para mim, quando me sentei no banco de frente para ele, perto da parede, e o mais afastado e escondido dentre os outros. -- Acha isso certo?

-- E você queria mais o que? Você mudou o endereço duas vezes em menos de quinze minutos, eu tive que correr para conseguir um táxi que me trouxesse até aqui. Eu disse que era para ser um lugar sofisticado, porque não quero que ninguém me veja com você, mas não precisava ser quase do outro lado da cidade.

Ele levantou o olhar para mim, depois voltou a encarar o celular como resposta da minha metralhadora de palavras.

Peguei o cardápio que estava na mesa, e passei a ler calmamente sobre o meu rosto, tapando a visão dele.

-- Já fez o pedido, Julieta?_perguntei.

-- Não, Romeu.

Rolei os olhos. Não sei onde é que eu estava com a cabeça, para ter aceitado a ideia maluca da Giulia de conversar com o idiota do Taehyung. Às vezes eu me arrependo de não seguir o que o Yoongi me aconselha, ele está totalmente contra tudo isso, porque na cabeça dele, eu ainda vou acabar sendo preso por tentar ajudar demais as pessoas daquele lugar.

Chamo a garçonete, que vem patinando com o patins azul cheio de estrelas brilhantes.

-- Eu vou querer uma fatia de bolo pequeno de chocolate e amendoim com um morango por cima, e uma água de limão.__ela sorriu. -- Para equilibrar.

Ela anotou o meu pedido na prancheta, e olhou para o Taehyung.

-- E o senhor? Já sabe o que vai querer?

-- Hm, eu quero o mesmo que o dele.

Ele olhou para mim. Entreguei o cardápio para ela, que sorriu agradecendo e patinou para a cozinha com os nossos pedidos.

O que eu estou fazendo aqui? Essa é a pergunta que martela minha mente enquanto observo Taehyung, sentado à minha frente, com aquele sorriso torto no rosto. Ele está completamente à vontade, como se não estivesse me desafiando a cada segundo com o jeito como fala, com as provocações disfarçadas, como se a tensão entre nós fosse uma brincadeira de criança. Mas eu sei que não é. Ele está testando algo em mim, querendo ver até onde posso ir, até onde posso me perder sem mostrar o quanto isso me afeta. Ele sabe, ele sempre sabe.

Quando ele desvia o olhar para o celular de novo, eu quase respiro aliviado. Não estou pronto para enfrentar o peso daquilo tudo, e talvez, por um momento, eu consiga esquecer que estou ali. Mas então a garçonete chega, e Taehyung, com aquele jeito descomplicado, pede a mesma coisa que eu. Claro, ele quer me imitar, me acompanhar, como se estivesse medindo cada passo meu, só para ver se eu me arrependo de alguma coisa, se eu fico desconfortável. E eu fico. Eu fico, mesmo que não queira admitir.