Estou sentado na minha cama, as mãos nos bolsos e o capuz puxado até os olhos, tentando desaparecer no próprio corpo. Minha mãe caminha de um lado para o outro, com o celular na mão, lendo em voz alta as críticas que recebeu no trabalho sobre mim. Ela faz uma pausa, respira fundo e continua, como se estivesse apenas listando o que ouviu.
— Ele nunca foi um bom exemplo para a irmã... Ele sempre foi muito mimado, adora chamar atenção... Pior...- Ela olha para mim, como se me julgasse de forma silenciosa antes de concluir. — Coitado, foi criado por mãe solteira. Todos sabem que falta um homem para ajustar as coisas da família.
Eu abro a boca para falar, mas ela me interrompe, levantando o dedo em um pedido de silêncio.
— "Continuando...- Ela volta a olhar para o celular, sem notar a tensão que vai crescendo em mim. -- A figura paterna deve ter feito falta. Eu me lembro dele chorando pelos cantos quando era criança. Deve ser por isso."
Meu estômago se vira. Cada palavra dela parece uma lâmina, cortando mais fundo do que eu consigo aguentar. Aquela história sobre a falta de um pai... de novo. Eu já ouvi isso tantas vezes, mas agora, parece que tudo o que eu faço é explicado por isso.
Sinto uma raiva crescente, mas, mais do que raiva, é um desgaste, uma dor abafada. Meus olhos a encaram, mas ela não me vê. Só vê o que os outros disseram, o que ela quer acreditar. A respiração sai pesada e, quase sem pensar, grito, a voz tremendo de frustração.
— Nem chorar uma criança pode mais? Tô fudido mesmo!
O silêncio que fica entre nós é mais pesado do que qualquer grito. Ela não parece notar, como se minhas palavras não fossem nada mais do que um ruído no fundo de sua própria bagunça emocional. E, por mais que eu queira dizer algo mais, não sei nem por onde começar.
— Calado!- Ela gritou, e a palavra ecoou como um golpe no ar. A dor na minha cabeça começou a se intensificar, como se tudo o que ela dizia estivesse me atingindo de forma física. Eu tinha a esperança de que o dia acabaria de um jeito mais tranquilo, mas tudo parece desmoronar diante de mim.
Ela continuou, lendo a tela do celular com um tom frio, como se estivesse falando sobre outra pessoa, não sobre mim.
— Ela se casou novamente porque não conseguiu cuidar do filho sozinha." Pausa. "Soube que o padrasto espancava ele, por isso não se gostam.- Ela olha para mim, como se estivesse me acusando de algo que nunca disse. Mas, antes que eu possa responder, ela segue:
— Deve ter sido muito difícil pra ela. O marido não aguentou tanta pressão e fugiu com outra.
Sinto o peito apertar, a frustração subindo como uma onda. Eu nunca disse nada disso! Mas ela continua sem me ouvir, sem parar, como se eu fosse apenas um reflexo das palavras dos outros.
— Eu nunca disse isso!- Eu tento, mas minha voz sai abafada, cortada pelo dedo dela no ar, pedindo mais silêncio.
Ela não diz nada, apenas olha para mim e se senta na poltrona perto do guarda-roupa, cruzando as pernas como se estivesse se preparando para mais um monólogo. Desliga a tela do celular, mas não parece ter terminado. Os risos saem de seus lábios, irônicos, cortantes. Ela ri, mas parece que está apenas forçando a situação.
— Risos, risos, risos... Engraçado, não? Há. Há. Há.
Queria poder rir, queria poder dizer que aquilo é engraçado, mas sei que não é. Eu sei muito bem o que está acontecendo aqui. Eu e ela sabemos bem que isso não passa de uma piada cruel.
— Mãe, eu...- comece a falar, mas ela me interrompe antes mesmo de terminar a frase.
— Antes que peça desculpas como sempre faz, isso não chega nem na metade do que falam pelas minhas costas. Só para deixar claro, caso você não tenha entendido.- Ela fala de forma ríspida, quase como se tentasse se proteger de algo que nem eu sabia como dizer. Sua voz não tem espaço para arrependimentos, e a dor na minha cabeça só aumenta.
![](https://img.wattpad.com/cover/323076417-288-k23158.jpg)
VOCÊ ESTÁ LENDO
̶,̶R̶e̶s̶p̶o̶s̶t̶a̶s̶ ̶C̶o̶n̶t̶é̶m̶ ̶P̶e̶r̶g̶u̶n̶t̶a̶s̶.̶
Fanfiction"Queridos leitores do meu diário, Sou Jeon Jeongguk, uma alma que carrega sombras e estilhaços de um passado que sempre me acompanhou. Meu pai biológico partiu quando eu era apenas uma criança, deixando em seu lugar um silêncio que nunca soube preen...