Três semanas depois, me sinto mais forte do que antes. Não que seja um grande feito-até uma formiga teria mais resistência do que eu no estado em que me encontrei.
Meus dias de recuperação se resumiram a: me alimentar bem, descansar e, acima de tudo, resistir à vontade de raspar a cabeça da minha irmã. A pirralha, imune ao caos, manteve-se firme na missão de espalhar alegria e, quando conveniente, liberar sua cota de birra. Pelo menos nos últimos dias. No começo, ela parecia determinada a se calar e apenas observar minhas mínimas ações, como se analisasse cada movimento que eu deixava escapar por puro comodismo.
Tudo bem, eu sei que errei. Mas sou um ser humano. A trégua ainda vale?
Na última semana do mês, Giulia veio me visitar. Parecia tão animada quanto um episódio de Bob Esponja-um que, por acaso, passava na TV da sala. Yuna, sentada no chão, assistia com devoção, uma gosma verde no rosto e uma touca de cetim na cabeça. Babava feito uma criança catarrenta durante a abertura do desenho.
- Deixamos flores pra você no hospital, você viu? - ela pergunta, de pé, enquanto me encara. Estou sentado no sofá com um travesseiro pequeno sobre as pernas. - Você nem sequer abriu, né?
- Olha... não.
- Sabia. - Ela revira os olhos e se joga no outro sofá.
- Mas eu gostei.
- Como pode dizer que gostou se nem viu o presente?
Levanto os ombros e faço cara de desentendido. A verdade? Eu até dei uma olhada nos presentes, mas não prestei atenção. Quando voltei pra casa, pedi pra minha mãe trazer o restante das coisas e colocar no meu quarto. Estão lá até hoje, exatamente do jeito que vieram.
Yuna desliga a TV, se levanta e, séria, caminha até a cozinha. Pega um pacote de pipoca no armário e some pelo corredor, sem dizer nada. Giulia apenas observa em silêncio. Eu, por minha vez, fixo o olhar na porta aberta da casa, onde a claridade do sol reluz no tapete sob a mesa de vidro.
- Ela ainda está com raiva?
- Não sei nem do quê. A ideia de suicídio foi tirada da cabeça dela sem nenhuma prova concreta.
- Convenhamos que você também não ajudou, certo? - Encaro seus olhos. - Você teve muito azar no dia do incêndio.
- E eu não sei? - Suspiro. - Já expliquei pra ela que eu não estava lá pra fazer nada do tipo. Fiquei porque queria ajudar os outros, só isso. Mas ela é teimosa... Vai demorar pra acreditar em mim.
Ela ri.
- Não foi só sobre a morte do seu pai. Foi sobre tudo: você ter demonstrado infelicidade pra todo mundo depois que você e Taehyung se separaram... e, logo em seguida, o maldito incêndio. Que, aliás, me deixou famosíssima depois das inúmeras entrevistas que eu dei.
- Uau, que jeito incrível de ficar famosa...
- Pra vencer, é preciso saber empreender.
Sorrio em discordância e nego, em favor da paz. O sonho dela de ser entrevistada foi realizado, mas não da melhor forma.
Conversamos a tarde inteira, e, com a ajuda dela, consegui preparar uma vitamina proteica com tudo que tinha direito. Ela recusou, e no seu rosto dava pra ver a luta do estômago, que se misturava, como um camaleão, à cor esverdeada da vitamina que eu ingeria, cheio de satisfação.
Quando o motorista do aplicativo chegou, encostado na porta da minha casa, olhando pra ela, a mais baixa soltou:
- Já sabe o que fazer a partir de agora? Temporariamente sem o Saves?
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̶,̶R̶e̶s̶p̶o̶s̶t̶a̶s̶ ̶C̶o̶n̶t̶é̶m̶ ̶P̶e̶r̶g̶u̶n̶t̶a̶s̶.̶
Fanfic"Queridos leitores do meu diário, Sou Jeon Jeongguk, uma alma que carrega sombras e estilhaços de um passado que sempre me acompanhou. Meu pai biológico partiu quando eu era apenas uma criança, deixando em seu lugar um silêncio que nunca soube preen...