Ver.

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"Abro os olhos e encaro o teto do quarto. A dor latejante na minha cabeça denuncia o resultado das três garrafas de álcool que devorei ontem. Que ideia idiota.

Depois de uma tarde surreal com minha mãe e minha avó – que, por algum milagre, passaram horas conversando sem gritar – eu achei que tudo estava sob controle. Mas, por volta das duas da manhã, minha avó anunciou que iria embora mais cedo, alegando que estava tudo bem.

Claro que não estava.

Minha mãe ficou... estranha. Não brava, mas também não exatamente tranquila. Era uma mistura confusa de emoções que me deixou inquieto. Decidi ir embora quando a chuva começou a cair. Liul nos trouxe de volta ao dormitório, e Yoongi, que estava comigo, sugeriu fazermos algo "para esquecer as tensões".

"Algo" acabou sendo vodka. Muita vodka.

-- Cara, você tá com uma cara horrível! – Yoongi comenta do outro lado do quarto. Ele está deitado na cama do meu colega de quarto ausente, com os olhos meio fechados e as bochechas rosadas do frio.

-- Você também não está ganhando nenhum concurso de beleza.

Minha garganta está seca, meu estômago vazio, e a dor de cabeça só piora. Sentando na cama, pressiono a testa com a mão, tentando acalmar a pulsação.

-- Também, depois de tudo que você bebeu ontem... Seu fígado deve estar pedindo socorro!

Ele ri, claramente se divertindo com o meu estado lamentável. Yoongi não bebeu nada – uma decisão sábia para alguém com taquicardia. Mas eu não tenho o mesmo autocontrole.

De repente, sinto meu estômago se revirar. Corro para o banheiro e vomito até não restar nada. Fico ali, debaixo do chuveiro, deixando a água quente aliviar minha ressaca. Depois de escovar os dentes, visto uma calça de moletom preta, uma camiseta básica e um boné.

Quando saio, Yoongi está fuçando meu guarda-roupa.

-- Só tem roupa de marca boa aqui. Posso pegar uma? – ele pergunta, olhando para mim.

-- Tanto faz.

-- Tá ignorando, hein? Eu perguntei se eu posso...

-- Sim, Yoongi. Pode pegar.

Ele resmunga algo sobre respostas não verbais enquanto escolhe uma calça que não cabe mais em mim.

-- Valeu, ingrato – digo com um sorriso, ajustando minha mochila.

Seguimos até o refeitório. A fila está enorme, separada entre rapazes e moças por algum motivo absurdo.

-- Por que tem duas filas? – pergunto a Yoongi.

-- Sei lá. Só segue o fluxo.

Espero por alguns minutos, mas a impaciência começa a crescer. Olho para o relógio e bufo.

-- Merda! Tenho que ir – digo, saindo correndo.

-- Vai com Deus, lenda! – Yoongi grita, rindo.

Entro na sala de aula atrasado, o que não passa despercebido. O professor, um homem calvo de camisa xadrez, para de escrever no quadro e me encara.

-- Me desculpe pelo atraso – digo, tentando parecer minimamente decente.

-- Há uma cadeira vazia lá atrás – ele aponta.

Sento-me, enquanto ele continua a aula.

-- Alguém pode me lembrar o que é dopamina? – pergunta o professor, observando a turma.

 ̶,̶R̶e̶s̶p̶o̶s̶t̶a̶s̶ ̶C̶o̶n̶t̶é̶m̶ ̶P̶e̶r̶g̶u̶n̶t̶a̶s̶.̶ Onde histórias criam vida. Descubra agora