Existir.

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Eu posso fingir que estou bem, eu posso fazer isso, e mascarar as minhas fraquezas, com essa pose mais bruta. Eu posso fazer isso,até que o meu cérebro entenda de uma vez, que esse, é o meu jeito certo. Que não sou fraco, nem medroso, como muitos diziam...

É terça feira, verão, estou olhando para a janela inclinada transparente do meu quarto, que dá uma vista para o jardim que ajudei a minha mãe a construi-ló.
Hoje é mais um daquele dia que desejei que tudo parasse, e que por alguns segundos, o tempo me mostrasse que posso descansar a minha mente em um cartão qualquer de alguma câmera.

-- Jungkook! Está na hora.__minha mãe gritou da sala pela terceira vez, para que eu desça e encare a minha falta de coragem.

Peguei a minha mochila, câmera, e caminhei até o carro do Liul parado em frente a casa. Coloquei a minha mochila no porta malas, enquanto a Yuna entra no carro. Liul deu partida, e minha mãe ajeitou-se no banco do passageiro.

-- Quanto tempo eu terei que ficar naquele lugar?__perguntei para a minha mãe, que revirou os olhos.

-- Talvez, hm...dois, três meses. Não sei ao certo, depende.

Yuna gargalhou, eu cruzei os braços.

-- Mas que...-

-- Olha a boca! __Liul repreendeu, me olhando pelo retrovisor.

Faz mais ou menos duas semanas desde que fui atropelado pelo babaca de moto, que claramente, ainda não foi encontrado. Eu fiz a queixa como minha mãe pediu, mas ficou somente nisso, já que ela está mais ocupada com outros casos, do que com o do filho dela.

-- Eu não posso ficar esse tempo todo, lá. Eu tenho uma vida, não posso largar tudo aqui. Não posso.

Minha mãe virou o rosto para me encarar, depois de trocar olhares com o meu padrasto detetive.

-- Você que escolheu esse caminho. Eu te avisei, mas você preferiu bancar o esperto, e sair no meio da noite, como um delinquente maluco.

Eu não fiz nada de errado, só...

Mesmo que ela não saiba o que eu estava fazendo naquela noite, e ela não precisa saber, não acho que isso poderia ter mudado, foi um fato, mas mesmo assim, ela não precisa saber.

Me encolhi mais em meu casaco azul escuro, que me acompanha desde que eu tinha dezesseis anos, e que eventualmente, agora marca mais o meu corpo, já que estou maior de altura e de massa.

E assim, segui a viagem, sem dizer mais nada, e o silêncio terrível, depois de uma discussão, marcou a minha viagem até o hospital de cor creme, com um urso vermelho destacado em um letreiro grande.

Tédio, essa é a minha doença.

-- O alojamento tem quinze andares, e cada corredor, terá vários quartos. Os últimos serão divididos em dóis, mas cada seção será de acordo com cada especialização dos pacientes.

A recepcionista loira dita para a minha mãe, as regras de separação dos alojamentos. Liul está ao seu lado, escutando cada palavra que sai da boca da Barbie falsificada que não parabde digitar no computador. Yuna está sentada no banco mexendo no celular, enquanto eu, estou com a barriga encostada no balcão, bufando de cansaço por cada palavra que escuto.

-- Escutou, Jungkook? Se brigar, levará suspensão. __minha mãe disse assinando o papel. -- E em casa será pior.

-- Voltei para o fundamental?

Liul negou com a cabeça, desaprovando quaisquer atitude minha. Ela respirou fundo e voltou a conversar com a mulher.

Tudo aqui é muito chato e entediante, não há uma cor viva que represente sequer alguma vontade mínima de alguém em sã consciência, queira ficar aqui. Nem a Yuna, que adora saber mais sobre hospitais e essas coisas que para mim são estranhas, quis ficar, e saiu de fininho, apontando para a saída quando a mamãe se interessava cada vez mais pelo hospital. Eu assenti para a pirralha, porque queria fazer o mesmo, mas não posso.

 ̶,̶R̶e̶s̶p̶o̶s̶t̶a̶s̶ ̶C̶o̶n̶t̶é̶m̶ ̶P̶e̶r̶g̶u̶n̶t̶a̶s̶.̶ Onde histórias criam vida. Descubra agora