Pretendo, tudo, poder.

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O cérebro e o estômago estão em conexão, por isso que algumas emoções afetam diretamente o estômago, especialmente a angústia e tristeza.

Foi com isso que a professora nos presenteou ao chegar na sala, e pedir um seminário para a próxima semana. Eu curso Direito, tenho que ler muitos livros online para poder guardar em minha mente, uma só lei. Agora tenho que pensar por dois, já que aqui, nessa sala em específico, as pessoas meio que não me vêem, ou fingem que não existo. Por outro lado, é melhor assim. Me esconder, tem sido a coisa que mais faço. Bem diferente do meu "Eu" antigo, que apesar de ser quieto, não média esforços para chamar atenção esmurrando um intrometido sempre que podia.

Estou sentado na antepenúltima cadeira da segunda fileira do lado esquerdo. Foi a única que sobrou, porque caso eu ainda não tenha feito uma nota mental: os grupos já estão formados nesse local específico.

-- O que foi agora, Kim? - a professora está com um caderno na mão, olhando para o castanho que está na última cadeira da quarta fileira do meu lado direito. -- O que aconteceu agora?

-- Eu só quero saber que horas a aula vai acabar? Preciso ir ao banheiro.

-- Você já foi duas vezes desde que eu cheguei.

-- Sim.

Ela piscou os cílios duas vezes, achando que ele não tenha a escutado, isso arrecadou altas risadas do pessoal da sala.

Taehyung não cala a boca um só momento. Desde que eu cheguei aqui, a voz dele é a única que ousa competir com a da mais velha que por sorte dele, aparenta estar de bom humor, ainda.

-- Fique sentado...e calado.

Escuto risadas do fundo, e um resmungar baixo do castanho.

-- Voltando. - ela diz, calmamente.-- Na Inglaterra do século dezenove, era comum atribuir sentimentos as partes do corpo. O coração por exemplo, seria uma fonte de amor, por bater mais rápido quando estamos apaixonados, visão que permanece até os dias de hoje.

Ela está sentada no birô, com um livro em mãos.

-- Mas nem todos são relacionados aos sentimentos positivos. Para o estômago e intestino, só sobrou coisa ruim: raiva, irritação, medo, nojo...

Eles voltaram a rir outra vez. Estou há um fio de ir embora. Sempre que a professora fala sobre algo assim, Taehyung direciona o olhar pra mim. Por isso, depois de um tempo, coloquei a minha mão no lado direito do meu rosto, deixando o cotovelo apoiado na mesa.

-- É uma notícia falsa? - Jennie, que está sentada na frente de Lisa, perguntou.

-- Sim e não. - a professora respondeu. -- O intestino é um tubo oco cheio de sobra que ocupa mais ou menos trinta e cinco metros quadrados. O intestino libera diferentes hormônios, acreditem.

Eu já ouvi sobre isso em alguma aula vaga do colegial ao qual o meu cérebro não conseguiu captar completamente. Até hoje eu me pergunto do motivo de termos essas aulas, sendo que eu mais me sinto de volta ao fundamental, do que em um Hospital especializado. Tudo bem, eu sei das mentalidades e seus cuidados e tudo mais. Porém mesmo assim, eu crítico. Não há nada de ruim fazer isso.

-- Existe um hormônio chamado GLP1, que funciona como um aviso de que falta pouco para chegar nutrientes no corpo.

-- Como assim? - alguém do fundão perguntou. Não deu pra ver, porque eu não quero ter que olhar para a fileira do Taehyung, que está muito mais estranho do que o normal hoje.

-- No primeiro sinal, os hormônios do intestino, enquanto estamos nos alimentando, o cérebro interrompe a fome que sentimos, e passa a gerar a sensação de saciedade. Ele tenta evitar que a gente se alimente mais do que o esperado. Ele tenta pelo menos.

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