A firmeza.

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No dia seguinte, eu voltei para o meu alojamento, que ainda estou me acostumando a chamá-lo de quarto. Meu quarto.

Nunca pensei que conviver com esses loucos, pudesse me deixar ainda mais louco. Porque antes, eu só convivia com as minhas loucuras, agora tenho que aguentar pessoas dos batalhão acima do meu, gritando, berrando, chorando, rindo, tudo bem alto, para que todos possam escutar. Pior ainda é que eles costumam fazer isso tarde da noite, então eu, que já não durmo bem, e sofro de insônia há mais de dez anos, tenho que zombetar os meus pensamentos intensos, em qualquer outra coisa, porque eu não aguento.

Aqui tem todo tipo de gente que se possa imaginar. Até os "perigosos" como Yoongi costuma chamar das alas mais distantes da nossa. Eu prefiro não me arriscar, além de não querer arranjar mais problemas com a minha mãe, ainda tenho que pelo menos não ter mais uma queixa na polícia, e como aqui, muita gente me odeia, ou me acha esquisito, prefiro enfiar a minha curiosidade naquele lugar, e seguir em frente com a minha vida.

-- Já pensou em fazer curso de artes visuais?__Flin perguntou, limpando o braço da poltrona com álcool e algodão.

-- Já, mas eu preferi cursar Direito. Não quero ficar pobre só para fazer o que gosto.

Ele riu e caiu um pouco a cabeça para o lado, negando.

-- E quem te disse que cursar Direito irá deixar escrito no seu futuro que você será empregado?

-- Bom, pelo menos eu terei mais respeito. Já pensou se todo mundo fizesse o que gostasse? Que graça teria?

Ele apertou bem o elástico em meu braço, para não deixar passar o sangue.

-- Acho que isso vai mais dá complexidade das coisas, não do que alguém quer, ou pensa em querer.

Eu franzi o cenho, ele riu, e mostrou a agulha que irá me perfurar, fechei os olhos.

-- Não entendi-..Caralho!

Nunca fui fã de agulhas, na verdade, quando criança, sempre chorava para não sentir a pequena dor do ponteiro pequeno. Mas eu era criança, agora adulto, até chorar se torna algo feio e vergonhoso.

-- Se não fazer o que gosta, qual o sentido de fazer, então? Todos nós procuramos prazer em algo.

Encurtei os lábios, sentindo a agulha me perfurar aos poucos. Estou doando sangue não porque que eu quero fazer, mas porque fui obrigado, já que a minha mãe me fez assinar um contrato de convivência digno de um Jeon adequado, que segue as regras, e permanece calado. Um Jeon que não faz parte de mim, um Jeon que ela vende para os seus amigos advogados.

-- Eu tanbém pensava desse jeito algum tempo atrás. Eu tenho um tio que é militar, antes trabalhava com artes cênicas. Ele lutava muito para achar um emprego adequado, ele gostava do que fazia. __eu disse.

-- O que aconteceu com ele?

Estou com o meu braço esticado no suporte metálico da poltrona abrindo e fechando o punho.

Abri os olhos.

-- Ele passou a pedir comida nas praças, e a viver de doações.

O médico alto, de cabelos pretos, e pele que mais se parece com a bunda de um bebê, está olhando para mim com a sobrancelha direita arqueada, e sorriso não s lábios.

-- Você está querendo me dizer que todos que seguem fazendo o que gosta, terá que passar por algo desse tipo?

Dei de ombros.

-- Não desse tipo, mas algo parecido. Estamos na América, ninguém se importa com talento, só querem ver lucros.

-- Tenho que concordar com você, dessa vez.__ele disse caminhando até a direita, onde há uma prateleira com várias coisas de medicina. -- Mas continuo discordando em partes.

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