Capítulo 14

2.3K 206 35
                                    

Stella Marin

— Uma sorveteria?— Perguntei assim que vi onde nós estamos entrando.

Não é que eu não tenha gostado, muito pelo contrário, mas por se tratar de uma "missão" para ele me fazer desistir de me casar, eu imaginei que ele fosse ser bem mais incisivo.

— Você não gostou?— Dom perguntou com a voz levemente alarmada.

— Não é isso, eu gostei muito, mas achei que você fosse ser mais extravagante.— Retruquei dando de ombros simplesmente.

— Eu pensei nessa possibilidade, mas você merece um encontro de verdade estrelinha.— Ele disse puxando a cadeira de uma das mesas para eu me sentar.

Achei muito atencioso da parte dele, mas não me surpreendi, os homens da família Fontenelle são muito atenciosos desde o berço com as mulheres com quem se importem.

Não sei nem descrever o tamanho da minha felicidade ao saber que eu faço parte desse pequeno grupo seleto.

— Como assim um encontro de verdade? Você pretendia que fosse de mentira, é?— Perguntei puxando uma brincadeira para aliviar o clima. Não está nada desconfortável, mas eu não consigo controlar os meus batimentos cardíacos que estão super acelerados agora.

— Tudo com você é de verdade, sabe que eu não sei mentir pra você estrelinha, o que eu quis dizer é que eu nunca fui simplesmente eu em um encontro, nunca mesmo, eu sempre fiquei às margens do que eu sou, falando só o que eu sabia que a outra parte queria ouvir. Com você eu vou fazer diferente.— Dom disse fazendo as borboletas no meu estômago dançarem em uma frequência assustadora.

É esse tipo de coisa que torna impossível não ser completamente apaixonada por ele. E é tudo o que mais me dói, por que eu sei que nem tudo o que a gente sonha pode se tornar realidade.

Aproveitando que eu estou sendo completamente sincera comigo mesma, esse é o motivo de eu querer me casar, eu tenho a impressão de que se eu estiver longe o suficiente do Dom esses sentimentos vão sumir gradativamente, até finalmente não passarem de uma lembrança boba.

— Então vamos começar, me fala alguma coisa que você nunca contou a ninguém.— Perguntei apoiando o queixo nas mãos enquanto eu espero a garçonete trazer o cardápio da sorveteria.

Percebi que o Dom pode pensar em mil coisas que nunca contou a ninguém, e está decidindo qual que ele deve compartilhar comigo.

— Eu nunca consegui me perdoar pelo que aconteceu com o Enzo.— Ele disse despejando de uma vez.

— Mas isso todo mundo já sabe, Dom. É nítido o quando você se culpa.— Respondi franzindo a testa.

— Não, você não entendeu. Ele não me perdoa.— Dom retrucou novamente olhando atentamente nos meus olhos.

Eu queria não ter que pedir uma melhor elaboração da frase, mas não tive outra opção já que eu ainda não consegui compreender.

— Como assim ele não te perdoa?— Questionei.

— Escuta, todas as noites eu tenho pesadelos, sempre são diferentes mais na mesma situação, acho que são mais as lembranças do que aconteceu do que simples sonhos. O mais frequente e o que nunca me deixa voltar a dormir é com o Enzo. Eu estou lá naquele cativeiro de novo, todo fatiado como um presunto e pendurado no teto, então o Enzo simplesmente aparece na minha frente e quem me tortura é ele, e eu não posso falar nada por que ele estava certo no fim das contas. E quando ele cansa de me machucar sempre chega perto de mim e fala que eu mereço tudo aquilo, por que eu não passo de um monstro responsável pela morte dele.— Ele acabou de falar e eu senti uma dor aguda no peito, uma vontade avassaladora de abraçar ele e cuidar para que ele não sinta mais essa sensação.

O Príncipe Monstro - Livro 2 da série: Família Fontenelle Onde histórias criam vida. Descubra agora