Capítulo 33

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Domenico Fontenelle


 — Você entendeu errado.  — Respondi para a minha prima que permaneceu os ultimos minutos olhando para mim em um misto de pena e compaixão.

Não é possivel que isso esteja acontecendo comigo, eu não mereço isso.

Eu e a Karla não estamos mais juntos e... ai Dio, e a Stella? Ela não conseguiu me perdoar ainda por ter mentido para ela sobre a Karla, o que ela vai fazer se essa criança realmente existir?

Eu vou acabar perdendo ela de vez.

 — Primo, eu queria ter entendido errado, mas não foi isso que aconteceu. — Bea parece estar lutando para escolher as palavras certas para esse momento, mas eu me atrevo a dizer que elas simplesmente não existem.

Como aliviar a noticia para alguem de que a vida dela literalmente entrou pelo cano?

 — Não pode ser verdade, Beatrice! Eu e ela já não temos nada desde um pouco antes da nossa viagem ao Brasil. — Respondi suplicante, desejando que o meu desespero a fizesse me dar uma boa noticia.

Esperei por dois minutos e a boa noticia não veio.

 — Acontece que essa viagem tem menos de dois meses Dom, e ela está gravida de cinco meses. — A minha prima disse e eu franzi a testa.

Gravida de cinco meses?

 — Como isso é possível? Ela não estava com barriga nenhuma de gravida da ultima vez que nos vimos, e como é possivel ela não ter percebido?  — Questionei tendo a certeza de ter encontrado a ponta solta na mentira dela.

Como uma mulher chega ao quinto mês de gestação e não sabe que esta esperando um filho? Simplesmente não é possível e não vou deixar que ela tente me enganar dessa forma.

— Na verdade Dom, isso é possível sim, inclusive acontece com muitas mulheres. — Bea retrucou aparentemente me achando um grande asno por não saber disso.

Não deveria ser surpresa o fato de eu não saber, afinal eu não tenho um utero!

Resgatei o meu celular da borda do sofá e abri uma aba de pesquisas para tirar esse assunto a limpo. Li alguns artigos sobre gravidez silenciosa e por muito pouco eu não entrei em um looping eterno de surtos e sincopes nervosas.

A tal historia realmente pode acontecer.

— Dio mio, o que eu vou fazer agora? —  Questionei para mim mesmo puxando os meus cabelos entre os dedos.

Como eu pude ser tão estupido a ponto de deixar isso acontecer? Me deixar enganar dessa forma?

Nunca deixei de usar preservativos com ela, justamente por que eu sempre soube que esse envolvimento nunca passaria do que realmente era, um caso que nunca seria assumido, então eu sinceramente não consigo ver onde eu posso ter falhado para que isso acontecesse.

Talvez tenha me passado despercebido alguma atitude suspeita da Karla, ela pode muito bem ter planejado isso tudo e furado algum dos preservativos premeditando uma gestação na tentativa de me prender a ela desse modo para sempre. Nunca percebi o quanto ela podia ser ardilosa, e não gostei de constatar isso agora.

Eu passei pelo inferno na iniciação, aprendi como não me deixar influenciar por feições aparentemente inofencivas, aprendi a abater um inimigo rapidamente e sem compaixão, aprendi os niveis de tortura mais elevados para obter uma informação e aprendi a suportar um interrogatório sem entregar uma misera palavra sobre a organização, aprendi a controlar as minhas emoções e a suportar a dor... Não é possivel que eu tenha sido passado para trás por uma vagabunda qualquer.

Ou talvez essa teoria esteja completamente errada e o motivo real para isso ter acontecido comigo ser a razão primordial para todos os meus infortuneos desde a morte do Enzo: Eu não mereço ser feliz.

Dio sabe melhor que qualquer um que é mais facil o inferno congelar do que a esposa de algum membro da cosa nostra, especialmente se for de um cargo alto, aceitar criar um filho que seja do seu marido com outra mulher por que a fofoca e o escrutineo são de certa forma inevitaveis.

O respeito e a credibilidade da esposa perante todos despenca em uma velocidade assustadora, e eu nunca ouvi historia alguma de uma mulher nessa situação que tenha conseguido fazer com que toda a fofoca parasse e fosse como se nunca ouvessem existido.

Isso acaba com todas as minhas expectativas de ousar viver a alegria do casamento ao lado da minha estrelinha. Como eu poderia sujeitar ela a todos os comentários maldosos que ela certamente seria obrigada a enfrentar? Como eu poderia pedir que ela amasse, ou mesmo tolerasse essa criança sabendo que teria que conviver com a mãe dela? Os comentários seriam cada vez piores. E maior que tudo isso, como ela encontraria força o bastante para ficar comigo e passar por cima de tudo isso?

Sim, eu sei que eu poderia obriga-la a aceitar esse casamento facilmente caso eu fosse um canalha sem escrupulos, e não seria dificil desde que se tornasse do conhecimento de todos que ela se entregou a mim antes de qualquer laço matrimonial fosse firmado. Caso mesmo assim ela não aceitasse acabariamos os dois em serios problemas, ela seria enviada para um prostibulo qualquer da familia e eu acabaria com uma bala na cabeça. Tudo o que fosse decair sobre mim seria o menor dos problemas, mas eu nunca daria a ela um destino tão cruel.

Senti o meu coração se apertar gradativamente, até eu finalmente começar a fazer a unica coisa possivel por mim mesmo: Chorar feito uma criança que ralou o joelho pela primeira vez.

Chorei por sentir que dessa vez não vai ter volta, eu vou ter que me conformar com o fato de que eu preciso pagar com o meu sofrimento durante a vida inteira pela responsabilidade que compete a mim pelo que aconteceu ao Enzo.

Uma vida por outra.

 — Fratello, fica calmo, você nem sabe se esse filho é seu ainda. — Bea disse refletindo compaixão extrema em sua voz enquanto afaga as minhas costas.

 — E você sugere que eu espere mais quatro meses para saber? — Questionei com ironia e raiva.

Como eu posso passar meses nessa incerteza? Simplesmente não consigo.

Beatrice revirou os olhos e me encarou com tedio e um pouco de escarnio.

 — Claro que não seu idiota, você pode pedir um teste de paternidade pre-natal não invasiva, esse tipo de teste é feito durante a gestação mesmo. — Ela me explicou com calma como funciona esse teste e aparentemente é bastante simples e possui uma grande margem de precisão, ou seja, se por um acaso tudo isso não passar de uma grande mentira da Karla, eu vou saber.

Assenti com a Cabeça, a Bea tem razão, eu não preciso ficar tão desesperado agora, mas nem morto eu vou conseguir ficar parado sem ao menos dar o primeiro passo para esclarecer tudo.

Voltei a pegar o meu celular e marquei o tal exame no hospital da famiglia, de jeito nenhum eu vou correr o risco dela falsificar os resultados. Logo depois de agendar o exame para assim que eu retornar para casa, disquei o numero da Karla, ela atendeu antes do terceiro toque completar.

 — Finalmente decidiu dar atenção a mãe do seu filho. — Karla disse assim que atendeu com a voz manhosa e chateada ao mesmo tempo.

Obivio que eu não vou me deixar influenciar.

 — Precisamos conversar, Karla. — Foi tudo o que eu disse antes de informar o exame que ela não vai ter a opção de não fazer.





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O Príncipe Monstro - Livro 2 da série: Família Fontenelle Onde histórias criam vida. Descubra agora