capítulo 11

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Domenico Fontenelle

— Gente, alguém viu aquela camisa que eu usei para dormir ontem?— Stella desceu as escadas perguntando para todos nós que estamos na sala assistindo e jogando conversa fora.

Ontem a minha amada cunhadinha fez nós irmos em um bloquinho de rua, eu admito que a princípio é muito confuso todas as cores e as pessoas dançando sem nenhum tipo de controle, as danças nem fazem sentido na maioria das vezes, mas depois da minha segunda caipirinha eu comecei a me divertir de verdade.

Ah, caipirinha, quase tão bom quanto o meu uísque ou um bom copo de café.

O pai da Ana resolveu fazer uma casa de hóspedes ao invés de apenas um quarto de hóspedes, segundo ele é muito mais cômodo, privado e uma ótima oportunidade de gastar dinheiro.

Pena que ele não fez logo umas duas para dividir a minha família em duas casas, estamos todos na mesma casa, mesmo sendo grande acaba ficando um pouco menos extensa com tantas pessoas dentro.

— Aquela que o verme te deu?— Perguntei erguendo as sobrancelhas e voltei o olhar para ela que ainda está perfeitamente parada na escada.

— Que o Nicco me deu, sim é essa. Você viu?— Ela questionou novamente depois de me corrigir.

— Eu não vi.— Ana respondeu tentando conter o pequeno sapeca que não consegue ficar quieto, a menos que esteja dormindo.

Eu já sugeri dar um suco de maracujá concentrado a ele, mas ninguém quer "impedir o menino de se divertir".

— Eu também não.— Marco disse sendo seguido por seus pais e pelo meu pai também.

— Você viu, Dom?— Ela voltou a perguntar diretamente para mim.

— Não, mas posso te ajudar a procurar.— Me ofereci já me pondo de pé.

Segui a estrelinha na direção do quarto dela e me concentrei em procurar a camisa, mesmo sabendo que não vamos encontrar.

Essa com certeza é a minha maior vigarice.

Eu joguei a camisa fora.

Eu não ia fazer isso, juro, mas também nunca me passou pela cabeça que ela fosse realmente usar a camisa.

Eu poderia dizer que a raiva deu um apagão na minha cabeça e que eu nem me dei conta de quando a joguei fora, mas seria a mentira mais deslavada que eu já teria dito na vida, e eu gosto de guardar minha criatividade com mentiras para coisas realmente necessárias.

Tudo começou ontem depois que voltamos do bloco, a Estrelinha subiu as escadas com o sapato na mão dizendo que precisava de um banho e de alguma roupa confortável.

Eu imaginei que ela colocaria um pijama ou um vestido, mas do nada ela me apareceu usando a camisa dele.

Eu exercitei o meu auto controle, respirei fundo e esperei até hoje, quando ela saiu com a Bea e com a Ana, fui sorrateiramente até o quarto dela, peguei a camisa e para ter certeza que ela nunca mais vai aparecer joguei dentro do triturador.

Estrelinha se abaixou para olhar embaixo da cama e como eu sei que nunca vamos encontrar comecei a dar uma olhada nas coisas dela espalhadas pela cama. Da pra notar que ela está mesmo preocupada com essa camisa.

Stella parece ter tido uma grande epifania e se levantou olhando para mim completamente seria como se fosse capaz de ler todos os meus pensamentos.

Eu não acho que ela seja capaz de fazer isso, mas por via das dúvidas comecei a controlar as coisas que eu penso.

— Nós não vamos achar essa camisa, não é?— Ela questionou cruzando os braços.

— Desistiu de procurar? Eu apoio a decisão.— Respondi tentando parecer despreocupado, mesmo sabendo que ela me conhece muito bem.

Isso é um problema, eu geralmente consigo camuflar as minhas emoções, mas com ela isso raramente dá certo.

— Não, nós não vamos encontrar por que você deu um jeitinho, não foi?— Ela questionou novamente se aproximando um pouco mais de mim.

Eu sei que ela já percebeu o que eu fiz, então melhor confessar de uma vez, especialmente por que eu não estou nenhum pouco arrependido.

— Eu disse que não tinha gostado dele ter te dado isso.— Respondi desviando o olhar para parecer um pouco mais desculpavél.

Exatamente do jeito que o Rael me ensinou a fazer, esse garoto vai ser um perigo quando crescer. Sabe convencer qualquer pessoa que ele é inocente de algo que ele obviamente fez.

— Mas isso não te dá o direito de jogar fora! Caramba, Dom, eu gostei da camisa. É confortável pra dormir.— Ela disse fazendo um bico, literalmente a coisa mais fofa que eu já vi.

Essa expressão quase fez com que eu me arrependesse de ter destruído a camisa. Quase.

— Eu posso te dar uma minha se você quiser, é mais confortável e eu posso garantir que ela não será destruída.— Ofereci com um sorriso sincero no rosto.

— Posso escolher a que eu quiser?— Ela perguntou sorrindo um pouquinho iluminando o meu dia inteiro.

Eu tenho um apego tão especial por ela, que sinceramente eu não me sinto capaz de explicar o quão grande é para alguém.

Acho que de alguma forma eu me liguei a ela durante os dias que ficamos no galpão, toda vez que eu a ouvia gritar alguma coisa em mim se partia e eu nem mesmo tinha visto ela ainda.

Alguma coisa me dizia que eu precisava proteger ela, então cada vez que os gritos dela ecoavam eu pedia para me castigarem em seu lugar. Eu aguentaria tudo, mas eles deveriam deixar aquela menina em paz.

Uma menina que já tinha sofrido tanto... Claro que nenhum dos torturadores acatou o que eu disse, e eu aprendi na iniciação a nunca implorar pelo que quer que fosse, então acabamos os dois saindo vivos de lá por puro milagre.

Eu não merecia esse milagre, poderia facilmente ter morrido lá e não teria feito nenhuma diferença, afinal de contas eu não passo de um monstro de merda que não tem uma noite de sono decente a anos, sempre tendo os mesmos pesadelos irritantes,  mas ela não, ela merece viver.

Ela merece ser esse milagre.

— Claro que pode Estrelinha, sabe que você pode qualquer coisa.— Respondi me sentando na ponta da cama dela.

— Bom, então eu quero a sua camisa favorita.— Ela disse empinando o nariz me fazendo arregalar os olhos.

— Mas é a minha camisa de Supernatural! — Retruquei ainda sem acreditar que ela quer exatamente essa.

— Eu sei, você me fez assistir essa série inteira e como você usa bastante ela já está bem confortável.— Stella disse sentando ao meu lado.

Se fosse qualquer outra pessoa eu diria que não sem pensar duas vezes, mas eu tenho um sério problema de nunca conseguir usar a palavra "não" quando se trata da Stella.

Talvez tenha algo haver com o fato de eu querer compensar ela por tudo o que ela passou na vida, mesmo sabendo que ela não guarda mágoa dessa época.

— Claro, pode pegar ela para você, mas me prometa que vai cuidar direitinho.— Pedi olhando em seus olhos.

— Eu prometo, até deixo você visitá-la sempre que quiser.— respondeu me dando uma piscadela animada.

É por essa e outras ocasiões que eu acho que vale a pena estar vivo.







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O Príncipe Monstro - Livro 2 da série: Família Fontenelle Onde histórias criam vida. Descubra agora