capítulo 15

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Domenico Fontenelle

Nós já vamos voltar para a Itália amanhã e eu estou em um grande misto de sensações.

Primeiramente eu estou grato por voltar, o Brasil é uma grande festa interminável e aqui ninguém consegue descansar direito, mas em segundo lugar e não menos importante eu estou me perguntando se alguma coisa vai mudar entre mim e a estrelinha.

Não que muita coisa tenha acontecido entre nós, é claro, mas acredito que tenha sido o suficiente para me deixar bem pensativo.

Cazzo, eu não sou idiota, eu sei que não mereço ela do meu lado, sei bem disso, e sei também que eu vou estar sendo um grande filho de cagna se insistir nisso e tirar dela a possibilidade de um futuro melhor, com alguém melhor do que eu.

Mas eu não consigo me importar de ser um grande filho de cagna se for o preço a pagar para estar com ela, e eu acho que isso é um problema bem grande.

— Eu poderia oferecer uma quantia por seus pensamentos.— Marco disse saindo de casa e sentando no banco da varanda junto comigo.

— E não vai?— Questionei com um sorriso.

— Não, seus pensamentos não valem tanto assim, mas mesmo assim eu quero saber o que você tá fazendo aqui fora, o pai da Ana estava perguntando de você por que está faltando um jogador para o ludo.— Ele disse me encarando e eu vi rapidamente que não é uma brincadeira.

Pelo amor de Dio, eu nem sei o que é ludo!

— Só estou pensando, você devia tentar as vezes.— Respondi voltando a olhar para frente.

De repente pareceu pesar entre nós uma grande nuvem de ar gélido, o que é bastante esquisito já que a menos de cinco segundos o ar não passava de fresco e agradável.

— Ta pensando no sequestro?— Ele perguntou com a voz um pouco distante.

E foi por isso que o ar pesou, toda vez que alguém menciona esse assim a atmosfera inteira parece mudar.

— Não, mas eu com certeza sempre penso nisso.— Respondi com sinceridade.

Quando eu não penso nisso por livre e espontânea vontade eu acabo sonhando, todos os dias eu sonho com a mesma situação e isso tem reduzido as minhas horas de sono drasticamente.

— Sabe por que eu não paro de procurar o Enzo?— Marco perguntou com a voz bastante casual para um assunto como esse.

Sendo bem honesto, eu acho que ele acabou enlouquecendo um pouco quando o Enzo explodiu junto com a casa. Ser completamente maluco é uma característica de família, mas depois do que aconteceu eu acho que ele finalmente sucumbiu a loucura dentro dele.

— Por que você não consegue aceitar que pessoas morrem.— Retruquei quase que imediatamente.

— Assim que chegamos com você no hospital eu mandei uma equipe de busca para o cativeiro, para tentar encontrar ele.— Meu primo começou e eu Franzi a testa sem compreender como ele consegue ignorar o que uma explosão pode fazer com o corpo de uma pessoa.

— Marco, ele explodiu, não sobrou nada para você achar.— Respondi dando de ombros.

Eu já me conformei com isso a bastante tempo.

Me conformei com a morte de um homem que foi sempre mais do que um primo para mim, aceitei a morte de um irmão.

Me conformei que o sangue dele vai pesar nas minhas mãos para sempre e me conformei com o fato de que se eu tivesse algum escrúpulo aceitaria o meu castigo de nunca ser feliz na vida.

Eu já me conformei com tudo, por que ele não pode fazer o mesmo? Ficar mechendo na ferida só vai impedir que ela só menos tente oxidar.

— Tecnicamente não teria sobrado um corpo, mas sobraria alguma coisa que pudesse ser usada para saber que era ele, e eu não encontrei nem mesmo um pedaço de pele queimada. Por isso eu não vou parar de procurar, não vou parar nunca.— Ele disse como se fosse uma promessa solene e eu achei por bem não questionar.

Cada um vive a dor da perda de uma forma diferente, e se a dele é viver em negação, o que eu posso fazer? Absolutamente nada.

— Tudo bem então, se encontrar alguma coisa nos avise.— Respondi com um resquício de ironia que parece ter passado batido por ele.

— Não se preocupe. Mas voltando ao fator inicial dessa conversa, se não está pensando nisso, o que tanto ocupa a sua mente então?— Ele perguntou voltando a ficar interessado no que se passa na minha mente.

O lado ruim de ter uma família bem unida é que a maioria das vezes não dá para ter algo que seja sigiloso, por que as pessoas da família vão acabar descobrindo.

Então é sempre bom ter pelo menos um cúmplice, e ele está praticamente se oferecendo para ser o meu.

Respirei fundo e contei a ele sobre o meu plano brilhante de tirar a Estrelinha das garras daquele bastardo que se nomeia como Nicco, e contei sobre o nosso encontro e sobre como as coisas parecem mais complexas agora.

— Então vai lá e diz que quer ficar com ela, o que você tem a perder?— Marco perguntou olhando para mim.

— Como assim o que eu tenho a perder? Tudo! Ela é literalmente a melhor coisa da minha vida, a âncora que me afasta da vontade de deixar de existir, a luz da minha vida, a única pessoa que me faz bem e me acalma só de estar no mesmo ambiente que eu, se eu tentar alguma coisa e acabar fazendo besteira eu posso perder tudo isso.— Falei despejando todas as minhas preocupações de uma vez.

Mesmo no cativeiro, enquanto eu ouvia os gritos desesperados dela pedindo por misericórdia de alguma forma eu já sabia que ela seria o meu fio de salvação, e mais do que isso eu já sabia que protegeria ela com a minha vida se fosse necessário.

— É verdade, você pode perder tudo. Ou pode ter muito mais do que você pensou, eu acho que é uma coisa que vale a pena o risco.— Marco disse dando de ombros exalando sabedoria em suas palavras.

Esse é o mesmo Marco que já foi para festas comigo e sumiu com duas garotas ao mesmo tempo? Quando foi que ele ficou tão solene e tão sábio assim?

A Ana fez alguma coisa com ele, por que não tem explicação alguém mudar tanto.

— Você tá diferente, não era você quem dizia que casamento era só um tipo de morte pior do que a morte de verdade?— Questionei citando uma de suas muitas frases icônicas sobre o casamento ser um castigo para os homens que gostam de si mesmos.

Ele fez uma careta dividida entre dor e riso antes de responder.

— Amar uma pessoa geralmente faz você mudar com relação a essas coisas, primo. E como você já sabe, eu amo a minha esposa mais do que eu pensei ser possível amar alguém na vida, então eu vou reformular essa frase para você: o casamento com alguém que você ama é o melhor prêmio que você pode conseguir na vida.— Dito isso ele saiu porta a dentro indo de encontro a grande diversão em família.

Eu posso ter tudo o que pode me fazer feliz por toda a vida.

Será que ele está certo?

Sem tempo o bastante para ponderar sobre isso e pensar racionalmente, eu entrei em casa e subi as escadas na direção do quarto da estrelinha sem saber muito bem o que eu vou fazer quando chegar lá, me permitindo ser guiado pelas batidas rítmicas do meu coração batendo contra o peito.



Oi meus amoresssss, tudo bem com vocês?
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O Príncipe Monstro - Livro 2 da série: Família Fontenelle Onde histórias criam vida. Descubra agora