capítulo 29

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Domenico Fontenelle

— Você não dorme, não?— Bea questionou assim que acordou pela manhã enquanto eu continuo com os olhos vidrados na tela do monitor.

Eu não consegui dormir, eu estava até sentindo um pouco de sono quando eles conseguiram entrar no cartel, mas a Stella resolveu não deixar o Henrique dormir no chão e eles dividiram a cama então o meu sono simplesmente se dissipou.

Sinceramente, qual o problema dele dormir no chão? E nem seria no chão puro, ele podia muito bem fazer uma cama improvisada no chão como ele mesmo sugeriu e seria bem mais confortável do que várias maneiras que ele já dormiu antes.

Cazzo, seria mais confortável do que vários lugares que eu já dormi antes!

A partir daí eu não consegui desviar os olhos da tela, preocupado com a possibilidade deles se aproximadas demais durante o sono, só de pensar que isso pode acontecer eu fico completamente louco de raiva.

Nesse momento o meu celular começou a tocar insistente me tirando dos meus devaneios, olhei o visor e revirei os olhos quando li o nome brilhando na tela.

Karla.

Tenha santa paciência, será que ela ainda não entendeu?

Ignorei a chamada e olhei para a minha prima decidido a mentir descaradamente.

— Eu dormir sim, só acordei mais cedo.— Respondi dando de ombros para não fazer disso uma grande coisa.

Se eu vou mentir descaradamente então que seja feito direito.

— Certo, o que temos até agora?— Bea perguntou colocando cereal com leite em duas tigelas, uma ela trouxe para mim e eu agradeci.

Fiquei tão imerso olhando as imagens na tela que ignorei completamente a minha fome.

— Eles estão estabelecendo o primeiro contato com alguns membros do cartel agora pela manhã, mas até então nada de interessante. Henrique foi treinar com os soldados e Stella está com as mulheres na sala conversando.— Respondi com a boca cheia de cereal.

Dio mio, eu estou morto de fome.

— Isso é bom, vamos focar no treino do Henrique, a conversa das mulheres parece muito trivial.— Bea sugeriu e eu concordei prontamente, claro que isso não significa que vamos deixar a Estrelinha desprotegida, as escutas continuam funcionando perfeitamente, apenas vamos mudar a atenção de visor.

Henrique não está mostrando todo o seu preparo na luta corpo a corpo para dar a impressão de que os outros soldados é que estão lhe ensinando algo que já não saiba, isso é ótimo assim eles ficam mais propensos e mais inclinados a contarem o que sabem.

— E então, como funciona o cartel?— Henrique perguntou depois de levar um chute bastante incorreto de um dos soldados.

Se o Henrique quisesse além de ter desviado de maneira muito fácil, teria agarrado o tornozelo do outro e conseguido apoio para quebrar a sua perna.

Como eu disse anteriormente, ele não está mostrando todos os reflexos dos seus treinos constantes para parecer de alguma forma mais vulnerável.

— O básico, focamos bastante nas drogas, em fazer e traficar em grande escala, não em consumir é claro.— O outro soldado retrucou com a voz um pouco entrecortada devido ao cansaço.

Eles precisam melhorar o condicionamento físico em caso de um embate verdadeiro com algum adversário forte, ou vão estar em sérios apuros.

— Já surgiu algum traidor no meio de vocês?— Henrique questionou desviando de um outro golpe, sem parecer de fato muito interessado no assunto.

— Nenhum que tenha sido descoberto, mas existe um que apoia o traidor de uma outra máfia.— O soldado respondeu com a voz ainda mais falha.

Por Dio, alguém ajude esse homem!

No momento em que ele acabou de falar os meus ouvidos e os da Bea se atentaram ainda mais para a conversa, cheguei ao ponto de parar de mastigar para que nada interfira na minha atenção.

Os olhos do Henrique brilharam de interesse.

— Traidor de qual máfia?— Perguntou tentando não mostrar interesse e gazie Dio, ele conseguiu.

— A italiana.— Retrucou simplesmente não parecendo mais muito disposto a compartilhar os seus conhecimentos.

— Qual o nome do traidor?— Henrique insistiu na conversa.

O outro soldado parou a luta entre os dois e olhou de forma inquisidora na direção do nosso espião.

— Conversamos sobre isso depois Lucas, quando eu tiver certeza de que posso confiar em você, afinal de contas você continua sendo italiano.— O soldado disse e eu senti a chateação tomar conta do meu corpo.

Estava sendo fácil demais para ser verdade, claro que ele iria querer complicar.

Henrique se fez de ofendido antes de responder, provando ser um ator melhor do que o que eu esperava.

— Por Dio, você está ouvindo o que está dizendo? Eu e a minha namorada estamos sendo perseguidos nesse momento justamente pela máfia italiana, querem nos matar só por que nós nos amamos, acha que eu devo lealdade a alguem que ameaça a minha vida e a vida de quem eu amo? Estamos sendo acusados de traição por que eu não permiti que obrigassem a Lana a se casar com outro, percebe o quanto eles podem ser cruéis?— Tudo bem que a fala completa foi pertinente ao momento, mas ouvir ele chamando a Stella de namorada ainda me revira o estômago.

Melhor começar a ver eles como Lucas e Lana, o casal injustiçado, por que se eu continuar enchergando como Henrique e Stella vou acabar matando alguém.

— Isso eu entendo, eles tem a fama de ser bastante frios, fazem o que tem que ser feito e que se dane todo o resto, mas de qualquer forma não posso falar nada até saber onde está a sua lealdade.— O soldado retrucou cruzando os braços querendo mostrar que é um homem inteligente quando na verdade não é.

Ele vai acabar contando tudo, antes do que imagina.

— Eu estou fazendo parte do Cartel agora, acha que eu arriscaria o meu pescoço mentindo para vocês?— Henrique perguntou com um meneio de cabeça e uma leve erguida de sobrancelhas.

— O que eu acho não importa muito, mas sim o que eu sei. E o que eu sei é que os italianos não costumam ter muita noção do que é perigo em excesso para eles. Deve ser a síndrome de invencibilidade que aquela família tem.— Respondeu dando de ombros enquanto seca o suor do pescoço com a própria camisa que ele tinha retirado no começo do treino.

— Que família?— Henrique questionou com a testa franzida.

— A Fontenelle, os líderes da cosa nostra. Mesmo você sendo italiano eu preciso admitir, poucas coisas me fariam tão feliz quanto ver a famiglia cair.— Respondeu parecendo satisfeito ao imaginar o cenário onde nós estivéssemos sendo derrotados.

Uma pena para ele que a nossa família e a nossa liderança é de fato indestrutível.

— Eles me parecem uma fortaleza.— Henrique disse morrendo de vontade de nos defender, mas manteve a pose de apenas um comentarista interessado no assunto.

— Talvez nem tanto assim, afinal tem alguém com grandes planos para eles.— O soldado retrucou com com um sorriso nojento no rosto.

Henrique se contentou em assentir levemente com a cabeça.

Assim que o soldado saiu das suas vistas Henrique voltou a falar para apenas nós escutarmos.

— Eu vou descobrir o que está acontecendo, é questão de honra.







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