Domenico Fontenelle
Eu não acreditei no que meus olhos estavam vendo.
Ele está morto. A casa explodiu com ele dentro, como é possível que ele esteja me olhando com um sorriso contido no rosto?
Dio santo, ele está morto!
— Você está morto.— Verbalizei finalmente o que estava preso na minha garganta a longos minutos desde que eu cheguei aqui.
Per Dio, eu cheguei a considerar hipóteses ridículas de tão impossíveis como um apocalipse zumbi ou todos nós termos morrido misteriosamente. Só assim para encontrar o meu primo morto na sala da casa do meu pai.
Ele se levantou do sofá com um pouco de dificuldade, logo percebi que ele está bem mais magro do que o que eu me lembro, usando casacos que cobrem seus braços por inteiro e andando com dificuldade apoiado em uma bengala improvisada com um galho grosso de árvore.
Ele está acabado e isso fez algo se revirar dentro de mim. Culpa.
— Eu estou bem destruído, mas pareço morto para você?— Ele perguntou e se aproximou de mim com a perna mais debilitada se arrastando.
Dio, que visão dolorosa.
Observei por mais uns segundos apenas para garantir que um milagre aconteceu e esse que está diante de mim é mesmo o meu primo dado como morto mais de dois anos antes, e quando me dei conta de que realmente é verdade o abracei com força agradecendo aos céus pelo presente.
— Lamento interromper o reencontro primos, mas temos coisas importantes a tratar.— Marco disse tentando retomar a postura de capo, mas é claro que eu sei que ele está explodindo de tanta felicidade, especialmente quando foi ele quem nunca desistiu de procurar o Enzo.
— Tem razão, podemos ir para o escritório do meu pai. — Falei relutante em me afastar do meu primo, é como se corresse o risco de ele simplesmente desaparecer caso eu me afaste muito.
Ainda estou em completo choque.
Andei calmamente até o escritório, sendo seguido por meus primos em busca de privacidade. Entrei e fechei a porta, quando me virei o Marco já estava sentado na cadeira do meu pai, e o Enzo sentava com dificuldade em uma das cadeiras em frente à mesa.
— Como conseguiu escapar da explosão?— Fiz a pergunta do milhão esperando no mínimo uma reviravolta mirabolante para tudo isso.
— Eu não escapei, eles me tiraram de lá antes de explodirem tudo, acreditavam que me interrogar era a melhor forma de conseguir informações sobre a nossa ação interna seria com algum de nós preso. — Enzo relatou com um sorriso amargo no rosto precisando puxar com as mãos a sua perna mais debilitada para que ficasse na mesma posição que a outra.
— Tem certeza que não prefere ir ao hospital antes de contar tudo?— Marco questionou após perceber a dificuldade do nosso primo em se movimentar.
Enzo negou veementemente com a cabeça.
— Agora não, quando eu estava sendo interrogado durante todos aqueles meses eles quebraram vários ossos meus quando me cortar e me bater deixou de ser o suficiente, todos os ossos cicatrizaram errado e eu sei que se eu for pro hospital agora eles vão ter que quebrar todos de novo pra fazer a cicatrização correta. Eu mal vou conseguir formar uma frase completa sem gemer de dor. Melhor falar tudo o que eu sei agora, enquanto podemos ter vantagem.— Ele disse parecendo extremamente decidido em seu posicionamento. Por mais que eu ache completamente imprescindível e indispensável uma avaliação médica profunda resolvi não questionar sua vontade, ele já sofreu demais e o mínimo que eu posso fazer é respeitar a forma como ele deseja proceder.
— Tudo bem, de qualquer forma precisamos acabar com o Jean, agora mais do que nunca. — Marco afirmou dando um soco na mesa de olmo envelhecida.
Precisava ser de uma madeira bem resistente, a minha família adora sair batendo nas coisas como forma de extravasar a raiva e a frustração acumulada.
— Com o Jean? Per Dio, vocês não sabem de nada mesmo.— Enzo constatou com um suspiro cansado.
— Como assim?— Perguntei com a testa franzida.
Sabemos que o inimigo é o Jean, isso deveria ser o bastante.
— O Jean está morto a quase tanto tempo quanto eu fiquei preso.— Meu primo disse tranquilamente como se não falasse de nada mais que a mudança torrencial do tempo.
— O que disse? Como assim morto?— Marco questionou parecendo cada vez mais irritado.
— Ele está morto, simples assim. — Enzo disse dando de ombros. Claro, para ele é fácil afinal de contas já sabe dessa notícia a muito mais tempo que nós.
— Mas ele é o nosso inimigo caramba! Ele te raptou, ele te torturou!— Marco falou beirando a histeria.
— No começo sim, mas ele tinha um aliado. Esse aliado o ajudou por bastante tempo inclusive com o contato com o Daniel do Cartel, mas o Jean nunca chegou a ir lá, esse outro apenas usava o nome dele e me obrigou a ir junto algumas vezes. Para garantir que eu não fugiria ele prendia umas dinamites em mim, se eu fugisse elas seriam detonadas então eu fiquei quieto.— Enzo comentou fazendo os pontos se interligarem na minha cabeça.
Durante a operação no cartel colhemos as informações corretas mas ao que tudo indica, sobre a pessoa errada.
Dio, o meu primo foi forçado a ir lá certamente como primo desse outro imprestável e não podia fazer nada por si mesmo.
— Seria muito pedir que você saiba quem é esse novo inimigo que tem nos manipulado?— Perguntei franzindo a testa sentindo o meu sangue borbulhando cada vez mais.
Foi por isso que nós não pegamos nem o rastro do desgraçado do Jean, por que ele está a morto!
— Eu vi quando o Jean foi assassinado, admito que foi uma das poucas coisas que me fez ficar contente naquela porcaria de lugar. Eu poderia ter agradecido ao outro caso ele não tivesse se tornado a mais nova pedra no nosso sapato.— Enzo continuou seu raciocínio distante.
Eu tentei me controlar para não interromper, ele passou por muita coisa e tem todo direito de divagar por quanto tempo julgar necessário, no entanto o Marco não parece ser tão dotado de força de vontade de auto controle quanto eu, por que ele não se calou.
— Eu quero nomes. Você sabe?— Questionou com uma veia saltando de tensão em sua testa.
— Sei sim, Nicco, um dos membros da cosa nostra.— Enzo disse de uma vez e eu senti o meu corpo formigando.
— Você disse "Nicco"— Marco questionou praticamente tão entorpecido quanto eu estou no momento.
Nosso primo fez que sim com a cabeça.
— Tem certeza disso?— Perguntei ainda sem acreditar.
Que ele é um imbecil sem escrúpulos e nojento eu já sabia, agora traidor? Realmente é novidade.
— Absoluta. E ele falava bastante sobre uma mulher chamada Stella, não a conheço mas a coitada vai estar em apuros se ele a pegar.— Enzo disse com a expressão de verdadeiramente preocupado e o meu sangue gelou nas veias.
Ele tem motivos de sobra para querer me atingir.
— Stella é a garota que resgatamos do cativeiro do Dom, lembra?— Marco atualizou o nosso primo.
— Esse é o nome da garota? — Perguntou interessado no assunto parecendo não notar a síncope nervosa na qual eu estou entrando sem a mísera pretensão de parar.
— Sim, e ela também é a noiva dele que anteriormente foi, na falta de uma palavra melhor, cortejada pelo Nicco.— Marco concluiu com um floreio e o Enzo parece ter entendido a gravidade do assunto.
— Ao menos poderemos protegê-la. Mas se eu fosse você primo, não tiraria os olhos dela. Ele está determinado e quer vingança.
Oi amoresssss, um capítulo de presente pra vocês, espero que gostem! Comentem e votem MUITO ♥️
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O Príncipe Monstro - Livro 2 da série: Família Fontenelle
RomanceDois anos após o ocorrido Domenico ainda é atormentado por pensamentos e lembranças terriveis e principalmente pela culpa. Uma das poucas fontes de alegria e paz que ele possui além da sua família, é a relação de familiaridade que foi construída com...