Um favor

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Soltei um longo suspiro, ignorando com todas as forças do meu ser a insistente voz gritante na minha cabeça que me implorava para largar tudo e ir até ela. Virei mais um gole considerável do uísque, logo menos a garrafa estaria mais vazia e eu menos sóbrio.

Suspirei novamente e ergui minha máscara de indiferença. Afastei aqueles pensamentos e tentei me concentrar em Christopher, Julian era mais do que qualificado para ajudar Victória. Eu não tinha dúvidas disso, nesse momento eu precisava manter distancia se eu pretendia seguir com a minha vida. Eu sempre fui péssimo em lidar com términos. Me afastar de Sophie quase me destruiu... imaginar a mafiosa tão perto e ao mesmo tempo tão longe, estava me dilacerando.

Me concentrei no túmulo do meu progenitor e uma genial ideia de bêbado me brotou na cabeça, uma falha tentativa de me distrair de Victória. Eu estava prestes a abaixar as calças e presentear meu "querido" pai com uma boa mijada, mas Julian me impediu antes mesmo que eu ameaçasse abrir o zíper.

— Que droga você acha que vai fazer?

Eu gargalhei — Algo que eu poderia ter feito a muito tempo.
— Olha... — ele me lançou um olhar em reprovação — Eu vou buscar Victória, por favor, não seja preso e entre no maldito carro — avisou, logo avistei um dos subordinados aproximando-se.

— Eu quero ir! — Arrisquei.
— Pra que? — Julian questionou — Você está bêbado e tudo que ela menos precisa agora é de você descarregando tudo nela.
— Você nem sabe o que eu vou fazer Julian.
— Mas eu te conheço, eu sou seu amigo. A data da morte desse desgraçado — ele declara olhando de relance para a lápide — Sempre meche contigo. Volta pra casa, toma um banho de água fria e depois você decide o que quer fazer da tua vida.

Apenas concordei e fui ate o subordinado. Eu precisava de um banho gelado... e resolver a minha maldita vida de vez.

...

Mais sóbrio do que eu gostaria, a realidade veio bater a porta. ELA FICARIA NA MINHA CASA... minha casa.
Entre dois extremos eu não tinha a menor ideia do que fazer ou como reagir. Desde nossa ligação, aquele constante desconforto e angustia que apertava meu peito não havia me deixado. Somando tudo a essa maldita data, era tudo dez vezes pior. Tudo tinha uma carga muito mais pesada do que eu gostaria.
Eu havia ido no túmulo daquele infeliz para finalmente parabeniza-lo. Depois de anos lutando contra, eu estava prestes a me tornar no homem que meu pai tanto queria. Finalmente Christopher tinha conquistado tudo o que almejava em vida.
Porém, ela havia chegado e bagunçado tudo. Eu estava tão decidido sobre meu futuro, parecia tão mais fácil ter feito aquilo por ligação... mas cara a cara? Meu peito não suportaria.
Então uma desculpa, ou uma forma de evita-la por um tempo me foi providencial.

Eu disse para Julian estabelece-la na casa de visitas. Eu precisava ficar longe dela. Pelo meu próprio bem e o dela. Mas era impossível. Um dia se passou desde sua chegada na minha casa e eu simplesmente não conseguia me concentrar. Eu olhava pela cortina do escritório e ate me atrevia ir ate a varanda onde eu tinha uma visão um pouco distante da casa/apartamento de visitas. Meus ouvidos ansiavam pelo momento em que ela batesse na minha porta, mas ao mesmo tempo, eu temia... temia com todas as forças do meu ser porque eu simplesmente não conseguiria fazer o que era preciso, por mais que eu a amasse.
Eu não tinha forças pra isso e certamente nada seria suficiente.

E mais uma genial ideia regada a uísque me veio a mente.
Digitei uma mensagem para um antigo contato, um plano se formava na minha mente alcoolizada. Tão doloroso, ou ate pior, do que vê-la beijando outro.

...

Conduzida por um dos meus subordinados, a mulher entrou no meu escritório. Seu perfume preencheu o ambiente e até a algum tempo atrás, eu escanearia seu corpo e me incendiaria de luxúria. Mas para mim, naquele momento, apesar dela ser uma linda mulher... ela não passava de mais uma.
Todos os créditos a mafiosa, ela havia conseguido me foder pra valer.
Na minha mente confusa e doente de amor, nenhuma mulher chegaria a seus pés.

Victória Santori era única. Era como provar o fruto proibido pela primeira vez e jamais se contentar. E eu queria muito mais. Eu queria acordar e dormir com aquela mulher nos meus braços. Eu queria ter brigas estupidas e sem motivos. Eu queria ter joguinhos bobos de provocações. Eu queria o pacote completo e além... e eu tive um vislumbre disso tudo. Um vislumbre de esperança, de que eu seria muito mais do que o homem vil que meu pai sempre quis.

Grande erro.

Como tudo de bom que sequer pudesse acontecer na minha vida, ele também havia sido me arrancado.

Soltei um longo e pesado suspiro.

— Saudades? — a mulher interrogou.

— Não nos incomode em hipótese alguma! — ordenei ao meu subordinado que finalmente nos deu privacidade. Ela exibia um grande sorriso de uma ponta a outra e um olhar malicioso.

— Talvez — respondi ela mudando minha expressão — Preciso que faça algo por mim — Falei.

Ela então se aproximou com um olhar faminto e um sorriso de determinação.

— Qualquer coisa por você, bonitão! — Declarou após dar uma piscadela e eu não senti absolutamente nada.

Mr. Blake - King Of Crime (Sem Revisão) HiatusOnde histórias criam vida. Descubra agora