Filho de peixe...

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Durante o voo para a Italia eu sequer cogitava a possibilidade de pregar meus olhos, frustração e insônia já haviam se tornado parte da minha rotina desde que Victória havia sido capturada, ninguém sabia ao certo o que havia acontecido naquele dia, só sabíamos que infelizmente ela havia se tornado prisioneira daquele doente.

Eu observava a intensidade daquele tom azul do céu, do jato passando pelas nuvens e me via perdido em algumas memórias.

Flashback on

Já passavam das oito e eu havia acabado de chegar do treino de lacrosse, cumprimentei os seguranças e os empregados ao passar pela entrada, eu estava subindo as escadas quando ouço uma risada escancarada me fazendo parar na metade, viro-me para trás e reparo num Christopher cambaleando de bêbado com os braços envolvidos nos pescoços de duas mulheres bonitas que usavam casacos de pele, provavelmente prostitutas, esse era o tipo do meu pai.

— Ora ora se não é meu pequeno prodígio! — Meu pai pronunciou com a voz enrolada e num tom sínico, as mulheres me olharam rindo, boas atrizes ou apenas estavam tão bêbadas quanto meu velho, observei a garrafa de Jack pela metade em sua mão e a cena ridícula dos três tentando chegar ate onde eu estava, os empregados e os seguranças observavam também, eu sinceramente as vezes não conseguia entender como as pessoas podiam admirar Christopher, em certas ocasiões ele conseguia ser tão patético.

— Senhor, deixe-me ajudá-lo! — Um deles tentou se aproximar mas meu pai fez um sinal com a mão para que ele se mantivesse onde estava.

— O que você quer? — Questionei irritado e ele se afastou das duas mulheres.
— Podem ir subindo garotas, eu já alcanço vocês. — Ele disse puxando uma delas pela mão e provavelmente sussurrando alguma coisa suja em seu ouvido, ela corou de vergonha e olhou para a "amiga" e as duas riram — Quinta porta a esquerda! — Ele as orientou soltando a mão da morena, a morena puxou a amiga ruiva e ambas passaram por mim rindo e me analisando. Bufei impaciente e então removi a alça da minha bolsa do ombro que foi ao chão junto de meu taco.

— Você ainda esta jogando essa porcaria? — Meu velho questionou olhando para a minha roupa e para o taco de lacrosse com desprezo.

Bufei com raiva e resolvi me sentar nos degraus da escada esperando que ele desse o seu showzinho.

— O que significa isso? — Questionou com a voz alterada.
— Isso o que? — Repliquei.
— Por que esta sentando?

Soltei uma risada sarcástica.
— Estou cansado demais pra assistir o seu showzinho em pé! — Respondi revirando os olhos, Christopher riu — Seu merdinha mal agradecido — Resmungou vindo até mim — Eu sou seu pai, mereço respeito! — Exigiu e eu contive-me para não rir, entretanto, falhei.

Soltei uma risada o deixando mais furioso — Respeito? — Falei o lançando um olhar de desprezo — Você não me parece em condições de exigir respeito.

Christopher tentou subir as escadas na tentativa de me alcançar mas acabou caindo ainda com a garrafa na mão.

— VENHA AQUI SEU FEDELHO DE MERDA PRA EU LHE ENSINAR UMA LIÇÃO! — Gritou enraivecido e eu novamente ri enquanto os empregados observavam a cena me lançando olhares de pena, eles não podiam fazer nada, caso se metessem meu velho tornaria a vida deles num inferno. E também, no estado em que Christopher estava eu duvida que ele pudesse sequer fazer alguma coisa, a verdade era que ele ladrava demais e não mordia porra nenhuma. Meu pai não era do tipo que me batia ate porque eu possivelmente daria uma surra nele, mas álcool e provavelmente alguma outra droga pesada eram uma combinação perigosa.

Continuei sentado o observando usar o corrimão da escadaria para levantar-se.

— EU AVISEI QUE NÃO QUERIA VOCÊ JOGANDO ESSA BOSTA. POR QUÊ NÃO VAI APRENDER GOLFE OU ALGO MAIS ÚTIL PARA OS NEGÓCIOS?! — Berrou com fúria.

Ele queria que eu aprendesse golfe pra poder jogar com os políticos imbecis que estavam na nossa folha de pagamento. Queria que eu me tornasse amigo dos filhos deles, queria que eu abrasasse esse maldito estilo gângster quando o que eu mais queria era dar o fora dali e viver minha fodida e simples vida, mas a única coisa que me impedia eram meus irmãos e ele sabia e me chantagearia quantas vezes fosse necessário.

— Porquê são coisas que não me atraem! — Respondi simplesmente e o vi bufando, logo em seguida a garrafa de uísque voo do meu lado atingindo um degrau e virando cacos espalhando o líquido, me levantei assustado e quando reparei sentia uma leve ardência na nuca, a toquei e quando observei minha mão, havia um pouco de sangue, um dos cacos tinha me cortado mas não feito um grande estrago. Os empregados me olharam aflitos e ate Louise, nossa governanta deu alguns passos querendo me ajudar mas um Christopher bêbado e irracional a impediu.

— QUEM OUSAR SE METER, JURO POR DEUS QUE ACABO COM SUA RAÇA! — Ameaçou gritando, bufei irritado.

— Tudo bem Louise, não se preocupe foi um pequeno corte! — Falei tentando acalma-los.

— Tristan, você vai descer aqui agora para "conversarmos" e vai deixar que eles limpem essa merda! — Meu velho mandou num tom mais moderado.

— Por que você mesmo não limpa? Seu bêbado idiota!

— PORQUÊ EU PAGO ELES PRA ISSO! — Gritou novamente.

— O que ta acontecendo? — Nós dois olhamos para o início das escadaria, eu vi um Bryan de pijamas nos olhando confusos e uma Lisa coçando os olhos. Assim que entenderam que se tratava de mais uma das discussões entre nosso pai e eu, ambos começaram a chorar e meu velho pareceu voltar a si.

— Esta contente? — Questionei olhando meu pai com raiva.
— Crianças desculpem! — Ele pediu parecendo estar arrependido, eu estava prestes a subir as escadas para confortar-los quando fui impedido.

— SENHOR TRISTAN OS CACOS! — Louise me avisou com seu sotaque meio russo, impedi meus movimentos — Eu irei limpar, não se preocupe! — Ela disse virando-se para pedir que lhe trouxessem uma vassoura, observei meu pai chorando e confuso deitando-se nos degraus e meus irmãos ainda com medo e chorando.

Aquilo era um caos.

Flashback off

Meu pai era um homem cheio de defeitos e conforme o tempo foi passando, eu começava a me dar conta do quanto éramos parecidos. Ele havia conseguido com que eu abdicasse de todos meus sonhos e planejamentos longe de L.A e longe do caos que ele atraia. Eu nunca quis essa vida mais depois de um tempo você simplesmente se acostuma.
Poder e dinheiro viram uma sede quase que insaciável e depois de um tempo matar, ameaçar e jogar com o objetivo de mantê-los torna-se banal e ate prazeiroso.

E eu não queria, não queria ser como meu pai e não queria que meu filho ou filha fosse como eu.

Mr. Blake - King Of Crime (Sem Revisão) HiatusOnde histórias criam vida. Descubra agora