Um probleminha

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Oito anos atrás...

Ouvi com atenção o sermão do padre, era um desperdício de saliva e bonitas palavras para um ser tão desprezível quanto Christopher.

"Quem nos separará do amor de Cristo? A tribulação, ou a angústia, ou a perseguição, ou a fome, ou a nudez, ou o perigo, ou a espada?"
     — Romanos 8:35

Eu gostaria de responde-lo que tudo aquilo, tudo aquilo que ele havia acabado de falar separava Christopher do criador. Controlei meu sorriso e impedi as piadinhas frias que meu cérebro automaticamente tecia. Ele falou mais uma caralhada de coisas. Tudo e mais um pouco do que Christopher não era. Apenas duas vezes em toda a minha vida eu havia visto um reles lampejo de humanidade naquele parasita. Quando ele havia adotado Lisa e outra vez, quando havia perdoado a divida de um homem que tinha três filhas e era alcoólatra.

"E, como aos homens está ordenado morrerem uma vez, vindo depois disso o juízo,"
    — Hebreus 9:27

O padre finalizou e novamente eu continha-me para não demonstrar o que eu realmente estava sentindo. Minha irmã estava abraçada a mim, derramando lágrimas por aquele infeliz e sofrendo de verdade. Embora ela tivesse ciência apenas do que eu queria que ela soubesse da minha relação com nosso pai, seria cruel da minha parte querer que ela não tivesse nenhuma empatia por ele.
Então eu estava consolando-a como eu podia, era triste ver alguém tão importante para mim desperdiçar suas lágrimas por um homem tão baixo e infame.
Era chegada a hora de descer o caixão, a primeira quantidade de terra deveria ser colocada por uma pá pelo membro mais próximo da família, de forma simbólica.

E eu só mantinha na minha cabeça que onde quer que, aquele infeliz estivesse, ele estaria adorando esse showzinho.

Respirei fundo, sem acreditar no que eu estava me prestando e caminhei ate a pá. Abruptamente, Bryan tomou a minha frente e foi primeiro.
Respirei fundo, observei a nossa volta e notei em alguns olhares distantes. Soltei um longo suspiro e decidi ignorar a parte do meu cérebro paranoica. Relevei pois estávamos em um enterro, ele obviamente não estava se sentindo bem, afastei minhas desconfianças e apenas continuei a segurar Lisa em meus braços.

Prestes a colocar a primeira terra que cobriria a morada final de Christopher. Bryan parou, fixou o olhar no caixão por alguns segundos. Provavelmente despedindo-se, seguidamente ele realizou a ação. A primeira pá foi erguida e a terra despejada. Ele afastou-se e os funcionários do cemitério puderam terminar seu trabalho.
Muitas flores, muito choro e muitas figuras importantes. Estávamos sendo estrategicamente analisados.

Deixei Lisa com Julian um pouco e me coloquei diante da cova. Acendi um cigarro e fiquei observando os funcionários fazerem seu trabalho. Bryan parou ao meu lado.
— O que foi aquilo? — por mais que eu não quisesse fazer isso, infelizmente a minha necessidade de sanar minhas desconfianças havia levado a melhor ali.
— Aquilo o que? — ele repetiu.
— Você, tomando a frente... —
— Não tenho a menor ideia do que você esta falando! — Bryan respondeu e eu melhor do que ninguém reconhecia o seu tom de sonso.
— Claro! — concordei sínico.
— Estou falando sério!
— Eu praticamente te crie, você acha mesmo que consegue mentir pra mim?
— Você odiava Christopher — ele rebateu, finalmente admitindo implicitamente.
— E isso não muda o fato de que existe a porra de uma hierarquia a ser respeitada — o relembrei em um tom ríspido — O que você acha que os "amigos" dele sentiram ao ver isso? Você nem mora mais em Los Angeles Bryan, chega aqui como se fosse o dono da cidade e simplesmente ignora as regras básicas do meu mundo.
— Bom se eu estivesse aqui, nada disso seria estranho — começou o velho papo.
— Foi pra isso que você veio?
— Não Tristan, eu vim para enterrar o meu maldito pai.

Revirei meus olhos — Espero que esteja longe de Los Angeles amanhã — avisei em um tom hostil.
Bryan bufou — Você é um desgraçado — murmurou com rancor.
— Não é nada que eu já não tenha escutado! — respondi ríspido, ele saiu da minha vista antes que nossa "conversa" progredisse para algo pior.

Agora...

— O que exatamente nós estamos fazendo aqui Tristan? — Julian questionou, tomei mais um gole do uísque e erguia a garrafa para cima.

— Um brinde! — declarei — Um brinde a esse desgraçado que mesmo morto conseguiu conquistar todos os seus objetivos.
— Tristan? — Senti a confusão no tom de voz dele.
— Eu cansei de tentar fingir ser algo que eu não sou e de querer ter coisas que eu nunca poderei ter.
— Você está se referindo à Victória? — ele foi curto e direto.
— Lembra quando eu disse que não seria ele Julian? — questionei após um longo suspiro.
— Cada dia que passa tem ficado cada vez mais impossível.
— Mas você não é Christopher! — Julian rebateu.
— Eu disse que eu estou exausto Julian, apenas vou abraçar esse lado que eu odeio de uma maldita vez.
— Sabe qual é um dos meus maiores arrependimentos? — Julian questionou.
— Não!
Estella! — ele pronunciou o nome, fazia muito tempo que eu não escutava aquele nome.
— Ela te amava Tristan... — Julian revelou — Ela ia aceitar o pedido de casamento.

Eu solto uma risada dolorida.

— infelizmente, a segurança da família dela era prioridade, Christopher sempre foi "bem" convincente!
— Por que você esta falando sobre isso Julian?
— Não sei, o que eu sei é que seu pai esta morto e não existe nenhum tipo de obstáculo entre você e Victória.
— Ela beijou outro cara Julian — repassei a cena dolorosa na minha cabeça. — Ela passou meses me ignorando.
— Você tem certeza de que viu tudo?
— Ah pelo amor de Deus Julian! — resmunguei com raiva.
— Tristan.... — Julian se auto interrompeu, seu telefone estava na mão e provavelmente ele havia recebido alguma mensagem.

— Blake, nós temos um problema!
— Que problema?
— Victória "esbarrou" em Kyle!

Antes que eu esboçasse qualquer reação, Julian já estava com o celular no ouvido.

Mr. Blake - King Of Crime (Sem Revisão) HiatusOnde histórias criam vida. Descubra agora