"Sorriso largo, olhos brilhantes, que ame animais..." Foram os traços que descrevi em um bilhete adornado com corações cor-de-rosa, delineando o homem ideal, pelo menos aos meus olhos, antes de cruzar o caminho de Lucas.Há cerca de três anos, no meu primeiro dia de aula na faculdade de jornalismo, em uma manhã ensolarada de céu azul, eu me encontrava completamente perdida. Com gentileza, ele me guiou até a sala de aula, percebendo que eu estava vagando em círculos entre os corredores há quinze minutos.
— Você é nova aqui? — Ele perguntou com um sorriso simpático, mostrando seus dentes brancos e alinhados.
— Sim, eu sou. Estou procurando a sala 304. — Eu respondi com um tom nervoso, segurando a minha mochila com força.
— Ah, eu também estou indo para lá. Vem comigo, eu te mostro o caminho. — Ele disse, pegando a minha mão e me puxando suavemente.
Eu senti um calor subir pelo meu braço e um frio na barriga. Ele era lindo, com seus cabelos castanhos bagunçados e seus olhos cor de mogno que brilhavam como duas estrelas. Ele parecia o príncipe encantado dos meus sonhos.
Não muito depois disso nos tornamos melhores amigos e como mágica ele era as minhas palavras impressas em tamanho real ou como se fossemos o mesmo tom de roxo, vermelho ou qualquer cor condizente.
Me apaixonei inevitavelmente. Seus olhos cor de mogno e cílios incrivelmente longos provocavam um turbilhão em meu estômago, fazendo-me acreditar que ele era a pessoa que sempre sonhei encontrar em toda a minha vida.
Seu sorriso, seu jeito brincalhão e a maneira como ele fazia piadas sobre tudo o tornavam, em qualquer situação, minha companhia perfeita.
"Você procura o amor? Acredite ele não mora mais aqui. Foi embora por aquela porta sem mim. Eu costumava acreditar que o amor vencia tudo, porque era exatamente isso que eu via nos filmes. Acabei descobrindo que não é nada assim, a realidade é muito diferente."
O timbre metálico, firme e marcante de uma artista desconhecida ecoava na rádio, entoando uma canção que parecia se encaixar perfeitamente com o momento atual. Lilly estava ao volante de seu Fiat Argo vermelho, e eu ao seu lado.
Lágrimas salgadas deslizam pelo meu rosto, meus pés parecem inquietos, e meus olhos estão fixos, perdidos em pensamentos, enquanto olho para o vazio pela janela do banco de passageiro a caminho do Aeroporto Internacional de São Paulo, com destino a Seoul, Coreia do Sul.
Impaciente, Lilly desliga o rádio.
— Você deveria ter expressado seus sentimentos — Ela vacila por um momento, como se estivesse incerta sobre o que falar em seguida — Eu avisei que essa possibilidade existia. Era natural que ele pudesse encontrar alguém.
Palavras erradas, Lilly.
Discretamente, seco as lágrimas, como se ela não tivesse percebido, e a evito, fingindo que não ouvi o que ela disse.
Ele deveria estar aqui conosco para a despedida. No entanto, no instante em que ele admitiu estar apaixonado por alguém que conheceu recentemente na faculdade, nossa amizade sofreu uma transformação instantânea. Lucas afirmou amá-la, como se fosse possível amar alguém que mal conhece. E eu? Acreditava que havia uma conexão entre nós, que ele sentia o mesmo.
Não consegui segurar o ciúme e a frustração, e, embora não tenha admitido os motivos, comecei a me distanciar aos poucos. Estava causando dor a ele e a mim mesma. Nossa convivência se tornou insustentável, e era imperativo que parássemos antes que feridas profundas e irreparáveis se formassem.
— Você parece distante. O que está acontecendo? — Ele indaga em nossa última chamada, com a voz trêmula e tristeza evidente em seu tom.
— Estou ocupada com os preparativos para a viagem — Tento manter uma postura fria, apesar da dor interior — Vou encerrar a ligação.
Em questão de horas, estarei embarcando para a capital coreana, em uma jornada longa. Deveria estar contente, pois sonhei com esse momento nos últimos cinco anos, desde que me apaixonei pelo país do leste asiático. E agora, estou aqui, consciente de que os desafios são altos.
Lilly fez uma aposta, duvidando que eu sobreviveria uma semana longe de casa. Ela disse que estou louca, e talvez ela tenha razão. No entanto, nos próximos meses, estarei participando de um programa de idiomas para estudar coreano na SOL University.
Enquanto seguimos viagem, Lilly repete algumas vezes:
— Você é incrível, garota, e será muito feliz. — Eu forço um sorriso e assinto.
Não tenho certeza se devo acreditar nessas palavras ou se devo parar de ser tão pessimista.
O vento frio entra pela janela aberta e bagunça os meus cabelos ruivos. Eu sinto o cheiro de gasolina e de borracha queimada do carro de Lilly. Ela aumenta o volume do som e coloca uma música animada para tentar me distrair. Eu olho para o relógio no painel e vejo que faltam apenas dez minutos para chegarmos ao aeroporto. O meu coração está partido em mil pedaços, como um espelho quebrado. Eu me pergunto se algum dia vou ver Lucas de novo, ou se ele vai esquecer de mim como se eu fosse uma folha seca levada pelo vento.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Amor de Algodão Doce
RomanceElla, sempre acreditou no amor dos livros, aquele que faz o coração disparar. Seu melhor amigo, Lucas, parecia ser a pessoa certa, o encaixe perfeito. Mas o roteiro tomou outro rumo quando ele se apaixonou por alguém que conheceu na faculdade. Decid...