04

109 10 1
                                    

Minha bagagem pequena e essencial está pronta, porém Chai continua desaparecido. Chai é o meu ursinho de pelúcia, que já perdeu a cor original de tanto sujar.

Desde que vim para a Coreia do Sul, conheci poucos lugares, pois passo a maior parte do tempo na faculdade. Fomos a alguns templos e outro dia visitamos o Museu Nacional, mas guardo especialmente a imagem do Rio Han, uma das paisagens que mais gosto de Seul.

Finalmente, estamos partindo para Busan, meu coração está animado e minha ansiedade está nas alturas.

— Chai! — Eu grito ao ver minha pelúcia nas mãos de Luana, que a segura com nojo. Eu corro até ela e pego o meu ursinho, abraçando-o com alívio.

Luana faz uma careta e diz, usando o meu nome completo: — Manuella, você tem idade para isso? Parece uma criança de cinco anos!

— E você parece uma velha intrometida! — Eu retruco, irritada. — O Ministério da Saúde adverte: cuidar da própria vida é mais saudável!

— O Ministério do Amor adverte: você precisa arranjar um namorado para resolver seu problema de carência. — Ela fala com seriedade, mas logo sorri.

— Eu não tenho um problema e... não preciso de um namorado, palhaça! — Eu jogo um travesseiro nela, que revida. Assim começa uma guerra de travesseiros entre nós.

A viagem até Busan é longa, com mais de quatro horas de duração. Eu caminho pelo corredor do ônibus em busca de um lugar para sentar e avisto um assento vazio no fundo.

No banco da janela, um jovem coreano dorme profundamente, com o capuz do moletom preto cobrindo parte do seu rosto. Ele segura um livro em seu colo, o mesmo livro que eu vi outro dia na mão de um coreano bonito por quem as garotas suspiravam na biblioteca. Ele também usa fones de ouvido que tocam uma música animada, que contrasta com a sua expressão serena.

Eu me aproximo com cuidado e me sento ao seu lado, tentando não incomodá-lo. Mas, ao fazer isso, o livro escapa das suas mãos e cai no chão. Eu me abaixei rapidamente para pegá-lo.

Eu sinto uma pontada de curiosidade e olho para o coreano adormecido, mas não consigo ver o seu rosto. Eu devolvo o livro para o seu colo e me ajeito no banco. Eu percebo o seu perfume robusto e amadeirado, incrivelmente bom.

Eu fico tentada a cheirar mais de perto, mas me controlo. — Não age como uma louca.

Eu abro a minha agenda e folheio as páginas. Encontrei uma pergunta que eu escrevi há algum tempo: “Qual é o sabor do amor? Será doce como algodão-doce?” Sorrio sem graça e viro as páginas. Eu encontrei uma carta que eu escrevi sobre o meu homem dos sonhos.

Será que eu vou encontrar alguém assim?

Eu penso em tudo o que eu sofri pelo Lucas e percebo que não sinto mais nada por ele. Eu superei o amor, a dor, a mágoa e a frustração.

Foi difícil, mas eu consegui. Eu aprendi a desapegar. Ele não me amou? Eu deixei de amá-lo.

Volto à realidade quando o coreano ao meu lado se move e encosta a cabeça no meu ombro. Sinto uma tensão crescer, sem saber como reagir. Enquanto ele respira calmamente, como se estivesse em paz, a curiosidade em mim aumenta. Ainda não vi o seu rosto; quem será ele? As respostas permanecem desconhecidas, mas uma vontade de descobrir cresce em mim. Talvez esta viagem signifique mais do que aparenta.

Amor de Algodão DoceOnde histórias criam vida. Descubra agora