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Escuto murmúrios quase inaudíveis surgindo da mesa ao lado. Maysane, uma intercambista francesa e suas amigas, estão claramente interessadas em um aluno coreano profundamente imerso em seu livro, cujo título parece relacionar-se com administração financeira ou algo do gênero.

Longos e pausados suspiros — "Ele é tão bonito!" — concordam em uníssono.

É uma sexta-feira à noite, e ainda estamos na biblioteca. Luana concordou em me ajudar a aperfeiçoar meu coreano, e, ao contrário das outras garotas, nossa distração é Matthew, um americano de Minnesota com uma beleza admirável.

Matthew é incrivelmente alto e tem uma aparência impressionante, destacando-se especialmente pela sua pele morena e seus olhos cor de azeitona.

Devo confessar que senti um arrepio na barriga quando nossos olhares se cruzaram no dia em que ele devolveu a caneta que deixei cair no chão.

A Senhora Choi anuncia que a biblioteca fechará em dez minutos. Luana, rapidamente, encerra a leitura de seu livro didático e senta-se ao lado de Matthew para iniciar uma conversa. Fico surpresa! O que ela está fazendo?

Procuro por Luana na saída, mas não a encontro. Ela chega muito mais tarde no dormitório, com um sorriso que parece indicar que ganhou na loteria.

— Tenho um encontro marcado para amanhã no Festival das Flores de Primavera — ela anuncia, dirigindo-se à sua cama. Seu passo parece mais leve, quase flutuante. Embora não tenha certeza, espero que ela não mencione o nome dele: Matthew. — Matthew vai me ensinar verbos e adjetivos em coreano. — Conclui, deitando-se na cama extasiada.

— Você é a melhor aluna que conheço, inclusive é muito avançado para a nossa turma.

— Tudo bem, ele não precisa saber disso! — ela sorri.

Admito que senti um leve ciúme, resultado de uma atração que tive por ele, mas nada que possa ser considerado sério. Afinal, foi por Lucas que chorei mais cedo.



No Festival das Flores de Primavera, no Parque Yeouido, em Seul, as mais de mil árvores de cerejeira estão repletas de flores rosas e brancas. É a primeira semana de abril.

Caminho sozinha, e observo Luana e Matthew sentados em um banco de madeira lendo um livro. Formam um belo casal, não posso negar.

O clima ameno torna o dia extremamente agradável. Eu sempre sonhei em vir para Seul, a cidade que me encantou com sua cultura, sua história e seus dramas. Mas agora que estou aqui, sinto que falta algo. Talvez seja o amor, aquele que eu via nas telas e que me fazia suspirar. Eu me sinto sozinha, cercada de casais felizes e apaixonados.


O aroma doce e delicado das flores de cerejeira invade as minhas narinas, enquanto o vento brinca com os meus cabelos. As pessoas passeiam pelo parque, tirando fotos e admirando a beleza da natureza. Eu me sinto como se estivesse em um conto de fadas.

Enquanto tento capturar com meu celular a perfeição das flores, alguém esbarra em mim e faz com que meu celular caia no chão. A pessoa claramente estava distraída.

Minha primeira reação é verificar se o impacto danificou o aparelho. Felizmente, está ileso, o que me traz um alívio momentâneo seguido de uma onda de indignação.

Dominada pela raiva, meus olhos se fixam nos olhos escuros como diamantes.

Ele segue seu caminho, aparentemente em câmera lenta, sem proferir uma única palavra, nem ao menos um ‘Desculpe’. Que falta de educação, penso em repreendê-lo, mas hesito. Há algo nele que me intriga. Talvez seja seu ar misterioso, já que não tive a chance de reparar bem em seu rosto, ou o jeito distraído e desinteressado que ele demonstra. Ou talvez seja o fato de estar segurando um livro idêntico ao do aluno coreano que vi na biblioteca. Será que o encontrarei novamente?

Amor de Algodão DoceOnde histórias criam vida. Descubra agora