Três ou quatro? Uma, duas... conto e recontando em minha mente, esforçando-me para recordar quantas vezes o garoto de Busan usou a palavra "desculpas" ontem, justamente quando eu precisava focar nas instruções do professor Kim para a prova que estava prestes a começar.
— E lembrem-se: Vocês possuem precisamente sessenta minutos para finalizar a primeira etapa da prova — explicou. — A enfermaria está disponível para qualquer imprevisto, como diarreia ou vômitos, e a senhorita Park Hye-mi estará à disposição para auxiliá-los — tentou descontrair, procurando aliviar a tensão que pairava no ar. Eu poderia ter dispensado a última frase, uma vez que logo comecei a suar em excesso.
Dae-hyun, como se escreve em letras coreanas? Pergunto a mim mesmo enquanto olho para o espaço em branco na folha onde devemos colocar nosso nome.
— Devo estar ficando louca. — Sussurrei sem perceber que minhas palavras saíram audíveis.
— Alguma dúvida? — O Sr. Kim questionou quando o vi à minha frente, e não era o único a me observar.
— A-Aniyo — Com um movimento rápido, balancei nervosamente a cabeça.
Nesse momento, o professor olha para o relógio em seu pulso, como se estivesse contando os minutos.
— Vocês podem começar.
Eu me inclino sobre a mesa, massageando minha testa para aliviar a dor de cabeça. Com as mãos suadas e trêmulas, tento afastar da mente as palavras "diarreia" e "vômitos" - minha confiança está abalada.
Cerca de meia hora depois, percebo que mal consegui preencher a segunda folha. Dou um suspiro de frustração, lutando contra a vontade de olhar por cima do ombro para ter certeza de que não sou a única atrasada.
De pé na fila com uma bandeja nas mãos, aguardando minha vez para me servir, tenho a impressão de ter visto Matthew flertando com uma garota que não é a Luana. Afasto freneticamente essa ideia, jurando a mim mesma que deve ser um mal-entendido, e me encaminho até uma mesa.
De repente, ele está falando comigo: — Annyeonghaseyo, hola, mi nombre es Matthew.
Rapidamente cobri com o braço o cantinho do caderno onde eu tinha rabiscado "Daehyun" em letras coreanas. Ele sorriu, se esforçando para parecer charmoso, ao sentar-se à minha frente.
— Hi? I don't speak Spanish. — Respondi em inglês e fechei meu caderno.
— You're not from Brazil?
— Huh.
— Well? — Ele parece perplexo. — Imaginei que todos na América do Sul falassem espanhol.
— No Brasil, falamos português. — Sorri com educação, embora, lá no fundo, me sentisse desconfortável com sua presença.
Não quero que Luana nos veja juntos, pois isso só alimentaria a teoria de que pretendo roubar seu namorado.
— Acho que uma amiga brasileira já me disse isso antes. Desculpe, tinha esquecido — Ele jogou os cabelos para trás e exibiu um sorriso branco como a neve. A única coisa que passa pela minha cabeça é "Amiga brasileira"? Tenho certeza de quem ele está falando e sinto um forte desejo de dar um chute na canela dele. — O que realmente importa é que, sem dúvida alguma, as mulheres brasileiras são as mais bonitas do mundo. — Ele continuou com aquele sorriso travesso no rosto.
Estou ficando paranóica ou ele está flertando comigo?
Para minha surpresa, Luana se sentou ao nosso lado e percebi que ele instantaneamente ficou constrangido.
— Do que estão falando? — Ela tenta manter uma expressão o mais natural possível, enquanto entrelaça seu braço com o dele.
— Ah! — Ele começa a explicar — Eu mencionei que você me disse que no Brasil vocês falam português e quem sabe me ensina algumas palavras.
— Claro, podemos fazer isso agora mesmo. — Ela olha intensamente para ele, e eu percebo um brilho em seus olhos. Um olhar que não deixa dúvidas, um olhar apaixonado.
Ela o persuade a se levantar, e os dois partem sem rumo aparente. Nesse momento, sinto uma onda de compaixão por ter provas de que minha amiga - porque ainda a considero assim - está sendo enganada por aquele sujeito.
Decido levantar também e devolver minha bandeja ao seu lugar. À medida que me encaminho para fora do refeitório, deparo-me com Maysane e seu grupo se aproximando na minha direção.
Meu coração deu uma pausa de um segundo, e então elas mudaram de direção, e eu pude respirar novamente.
Por acaso, olhei para trás e vi Daehyun concentrado em seu celular, apoiado na parede. Cheguei à conclusão de que essa era a razão pela qual elas não vieram me importunar, e agradeci mentalmente por ele estar ali naquele momento.
Durante a prova na manhã de hoje, fiquei totalmente convencida de que meu desempenho foi apenas mediano, e nada me faz pensar o contrário. Essa incerteza me deixa insegura, e passo a tarde na biblioteca, estudando o máximo que consigo.
Mergulho em minhas anotações, desta vez sem fazer rabiscos nos cantos das páginas. Observo alguns alunos conversando entre si, confiantes e satisfeitos com suas respostas, e o medo de fracassar só aumenta.
“Como se escreve Dae-hyun?” Tento escrever o nome dele várias vezes.
“Dae-hyun de quê? Kim, Park, Choi, Kang...”
Borboletas dançam em meu estômago sempre que suas covinhas vêm à mente. Automaticamente, dou um tapa na testa com a mão. — Não viaja, Manuella.
Próximo ao anoitecer, já extremamente exausta, decidi voltar ao dormitório.
Segurando meus livros em um dos braços e tentando não derrubar o copo com chá gelado que carregava na mão, dei um passo para trás quando flagrei Matthew aos beijos com alguém no final do corredor.
Sem pensar duas vezes, deixei os livros caírem no chão e avancei até eles, separando os corpos com um impulso que nem sabia que tinha coragem de fazer. Lancei o chá gelado em seu rosto, deixando a garota boquiaberta e ele sem palavras.
Saí de lá sentindo-me realizada. No entanto, ponderava se deveria ou não contar a Luana o que acabara de testemunhar.
Enquanto atravessava o campus, indo direto para o dormitório, ouvi alguém gritar:
— Ei, namorada do Park Seo Joon, consegue um autógrafo do seu amado para mim?
Olhei de um lado para o outro, tentando descobrir se era comigo que estavam falando. Em seguida, YeJun correu até mim.
— Noona, não sabia que você era tão obcecada pelo Park Seo Joon — Ele riu sarcasticamente e piscou. Eu fingi não entender, e ele continuou: — Olha na comunidade...
Tirei o celular do bolso e abri o site. Vi que Daehyun havia deixado um comentário em uma postagem que especulava sobre nós estarmos em um relacionamento.
💬
“A foto em questão, não reflete um relacionamento romântico. Embora a imagem possa parecer íntima, a realidade é que eu mal a conheço. A situação foi um mero acaso, e não há nenhum envolvimento romântico entre nós. Peço que evitem tirar conclusões precipitadas.
Além disso, ela fala dormindo e é obcecada pelo Park Seo Joon, além de ser meio sonâmbula. Ela tentou me agarrar e disse: "Seo Joon Oppa Saranghae." Parece que ela tem um gosto impecável quando se trata de atores coreanos!
Seu comentário desencadeou uma série de outros comentários, mas eu me recusei a lê-los. Como ele poderia ser tão irritante e babaca, agindo como um moleque mimado de dez anos?
No meu quarto, arrumei minha escrivaninha, organizei minhas coisas para o dia seguinte e fui para debaixo das cobertas.
De repente, uma crise de risos tomou conta de mim quando me lembrei do comentário idiota daquele sujeito, afirmando que eu tinha feito coisas que tenho certeza de que não fiz.
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Amor de Algodão Doce
RomanceElla, sempre acreditou no amor dos livros, aquele que faz o coração disparar. Seu melhor amigo, Lucas, parecia ser a pessoa certa, o encaixe perfeito. Mas o roteiro tomou outro rumo quando ele se apaixonou por alguém que conheceu na faculdade. Decid...