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— Maníaco d… — Limpo a garganta, percebendo que quase o chamei pelo apelido que inventei — Quer dizer, garoto de Busan?

Estou perplexa com a pessoa que está diante dos meus olhos e tento agir da maneira mais natural possível.

— Pensei que já tivesse percebido quem eu sou.

Ergo o olhar para examiná-lo. Uma expressão estranha surge em meu rosto, sem entender o que ele quer dizer com "quem sou".

Ele permanece de pé, com sua mochila nas costas, mesmo que o ônibus já esteja em movimento.

Seus olhos são indiferentes, e não consigo decifrar o que estão expressando agora.

— Quem sou? — Repito confusa.

Ele suspira antes de soltar a mochila e sentar-se, aparentemente esquecendo a briga pelo lugar junto à janela.

— Não foi você que me fez bater a cabeça outro dia? Aquilo doeu muito.

Dou de ombros. Jamais imaginaria que era ele naquele dia ou que me viu. Queria poder negar, mas não conto mentiras, essa é a minha regra de ouro.

— Me desculpe? — Respondo da forma mais comum, com um olhar suplicante e um sorriso falso.

Em vez de responder, ele revira os olhos.

— Eu costumo enjoar ao andar de ônibus, é por isso que prefiro o lado da janela. — Ele confessa, me deixando constrangida por discutirmos sem motivos relevantes.

— Ok, vamos trocar de lugar. — Levanto-me para fazer a mudança.

Ele me dá um sorriso tímido, e meu coração quase derrete.

— Tudo bem, tomei um remédio para aliviar o enjoo. Eu só preciso relaxar.

Percebo alguns olhares femininos sobre nós, especialmente da francesa que sussurra com uma de suas amigas sobre qual idioma ele e eu estamos conversando.

Ela gosta dele. Agora tudo se torna claro.

O que ela não sabe é que seu obstáculo não sou eu, mas sim uma adolescente do ensino médio. Abafei uma risada.

— Onde estão? — Ele sussurra em coreano, e sua voz soa atraente.

Vejo que vasculha impacientemente a bolsa, procurando algo que não sei o que. Alguns de seus pertences caíram ao chão, e um papel pousou próximo aos meus pés.

Uma polaroid.

— Sua namorada é linda! — Entrego a foto da garota que protagonizou a cena romântica e bizarra com ele.

Ele me olha confuso por um momento e solta uma gargalhada amigável.

— Você acha que sou um maníaco?

"Precisamente o que penso", respondo mentalmente.

— Ela é minha irmã! — Ele esclarece — Estou solteiro, se era isso que você queria saber. — Ele permanece inabalável ao meu lado.

— Ela é realmente linda. E, não estou interessada em saber sobre sua vida amorosa, se era isso que você queria saber.

Olho para fora da janela, tentando evitar meu constrangimento, e sinto-me aliviada por estar errada. Ele pode ser presunçoso, mas pelo menos não é um conquistador de adolescentes.

Por fim, ele recolhe todos os objetos que caíram, encontra os fones de ouvido que procurava e uma segunda foto da família, na qual ele é o único homem.

A foto tem uma mensagem, e ele a observa com ternura, quase me fazendo esquecer que o detesto.

— Pensei que você fosse de Busan… — interrompi o silêncio entre nós.

— Eu sou de Busan, minha família mora lá. Mas estudo em Seoul — Ele coloca os fones de ouvido que encontrou em seus ouvidos.

A noite vai caindo lentamente sobre a cidade, e o trajeto de volta para Seoul é longo.

O silêncio domina o ambiente novamente, e o toque do meu celular parece alto demais, atraindo olhares de reprovação.

É uma chamada de vídeo de Lilly.

— Sua viagem foi tão empolgante que você se esqueceu de que tem uma amiga? — Antes que eu possa dizer algo, ela dispara: — Uau, quem é o bonitão ao seu lado? Finalmente encontrou um namorado?

Imediatamente meu rosto fica vermelho, o rubor agora é meu tom de pele.

— Obrigado. — O garoto de Busan inclina o corpo para ficar mais visível na câmera e sorri amigavelmente.

— Por que você não me disse que ele fala português? — Ela está boquiaberta.

— Lillian, conversamos em outro momento. Beijos…

A tensão toma conta do meu corpo, trazendo uma onda de calor, e o ar fica pesado. Sinto vontade de pular pela janela.

Restrinjo-me a apenas olhar pelo canto dos olhos. Ele acha graça da situação.

— Ignore a Lilly, ela é meio engraçada às vezes — minha voz sai baixa, desvio o olhar para não encontrá-lo nos olhos.

Sua única reação é concordar com a cabeça.

— Como você aprendeu português? — Tento quebrar o gelo.

— Você é muito curiosa para alguém do seu tamanho.

— E você, é um idiota! — Ele ri do meu comentário.

— Eu nasci em Busan… — Ele boceja ao colocar o capuz de moletom preto — ...mas morei boa parte da minha vida no Brasil.

Ele acomoda o corpo, virando-se para o meu lado, indicando que irá dormir. Estamos tão próximos que consigo sentir sua respiração me tocar.

— Seu cabelo… — Ele diz sonolento.

— O que tem meu cabelo? — Seguro uma mecha para verificar se há algo errado.

— Tem cheiro gostoso de abacaxi.

Não digo mais nada e noto que ele já está dormindo. Decido fazer o mesmo.

Fecho os olhos e involuntariamente respiro o aroma do seu perfume. Tinha esquecido o quão bom era, e também, o quão perceptível.

Amor de Algodão DoceOnde histórias criam vida. Descubra agora