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— Nossa! — Grito, cobrindo a boca com as mãos e sentindo um frio na barriga.

Tudo acontece tão rápido, que mal tenho tempo de pensar. Quero ir até ela, mas fico paralisada, meus sentidos parecem confusos, e, de repente, me falta o ar.

Meu coração dispara, e percebo que estou em apuros.

Aflita, deixo o celular escapar da mão, mas tento ajudar a senhora idosa que acabei de atropelar na areia.

Ela me olha com raiva, e eu não a culpo. Como pude ser tão descuidada? Esforço-me para me desculpar em coreano — Mianhae — é a única palavra que me vem à cabeça.

Sinto um nó no estômago, sei que não usei as palavras adequadas, pela expressão furiosa dela.

Joesonghabnida — digo em pânico, tentando me comunicar melhor, mas pronuncio errado, o que a deixa ainda mais irritada, berrando coisas que não entendo. — Me desculpe. Eu não vi a senhora.

— Não viu? Você é cega? — A senhora diz, irritada. — E você fala coreano muito mal.

— Eu sei. — respondo envergonhada. — Eu estou tentando aprender.

— Você deveria estudar mais. — A senhora diz, severa. — E também deveria respeitar os mais velhos.

— Eu respeito. — Digo, me defendendo.
— Foi sem querer.

— Sem querer? Foi um desastre. — A senhora diz, dramática. — Você poderia ter me machucado.

Minha visão começa a ficar turva com as lágrimas que tento segurar.

Estou envergonhada não só pelos olhares curiosos que se voltam para mim, mas também pela preocupação de ter ferido seriamente a senhora.

Enquanto isso, uma voz masculina pergunta em coreano: — Halmeoni, o que houve? — Ele se aproxima depressa e segura a mão dela com cuidado, verificando se ela está bem e sem ferimentos, imagino.

Ele suspira aliviado, passando a mão pelo cabelo negro e sedoso, e eu sinto vontade de fazer o mesmo.

Mentalmente, me xingo por ter causado esse transtorno todo.

Nesse momento, outra senhora, elegante e esbelta, que parece ter uns cinquenta anos, se aproxima, também muito preocupada, e leva a idosa para longe.

Já o jovem, que deve ter menos que trinta anos, fica parado e muito sério enquanto me encara com olhos semicerrados.

Seus olhos escuros são como ônix.

A maneira como ele me olha faz arrepios percorrerem meu corpo. Ele hesita por um instante, mas depois solta um monte de palavras que não consigo saber se são ofensivas ou não.

Seu tom é firme, mas não alto.

— Você é estrangeira, né? De onde você é? — Ele tenta suavizar a voz ao fazer a pergunta, franzindo o rosto.

Seu rosto é realmente bonito, e quanto mais eu o observo, mais parece que cada traço foi cuidadosamente esculpido para atingir a perfeição.

Seus olhos, redondos e brilhantes como diamantes negros, seus lábios finos e rosados, e seu cabelo bagunçado, mas igualmente negro, parecem formar uma obra de arte viva. É como se eu nunca tivesse visto alguém tão lindo.

— Eu sou do Brasil — respondo timidamente.

— Por que você não presta mais atenção? — Ele fala rápido. — Você poderia ter machucado minha avó.

Seus olhos estão cheios de raiva. Olhos familiares, tenho a impressão de já tê-los visto antes.

— Desculpe! Eu não quis... Por favor, me diga como posso me redimir?

Gaguejo nas palavras, sei que ele tem razão em estar bravo, mas por que ele está sendo tão rude comigo?

— Seja mais cuidadosa. Eu não sei o que faria se algo acontecesse com ela... — Ele faz uma pausa, respirando fundo.

Meu coração bate mais forte diante da possibilidade. Mas antes que eu possa me desculpar de novo, me dou conta de uma coisa.

— Espere um minuto, você fala português? — Faço a pergunta, sem perceber o quão estranha ela pode parecer.

— Qual é o seu problema? — Ele retruca, irritado.

Amor de Algodão DoceOnde histórias criam vida. Descubra agora