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Diante do vaso sanitário, Luana vomitou pela quarta vez. Desviei o olhar para não presenciar a cena.

— Está se sentindo melhor? — Ofereci-lhe uma garrafa de água. Ela bebeu um gole e assentiu com a cabeça.

Contive minha curiosidade sobre a noite anterior e dei a ela espaço para recuperar a sobriedade.

— Que tal sairmos para comer? Você paga! — Sugeri. — É o preço por cuidar de você a manhã toda.

— Claro, vamos alimentar o dragão. — Ela deu dois tapinhas na minha barriga. — Só preciso de um banho.

Fiz uma careta suplicante, mas não tive escolha senão esperar.

Enquanto Luana secava os cabelos com o secador e eu estava na cama, meu pensamento não conseguia escapar do episódio com o dono dos olhos de ônix. Toda vez que recordava a proximidade do seu corpo do meu, segurava a respiração, esquecendo que era necessário soltá-la.

— Será que o verei novamente? Espero que não! — Balancei a cabeça, lembrando que nosso encontro não planejado foi desagradável para ele.

— Do que está falando?

— Huh? — Voltei do transe com seus estalos de dedos.

Fomos a uma churrascaria brasileira em Busan. Sentia minhas mãos trêmulas de fome e talvez uma queda na pressão. No entanto, fomos bem recebidas.

O local não era grande, mas o ambiente era aconchegante, com decoração rústica e moderna, luzes suaves, pinturas nas paredes que lembravam o Brasil e uma bandeira brasileira em destaque no centro.

— Então, como foi sua noite ontem? — Perguntei enquanto saboreava uma deliciosa fatia de carne.

— Matthew me ligou sugerindo que nos encontrássemos, e eu... não pude recusar — ela disse constrangida.

— E...? — Fiz um gesto para que ela continuasse.

— Sabe, ontem à noite foi realmente estranho. — Ela fez uma pausa pensativa. — Estava no bar com meu namorado, e ele me deu tantas bebidas que acabei completamente bêbada.

— O que aconteceu depois?

— Bem, depois disso ele disse que precisava sair por um tempo. — Ela me encarou por um instante, parecendo na dúvida se devia compartilhar algo.

— Isso é muito estranho. Você acha que algo aconteceu com ele?

Finalmente, aceitamos a sugestão de sobremesa do garçom, e ela encontrou coragem para falar.

— Não tenho certeza, mas ele mencionou algo sobre ter recebido uma proposta para fazer coisas erradas antes de desaparecer.

Ela suspirou, passou as mãos no cabelo, e me inclinei sobre a mesa, ouvindo-a com muita atenção.

— Como você conseguiu chegar no hotel?

— E-eu n-não sei... — Ela corou. — Eu estava sozinha naquele bar e não sei como consegui chegar até o hotel.

— Que cara cretino! Como ele pôde te deixar sozinha nessa situação?

— Ele não é um cretino, quero ouvir o que ele tem a dizer.

— Acho que ele não é uma boa pessoa para você, amiga. — Tentei convencê-la com seriedade. — É melhor que você se afaste dele para o seu próprio bem.

— Como você pode me pedir para me afastar de quem gosto? Um erro não pode definir alguém. — Seu rosto se fechou com determinação.

— O que ele fez foi mais do que um simples erro, e eu não quero que você saia machucada.

— Você só está dizendo isso porque quer ficar com ele, não é?

— O quê? Não, de jeito nenhum! Eu não teria coragem de fazer algo assim com você!

— Admita que você já teve atração por ele. — Notei seus punhos cerrados.

Por um segundo, fiquei sem saber o que dizer.

— Sim, eu admito. Mas foi antes de vocês se conhecerem. Eu não trocaria sua amizade por um breve momento de atração.

— Entendi tudo, Ella! Você está com inveja. — Seu rosto ficou vermelho e contorcido.

— Luana, por favor... ainda está sob o efeito do álcool?

Não podia acreditar que tudo aquilo era mais do que uma brincadeira. No entanto, ela se levantou e saiu sem dizer mais uma palavra.

Amor de Algodão DoceOnde histórias criam vida. Descubra agora