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A temperatura é amena nesta época do ano. Amo a primavera, razão pela qual escolhi vir para a Coreia do Sul nesta época, a estação das belas flores de cerejeiras.

As flores começam a desabrochar no final de março no sul, na Ilha de Jeju, e continuam até o final de abril no norte. Já se passaram duas semanas desde a minha chegada, e talvez tenham sido as mais difíceis da minha vida. Sinto falta de casa, da minha melhor amiga e do meu cachorro Sulley, e a adaptação tem sido um processo lento.

Pelo menos, nos últimos dias, não tenho chorado pelos cantos por causa do Lucas. Afinal, tenho tantas outras coisas para processar que ele se tornou o menor dos meus problemas. No entanto, não posso negar que sinto falta dele.

Não consigo deixar de relembrar todas as vezes em que compartilhamos nossos sonhos, quando tudo em nós parecia se encaixar perfeitamente, pelo menos era o que eu pensava. Quanto a ele, seus pensamentos eram bem diferentes.

— De qualquer maneira, não acesse o Instagram! — Lilly adverte antes de encerrar a chamada às cinco da manhã, enquanto eu sussurro para não acordar minha colega de quarto. Mesmo que eu já tenha a alertado sobre a diferença de doze horas no fuso horário, ela sempre acaba esquecendo e me ligando em momentos inconvenientes.

Sem hesitar, ignoro por completo o seu pedido. De imediato, lanço um olhar irônico para a foto do casal, enquanto escuto os sons do meu coração se assemelham a vidro se quebrando em mil pedaços. Ela é linda, não posso negar, com um sorriso radiante que harmoniza perfeitamente com o dele.

Respiro fundo por alguns segundos, sentindo meus batimentos cardíacos oscilam descontroladamente. Parece que mal consigo suportar a situação.

No fundo, anseio por gritar, praguejar ou chorar o máximo que puder. No entanto, respiro fundo mais uma vez e coloco essas ideias de lado por um momento. Decido que é hora de começar o processo de cicatrização, mesmo que saiba que será árduo.

Não estaria sendo justa comigo mesma se não o perdoasse, mesmo que ele não seja culpado por não me amar da mesma maneira, e superasse meus sentimentos. Com os olhos fechados, deitada na minha cama, faço uma oração: — Querido Deus, cure o meu coração ferido, amém!

— Bom diaaaa!!

Meu corpo treme dos pés à cabeça e abro os olhos lentamente.

— Luana, você me assustou! — Grito aliviada, ajustando-me na cama.

— O quê?! — Responde ela, ainda bocejando.

Em cada dormitório da universidade residem dois ou três alunos e tive a sorte de compartilhá-lo com outra estudante brasileira.

Luana, minha colega de quarto, é três centímetros mais baixa do que eu, possui cabelos castanhos sedosos que caem até a metade das costas e olhos da cor de café. Ela é uma aluna excepcional, a melhor de nossa turma no programa de idiomas, enquanto eu... bem, eu sou a pior.

A caminho da biblioteca ao entardecer escuto a mesma música pela décima vez.

Se eu me apaixonar de novo serei uma tola. Mande-me rosas e eu vou deixá-las murchar. Estava enganada ao pensar que você era meu.”

Tiro os fones de ouvido e algo dentro de mim me lembra da promessa que fiz de me curar. De repente aquela melodia se torna insuportável para os meus ouvidos.

— Ansiosa para o melhor fim de semana em Busan?

Uma voz cheia de energia surge atrás de mim não é difícil de reconhecer afinal é a única pessoa além de mim que fala português.

— Busan?

Estou confusa.

— Seonsaengnim mencionou esta manhã que teremos uma excursão para Busan daqui a três semanas mal posso esperar! — O sorriso radiante no rosto de Luana quase é contagioso.

— Seo... o quê? — Não consigo reproduzir a palavra.

— O professor Manuella!! — Ela enfatiza com surpresa. — O professor minha querida Ella... — Agora num tom suave e sarcástico.

— Ahh! — Luana tem sido minha única companhia é uma grande ajuda para estudar coreano mas seu lado sarcástico às vezes me deixa irritada. — Eu dormi na última aula preciso me certificar sobre a viagem.

Amor de Algodão DoceOnde histórias criam vida. Descubra agora