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Deito na cama do meu minúsculo quarto de hotel, com paredes brancas, um banheiro interno, uma escrivaninha e uma TV, e deixo todas as lágrimas que segurei durante um tempo inundar o travesseiro. Choro até que minhas bochechas ardam, como se não soubesse fazer mais nada.

"Deveria talvez desistir", o pensamento surge em minha mente, sobre aprender o idioma ou estar em um país onde mal consigo me comunicar com as pessoas e entender seus costumes.

Sou bombardeada repetidamente por dezenas de ideias negativas.

Tentei de tudo para ocupar minha mente, mas todos os meus pensamentos estão voltados para o incidente com a idosa e seu neto. Às vezes, a ideia de desistir parece ser a única opção, já que estou aqui, envergonhada de mim mesma, em vez de estar lá fora explorando a bela Busan.

Após pensar muito, acabo adormecendo e acordo horas depois, percebendo que já anoiteceu. Fico indignada comigo mesma por desperdiçar o meu dia, grito de frustração ao perceber que deixei meu celular na praia.

Salva pelo notebook, consigo ver as horas e combino de encontrar Luana na avenida principal, a alguns quilômetros do hotel.

Com o coração ainda pesado pelo incidente na praia, escolho uma mesa modesta com dois lugares em um restaurante com ótima comida e preço acessível.

Pela segunda vez, a atendente vem anotar meu pedido, ao qual tenho que responder que ainda estou esperando por alguém.

Enquanto examino o cardápio, meus olhos se deparam inesperadamente com a família que vi mais cedo hoje, três mesas à frente. "Ah não!" solto um gemido.

Será melhor partir antes de ser notada? Se eu agir com discrição, talvez passe despercebida. Penso em levantar, mas depois de uma respiração profunda, decido permanecer sentada.

Meu estômago se contorce de nervosismo, mas vejo isso como uma oportunidade para fazer as pazes; só preciso descobrir como fazê-lo.

Com os olhos fixos na família,  pondero, se seria apropriado eu me aproximar.

Embora eu não fale bem coreano, o rapaz parece compreender português, e talvez o restante da família também.

E se eu pedisse à atendente que preparasse uma refeição especial como um gesto de desculpas? Pode implicar em custos adicionais, mas desejo manifestar minhas desculpas sinceras.

Seria deselegante escrever um pedido de desculpas em português ou inglês? Se Luana estivesse aqui, pediria para que fosse escrito em coreano.

Opto por não perturbá-los, mas busco uma alternativa escrevendo um bilhete para expressar minhas desculpas. Por sorte, Maysane, colega da minha turma de idiomas, entra no recinto. Ela possui um conhecimento razoável de coreano.

Tiro um caderninho da minha bolsa e peço a ela que escreva o bilhete, e ela concorda prontamente. Agradeço com um sorriso grato assim que ela escreve a última palavra.

Entreguei o bilhete à atendente, esperando que ela me ache apenas um pouco excêntrica e não completamente louca, embora eu saiba que é exatamente isso que ela pensa.

Espero por Luana por mais cinco minutos antes de decidir ir embora.

Minha cabeça dá uma volta quando alguém me segura pelo braço, forçando meu corpo a retroceder rapidamente enquanto tento sair do estabelecimento.

Os olhos de ônix, que já havia lamentavelmente encontrado antes, estão fixos em mim, emanando fúria.

Com a mente turva, recebi uma repreensão mais intensa do que imaginava.

— Você é louca? — Ele quase grita, visivelmente mais irritado do que antes.

Amor de Algodão DoceOnde histórias criam vida. Descubra agora