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O tempo se esticava, lento e pesado como a melancolia que me consumia. Mais uma vez, tentava recompor os fragmentos do meu coração, perdidos em algum lugar do caminho.

Já conhecia o gosto amargo de um coração partido, mas desta vez a ferida parecia muito mais profunda. Dizem que aquilo que mais tememos tem uma forma de nos encontrar, e o meu maior medo – o medo de ser despedaçada outra vez – finalmente me alcançou. Agora, sinto-me tão frágil quanto uma boneca de porcelana.

O ar gélido carregava um leve tom acinzentado, prenúncio de chuva. Pela manhã, meus olhos encontraram os de Daehyun, um encontro casual que me deixou sem respirar.

O período da aula havia terminado, e eu caminhava com Luana em direção ao refeitório, quando ele me olhou, como se esperasse uma reação, uma palavra, um passo em sua direção. A vontade de me aproximar era imensa, mas a confusão em minha mente me paralisou.

— Podemos ir ao salão de beleza hoje? — Luana interrompeu meus pensamentos.

— Huh? — respondi, ainda atônita.

— Salão de beleza, Ella. Depois do almoço. Vai te dar um gás, quem sabe mudar o visual te anime… — Luana falou, com um sorriso esperançoso. A animação dela era contagiante, e eu precisava mesmo sair daquela fossa, voltar a ver cores no meu mundo.

O salão ficava em um beco charmoso em Itaewon, um dos bairros mais vibrantes de Seul. A fachada era discreta, com uma placa de madeira envelhecida e um letreiro de neon rosa piscando "Salon de Beauté".  Ao entrar, um aroma doce de flores e produtos de cabelo tomava conta do ambiente.

As paredes eram revestidas de tijolos à vista, contrastando com o mobiliário vintage e espelhos de moldura dourada. A música ambiente era um pop coreano suave, com um toque de jazz.

Fomos recebidas por uma jovem sorridente, que nos conduziu a um espaço aconchegante com poltronas de couro e revistas de moda. A cabeleireira, uma mulher de meia idade com cabelos curtos e grisalhos, observou meus fios ruivos com atenção.

— Seu cabelo está lindo, mas acho que um corte mais moderno, na altura do ombro, e um tom castanho natural, vão realçar ainda mais sua beleza — ela disse com um sorriso gentil.

Concordei, sentindo uma onda de entusiasmo.

Enquanto a cabeleireira trabalhava, Luana observava a transformação com admiração.  O corte moderno realçava meu rosto e o castanho natural, iluminava meus olhos.

Ao final, me olhei no espelho, me sentindo renovada. Aquele corte e a cor, que me deixavam mais próxima de meu tom natural, me fizeram sentir mais confiante e feliz.

Era a primeira vez que me sentia verdadeiramente feliz em dias. A sensação era tão nova, tão reconfortante, que me fez sorrir, de verdade.

Ao entardecer, observei pela janela da cafeteria, chamada "Café do Sol", o sol se perdendo no horizonte. Vir aqui todos os dias no final da tarde se tornou um hábito.

Esse lugar é um refúgio aconchegante para os estudantes da faculdade. A atmosfera é convidativa, com um aroma delicioso de café fresco e bolo de canela pairando no ar.

Pedi um chá cítrico e levemente doce feito com yuzu, uma fruta asiática aromática, perfeito para aquecer e energizar. Luana havia ido estudar na biblioteca e eu estava sozinha, lendo as páginas desgastadas do livro que Daehyun havia me dado. Era difícil não pensar nele.

"O Pequeno Príncipe", a história favorita dele, conta a jornada de um piloto que cai no deserto do Saara e encontra um príncipe de um asteroide minúsculo. Juntos, eles embarcam em uma aventura de descobertas e aprendizados sobre o amor, a amizade, a importância da imaginação e a beleza da vida.

Amor de Algodão DoceOnde histórias criam vida. Descubra agora