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Na manhã seguinte, acordo de repente ao som de gritos coléricos, enquanto meu cobertor é arrancado de cima de mim.

Encolhi-me devido ao frio repentino, com os olhos semicerrados, percebendo apenas uma tênue luz e a sombra de alguém à minha frente. Lutava para compreender a situação enquanto gritos estridentes me forçavam a encarar a pessoa que me impunha provocações.

Sua fúria era palpável, incapaz de se conter.

—Eu pensei que você fosse minha amiga. — Ela disse, contestando. Por um breve instante, temi que ela lançasse o celular que segurava em minha direção.

Atordoada, limitei-me a encará-la. Logo em seguida, em um impulso, ela golpeou a escrivaninha com as palmas das mãos com tanta força que alguns objetos se chocaram.

Fiquei assustada com a reação intensa de Luana. Era evidente que ela estava completamente descontrolada.

— Você poderia, por favor, tentar se acalmar e me explicar o que está acontecendo? — Perguntei, com a voz embargada e o coração apertado, na tentativa de acalmar a situação.

Um longo silêncio pairou antes de ela finalmente responder, sua voz carregada de tristeza e melancolia.

— Eu nunca imaginei que você faria algo assim comigo, Ella. Eu pensava que éramos amigas, que você era uma pessoa boa... — Suas pálpebras caíram.

— Nós somos amigas, o que te fez pensar o contrário? — Respondi, tentando entender sua perspectiva.

— Somos? — Ela bufou ironicamente — Matthew me contou tudo! Disse que você o abordou na biblioteca e se insinuou para ele, e quando ele recusou, jogou bebida nele. Tentar roubar o namorado de alguém que você chama de amiga é um golpe sujo, Ella!

— M-Mas o q-quê?! — Gaguejei, meus olhos se arregalaram incrédulos — Foi isso que ele disse? No entanto, saiba que a verdade é bem diferente, eu...

—— Não quero ouvir suas mentiras, Ella. Matthew já me alertou sobre o que você tentaria fazer — Ela me interrompeu, antes que eu pudesse terminar a frase, e nesse momento, senti como se o chão se abrisse sob meus pés.

— Aquele cara é um mentiroso manipulador! — Exclamei — O flagrei beijando outra pessoa, a verdade é dolorosa, mas é essa! Acredite em mim, nunca faria algo assim com você ou com qualquer outra pessoa..

Ao terminar de falar, meu coração parecia ter subido até minha garganta. Luana estava tão cega por sua paixão que não conseguia enxergar o tipo de relacionamento em que estava envolvida.

Organizo meus pensamentos, percebendo que argumentar agora provavelmente não a fará encarar a realidade.

— Você está mentindo! — Vi lágrimas começando a se formar em seus olhos. Talvez eu devesse ter sido mais gentil.

— Eu não estou mentindo — Encolhi os ombros com pesar — Mas é seu direito acreditar no que quiser.

Sem dizer mais nada, ela pegou apressadamente uma bolsa e escolheu apenas alguns de seus pertences pessoais antes de sair correndo do quarto.

Compreendo, não posso culpá-la; sua cegueira emocional a impede de perceber os erros de seu "namorado" ou de reconhecê-los. Embora muitos digam que o amor é cego, e embora eu mesma já tenha me apaixonado por alguém que não pôde me corresponder e até mesmo tenha reagido mal a isso, discordo completamente dessa afirmação.

O amor é, na verdade, sábio e racional, criado com um propósito nobre: abençoar. Somos nós que, por vezes, optamos torná-lo irracional, ignorando todas as evidências com cega devoção.

Amor de Algodão DoceOnde histórias criam vida. Descubra agora