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Daehyun permanecia afundado no sono, alheio ao cenário que se transformava à nossa volta. As luzes vibrantes e o caos de Seul lentamente cediam espaço às montanhas distantes, cobertas por uma névoa suave. O ar morno da cidade deu lugar à brisa fresca da serra, e uma ansiedade agradável tomou conta de mim enquanto nos aproximávamos do destino.

Quando o ônibus parou, a tarefa de acordar Daehyun parecia impossível. Ele dormia tão profundamente que era como se o resto do mundo não existisse. Chamei seu nome, num sussurro hesitante, mas ele não reagiu. Toquei seu rosto, a pele quente e suave encostada no meu ombro, e por um instante observei sua expressão serena. Seus lábios entreabertos, o rosto relaxado – ele parecia um anjo perdido em um sonho tranquilo.

Depois de algumas tentativas e cutucadas insistentes, Daehyun finalmente abriu os olhos, piscando devagar contra a luz suave da manhã. A maioria dos passageiros já havia descido, e ele se espreguiçou preguiçosamente, ainda meio perdido entre o sono e a realidade.

— Você dorme mesmo em qualquer lugar, não é? — provoquei, rindo, enquanto ele se estica como um gato sonolento.

Ele esfregou os olhos com as costas das mãos, um sorriso meio torto surgindo em seus lábios. — É um dom — respondeu com a voz rouca de quem acabara de acordar. — Ainda mais com você como travesseiro.

Revirei os olhos, mas não consegui segurar o sorriso. Ele sempre sabia como me desarmar.

Lá fora, o cheiro da terra úmida e o som do vento brincando entre as árvores prometiam aventura. A trilha à nossa frente serpenteava pela floresta, e cada passo era como se o mundo ao redor ganhasse vida de novo.

No entanto, à medida que avançávamos, o caminho ficou mais traiçoeiro. As risadas leves que antes ecoavam entre as árvores foram silenciadas pela incerteza das curvas que pareciam sempre nos levar para o lado errado.

— Acho que já devíamos ter encontrado os outros — Daehyun murmurou, olhando para o mapa com as sobrancelhas franzidas.

— Você realmente não tem senso de direção, né? — retruquei, meio irritada. — Te falei que esse não era o caminho.

Ele riu sem jeito, coçando a nuca, e eu aproveitei para provocá-lo mais um pouco. — Você precisa urgente de um GPS.

Mas antes que pudesse continuar a zoar, meu pé escorregou numa pedra molhada. O mundo girou e, num segundo, caí no chão com um baque seco. Uma dor aguda rasgou meu joelho, e senti o sangue escorrer pela pele ralada. Tentei me levantar, mas minhas pernas fraquejaram.

Daehyun estava ao meu lado em um instante, os olhos arregalados de preocupação. — Você está bem? — perguntou, com a voz tensa, enquanto tirava uma toalha da mochila para limpar o sangue.

Tentei esconder a dor, mordendo o lábio, mas meu rosto denunciava o que eu sentia. — Só ralei o joelho — murmurei, forçando um sorriso que nem eu acreditava.

— Você precisa ter mais cuidado — ele disse suavemente, concentrado em limpar o ferimento. Seus dedos se moviam com uma delicadeza quase palpável, e por um instante fui tomada por uma onda de nostalgia. O jeito preocupado, o toque cuidadoso... Era uma sensação familiar que eu nem sabia que sentia tanta falta.

— Você fala como se eu tivesse culpa. — Revirei os olhos, ainda irritada.

— Você sabe que é desastrada, Ella. Precisa prestar mais atenção no que faz. — Daehyun rebateu com aquele tom meio sério, meio brincalhão, que sempre me deixava à beira da irritação.

Senti o calor subir pelo meu rosto. — Vai se ferrar, Daehyun. Não fala como se fosse meu pai. — As palavras saíram mais afiadas do que eu esperava.

Amor de Algodão DoceOnde histórias criam vida. Descubra agora