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— Eu acho que estou grávida — Luana sussurrou, a voz tremendo como uma folha ao vento.

— Calma, pode ser só um mal-estar. Daehyun e eu estamos meio mal, talvez seja só uma gripe que você pegou — tentei tranquilizá-la.

— Mas, Ella, estou atrasada e tenho razões para acreditar que… — ela parou, os olhos brilhando com lágrimas não derramadas.

— Não se desespere. Vou correr na farmácia e trazer um teste de gravidez para você — respondi, tentando ser a rocha que ela precisava naquele momento.

— Você faria isso? As pessoas podem pensar que é para você — ela disse, preocupada.

— Não me importo com o que os outros pensam. Além disso, preciso pegar alguns remédios para a dor para mim também. — Afirmei tentando aliviar a tensão.

Antes de sair, tomei um banho quente para me acalmar. Meu reflexo no espelho estava longe de ser atraente, e agradeço que Daehyun não estava por perto para me ver assim. Senti meu corpo quente e percebi que estava com febre.

Na farmácia, peguei alguns remédios para a gripe e, com um sussurro quase inaudível, pedi ao farmacêutico um teste de gravidez. Senti meu rosto corar quando ele me lançou um olhar de desaprovação, como se estivesse dizendo "Você deveria ter sido mais cuidadosa, jovem". Senti uma onda de vergonha, como se o teste fosse para mim. No final das contas, aquela história de que não me importo com o que os outros pensam é pura conversa fiada. Eu realmente me senti julgada por algo que sequer fiz.

Enquanto aguardávamos pelo resultado, Luana não parava de chorar, antecipando a reação de seus pais. Sendo a única mulher e a filha caçula exemplar entre quatro irmãos, ela sempre foi muito cuidada. Seus pais, advogados bem-sucedidos, se esforçaram ao máximo para proporcionar a melhor educação possível à filha, tornando-a a pessoa mais inteligente que já conheci.

Finalmente, o resultado do teste apareceu: negativo.

As duas suspiraram aliviadas. Luana não estava grávida; era apenas um sintoma de virose, como eu havia deduzido.

— Obrigada, Ella. Não sei o que faria sem você — disse ela, sentando-se na cama, ainda visivelmente assustada.

— Isso é o que as amigas fazem. Estamos juntas nisso — respondi, segurando sua mão.

Luana lamentou mais uma vez por não ter me dado ouvidos quando a alertei sobre Matthew, mas eu insisti para que ela não se preocupasse, pois sei que as pessoas apaixonadas muitas vezes ignoram evidências, sendo cegas pelo amor.

Ela chorou todos os dias, e tanto ela quanto eu faltamos às aulas até que os sintomas gripais passassem.

Daehyun e eu não nos vimos por esses dias devido à gripe, o que aumentou consideravelmente a saudade entre nós. No entanto, nos mantemos conectados através de mensagens e ligações, que se tornam nosso refúgio. Minha amiga, por outro lado, revira os olhos cada vez que nos vê mergulhados em longas sessões de chamadas de vídeo.

Com cada dia que passa, sinto como se estivesse desvendando um novo capítulo de um livro fascinante chamado Daehyun. Cada mensagem dele é como uma página que me faz cair um pouco mais de amor por ele. Não é apenas sua aparência física, que por si só é de tirar o fôlego, mas é o conjunto da obra que me encanta. Ele é inteligente, tem uma concentração de ferro e um perfeccionismo que contrasta com minha tendência a me distrair com a menor das coisas.

Daehyun tem um senso de humor que é como um limão: ácido, mas deliciosamente refrescante. Nossas conversas são salpicadas de risadas e momentos de pura alegria. Ter Daehyun na minha vida é como ter um raio de sol em um dia nublado, e eu não poderia estar mais grata por isso. 


Era um domingo à tarde em Seoul, e finalmente tínhamos nos livrado daquele resfriado incômodo. Meu coração ansiava por vê Daehyun, pelo aroma amadeirado de seu perfume que sempre me deixava encantada. No entanto, em vez de me entregar a esses desejos, decidi levar Luana para um piquenique à beira do majestoso Rio Han.

 Luana ainda estava se recuperando do fim de seu relacionamento, uma dor que eu entendia e respeitava. Comecei a perceber que minhas constantes demonstrações de afeto com Daehyun, mesmo que apenas por chamadas enquanto estávamos confinadas em nosso quarto, poderiam estar machucando-a. Não que Luana fosse do tipo invejosa, longe disso. Mas era um momento delicado para ela, e eu não pude deixar de me sentir um pouco insensível.

Estávamos sentadas em uma toalha, com uma cesta de piquenique ao lado. O cenário era tão sereno, Luana olhou para o rio, seus olhos refletindo a dor que ela estava sentindo. 

— Eu não sei como não percebi antes, Ella. — Ela disse, e sua voz falhou. — Ele não era bom para mim. Eu estava tão cega pelo amor que não conseguia ver o quão tóxico nosso relacionamento era.

 Coloquei o braço ao redor de Luana. 

— Não se culpe, Luana. — Respondi, suavemente. — Todos nós cometemos erros. O importante é que você percebeu e decidiu sair dessa situação. Isso mostra o quanto você é forte.

Ela me olhou, com os olhos cheios de lágrimas. 

— Mas eu me sinto tão estúpida, Ella. Eu deveria ter percebido mais cedo.

 Sorri gentilmente.

— Não, você não é estúpida. Você é humana. E todos nós, humanos, cometemos erros. O que importa é o que fazemos depois desses erros. Você aprendeu com isso e isso é o que realmente importa.

Luana assentiu, limpando as lágrimas. 

— Você está certa, Ella. Eu aprendi com isso. E vou me certificar de que nunca mais vou me permitir estar em um relacionamento tóxico novamente.

 Apertei o ombro de Luana. 

— Isso mesmo, Luana. Você é uma mulher forte e independente. Você merece alguém que te respeite e te ame pelo que você é.

Nós duas permanecemos em silêncio, olhando para o rio Han. A conversa tinha sido difícil, mas necessária. E no final do dia, Luana se sentia um pouco mais leve, um pouco mais esperançosa. E isso era tudo que ela precisava.

Amor de Algodão DoceOnde histórias criam vida. Descubra agora