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Por um momento, meus pensamentos vagaram, buscando algo para dizer. Mas antes que qualquer palavra pudesse escapar, Daehyun, como se tivesse reconsiderado, fechou os lábios e decidiu que não queria ouvir.

— Você não tem o direito de ficar bravo, Daehyun. — Minha voz tremeu de raiva reprimida. — Você também tem sua amiguinha e nem sequer se deu ao trabalho de me contar sobre ela. — As palavras saíram num desabafo, e eu senti o peso de todos os sentimentos presos na minha garganta finalmente se libertando.

Seus olhos de ônix semicerraram em confusão. Ele balançava a cabeça devagar, como se tentasse processar o que eu havia dito.

— São situações completamente diferentes, Ella. — Sua voz saiu tensa, carregada de frustração. — A Cat é uma amiga de longa data. Nunca houve nada entre nós. Mas esse cara... — ele hesitou, com o maxilar travado. — Ele claramente quer algo com você. E você já sentiu algo por ele. Eu não sou inseguro, mas como espera que eu me sinta ao ver minha namorada próxima de alguém que está tentando te roubar de mim?

Senti meu peito arder, a emoção transbordando. — Eu te amo, Daehyun! — Minha voz saiu áspera, quase rude, mesmo que as palavras fossem uma tentativa desesperada de reafirmar o que eu sentia. — O fato de eu ter sido apaixonada por ele no passado não muda nada. Não põe em risco o que sinto por você. Eu te amo!

Por um instante, a tensão em seus ombros relaxou, e seus traços rígidos se suavizaram. Ele sabia que eu estava sendo sincera.

— Então, saiba que me machuca te ver se aproximando dele novamente. — Seu tom estava mais baixo, mas ainda carregado de angústia.

Eu senti o nó na garganta apertar. — E eu, Daehyun? — Minha voz vacilou, sufocada pelo medo e a ansiedade. — Você acha que eu gosto de ver a Cat te tocando, te abraçando, agindo como se te conhecesse melhor do que qualquer um? Eu me sinto tão pequena, como se não soubesse o suficiente sobre você... E então, pensei, se você pode ter uma amiga tão próxima, por que eu não posso ter contato com o Lucas?

Daehyun soltou um riso amargo, visivelmente irritado. Ele passou as mãos pelos cabelos, puxando-os para trás com força, enquanto andava de um lado para o outro, como um animal enjaulado.

— Droga, Ella! — Ele estourou, sua voz saindo firme, mas controlada. — Por que não me disse o que estava sentindo? Vai continuar guardando tudo para si? Como espera que eu saiba o que passa na sua cabeça se você não me conta?

Suas palavras cortaram fundo, como um tapa invisível. Ele respirou fundo, e eu senti o peso da atmosfera ao nosso redor se tornando mais denso. 

— Eu sei que errei ao não te contar sobre a Cat. — Ele continuou, mais calmo. — Mas eu estava tão focado em nós que o resto parecia irrelevante. Nada mais importava. — Ele olhou para mim com uma dor reprimida. — É doloroso pensar que você está tentando me provocar... Mas sabe de uma coisa? Faça o que quiser. Eu não sou seu dono. Nunca fui. Não vou te dizer o que deve ou não fazer.

Com essas palavras, ele se virou e saiu rapidamente, como se estivesse fugindo de um incêndio. Seus passos pesados ecoavam, e o vazio que ele deixou para trás parecia ainda mais sufocante.

Passei as mãos pelo rosto, lutando contra o desespero crescente. "O que estou fazendo?", pensei, enquanto um vazio se instalava dentro de mim, como uma sombra que se recusava a desaparecer.

Meus pensamentos começaram a vagar por cicatrizes antigas, memórias de um tempo em que eu era apenas uma pequenina ferida, desde que meu pai nos deixou – a mim e à minha mãe – para viver com outra. 

Eu tinha apenas dois anos. E como se isso já não bastasse, anos depois minha mãe decidiu ir embora, seguir uma nova vida com seu novo marido em outro estado no sul do país.

Amor de Algodão DoceOnde histórias criam vida. Descubra agora