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— Isso só pode ser uma conspiração! — Resmunguei enquanto pegava meus pertences e corria para me esconder atrás de uma palmeira grande a poucos metros da saída.

Será que Busan tem um tipo especial de ímã que atrai problemas exclusivamente para mim? Ou sou eu que atraio problemas para Busan?

O moço de olhos negros, usando uma camisa de manga longa branca e calças bege, foi recebido por um garçom e direcionado a uma mesa. É difícil acreditar que ele poderia estar em qualquer lugar, mas precisamente, está no mesmo lugar que eu.

Aguardo o momento ideal para conseguir escapar sem ser vista. A última coisa que quero agora são mais contratempos.

Observo uma garota coreana que não havia notado antes, vindo atrás dele e se entrelaçando em seus braços. De repente, sinto uma tensão na nuca no momento em que ele dá um beijo casto em sua testa.

Embora pareça ser muito mais alta do que eu, sua aparência é jovem e angelical, com franja e cabelos negros abaixo do ombro. À medida que eles se aproximam de uma mesa, torna-se claro que ela não tem mais do que dezessete anos.

Ele é gentil e sorri de forma doce, tão doce que me deixa enjoada. Então, como um perfeito cavalheiro, puxa a cadeira para ela. Sinto como se estivesse em uma cena de filme.

Desconforto no estômago, acompanhado de mal-estar e suor frio, repentinamente se apossam de mim. A cena realmente me deixou com vontade de vomitar. Será que ele é um maníaco conquistador de adolescentes do Ensino Médio?

— Posso te ajudar? — Virei-me para o lado e encontrei o mesmo garçom me fitando sem expressão alguma.

Forcei um sorriso falso e me afastei cautelosamente para não ser vista.

Percebi ser tarde demais quando meus olhos se encontraram com os dele, igualmente me olhando de longe. Curioso pelo que imagino, questionando se tenho problemas. Desviei o olhar tentando disfarçar e saí correndo dali.

Então, o coração do homem de lata bate por alguém? De novo, finjo ânsia de vômito ao passo em que caminho pela rua.

Crio expectativas quando noto meu celular vibrar, achando que seja Luana me dizendo estar me pregando uma peça, mas logo sou frustrada ao verificar que é apenas um lembrete avisando que em alguns minutos começará a aula de culinária tradicional coreana, à qual me inscrevi.

Pego um táxi para chegar a tempo e minha cabeça lateja como se tivesse sido atingida por um martelo ao perceber que o esperto taxista cobrou o dobro do preço regular. Fiquei surpresa e furiosa com a situação.

Disposta a amaldiçoar o meu dia, repenso antes que uma onda maior de azar me atinja.

Organizo todos os ingredientes necessários para preparar o famoso kimchi e não deixo de pensar em tudo o que aconteceu em apenas um dia e meio.

O plano era que fosse o fim de semana perfeito. Pelo menos o aroma deste lugar é maravilhoso, e o ambiente é espetacular. A professora de culinária é uma senhora extremamente amigável.

— Você veio do Brasil, certo? — Pergunta uma jovem com olhos grandes cor de avelã, sorriso simpático e corte chanel, ao me entregar um maço de cebolinha verde.

— Sim, como soube?

— Na lista em que assinamos nossa presença, tem os nomes e a nacionalidade dos alunos — Ela pisca e volta sua atenção para cortar alguns nabos.

— Eu nem tinha me dado conta disso — abro um meio sorriso — Mas o que te faz pensar que eu sou a brasileira da lista?

— Podemos considerar que estamos conversando em português? — Ela solta uma generosa gargalhada.

Pela segunda vez, demorou para que eu percebesse, e me acho estúpida por isso. É tão comum que eu não tenha alguém para conversar que, em algumas ocasiões, me esqueço de que aqui as pessoas não falam o meu idioma.

Rimos do meu constrangimento, e me sinto confortável com sua companhia.

— ... e eu posso reconhecer um brasileiro em qualquer lugar! — Ela afirma com seu já familiar sorriso — Eu nasci em Portugal, mas morei por anos no Brasil, porque meu pai é brasileiro. A propósito, me chamo Catarina, mas pode me chamar de Cat — conclui ao colocar as folhas de acelga e fatias de nabo em um pote.

— Prazer em te conhecer, Cat! Eu sou a Ella. — Sorrio de volta e acrescento: — O que te traz a esta aula?

— Alguém muito especial. Ele sempre me fala sobre os pratos favoritos e eu quero surpreendê-lo com uma refeição autêntica.

Tenho vontade de questionar sobre a pessoa especial, ao mesmo tempo em que anseio que um dia alguém possa se importar comigo da mesma forma.

— Que legal! Eu também adoro cozinhar para as pessoas que amo. Qual é o seu prato coreano favorito? — Perguntei.

— Eu amo bibimbap! É um prato de arroz com legumes, carne e ovo. E você?

— Hmm, tenho um carinho especial por topokki e podemos definitivamente fazer a receita juntas mais tarde!

— Com certeza! Meu melhor amigo coreano também é um fã de topokki, é o prato favorito dele. Estou ansiosa para aprender a fazer para ele quando visitar o Dae em Seul.

Cat exibia um brilho especial nos olhos ao mencionar seu amigo. Com minha experiência pessoal, detectei que seus sentimentos vão além da amizade.

Então, ele é a pessoa especial ” Dei um leve sorriso lateral, deduzindo os fatos e torço para que ele sinta o mesmo por ela.

Amor de Algodão DoceOnde histórias criam vida. Descubra agora