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Sinto um desequilíbrio em meu sistema nervoso, impaciente por não conseguir alcançar o livro que o tutor Lee exigiu. Ele está posicionado em uma prateleira tão alta que me faz perder a esperança, depois de tentar de todas as formas possíveis pegá-lo.

Meu celular não para de tocar com tantas notificações e mensagens dele me dando ordens e questionando sobre o motivo de não o ter encontrado ainda. Eu massageio as têmporas, tentando evitar uma explosão de nervos.

Apesar do ambiente na biblioteca ser bem ventilado, minha pele está quente e o suor escorre pelo meu rosto, enquanto eu assopro as mechas de cabelo que caem sobre meus olhos.

— Eu não preciso de mais nada para detestar esse cara — sussurro, reclamando. — Já não basta o café gelado que deixei em uma das mesas no espaço para leitura. O senhor Kim não poderia escolher alguém mais agradável? — me pergunto, esticando os braços ao máximo e ficando na ponta dos pés pela milésima vez.

Noto uma sombra se formando no meu espaço, escurecendo o lugar. Percebo, de repente, alguém atrás de mim tão próximo que sua respiração toca a ponta da minha orelha.

O braço meio exposto com a manga da blusa levantada até o cotovelo, aparentemente de um homem, alcança o livro que é uma obra clássica do século quinze sem nenhuma dificuldade e finalmente, experimento uma sensação de alívio.

Viro-me para agradecer a pessoa misteriosa e sou imediatamente pressionada contra a prateleira cheia de livros, quando alguém desastrado nos empurra ao passar distraído em seus próprios pensamentos.

O barulho repentino me assusta, alguns livros caem no chão, inclusive o que eu estava procurando. Num reflexo rápido, acabo apoiando as mãos involuntariamente no tórax dele — que não deixo de notar como forte e definido — devido ao atrito que nos uniu quase completamente.

A minha visão se fixa no peitoral pela camisa cinza — uma bela vista, não posso negar. Timidamente, com medo do ridículo, direciono meus olhos para a pessoa que está quase tão colada a mim quanto minhas próprias roupas.

O pulsar do meu coração ecoa em meus ouvidos, tornando difícil me concentrar quando encontro os mesmos olhos negros de sempre.

Por um instante, apenas trocamos olhares. Então, ele sorri radiante, fazendo meu estômago revirar. Ao mesmo tempo, indago por que ele é sempre o protagonista de situações constrangedoras como esta.

Contudo, o aroma amadeirado do seu perfume tem um efeito extasiante sobre mim e por pouco não desejo que ele se afaste. Até que com um movimento esperto, o empurro com força para longe.

Contraio o abdômen e começo a recolher e devolver os livros em seus lugares. Levo desajeitadamente nos braços alguns que antes estavam onde não consigo reposicioná-los.

Por um breve período, penso em pedir ajuda, mas logo percebo que ele não está mais presente. E, para piorar, partiu levando o meu livro.

Rapidamente, deixo os exemplares em qualquer canto e com agilidade o procuro entre os corredores. O vejo sentado folheando as páginas da obra que demorei para achar. E também bebendo o café que comprei para o meu tutor — que a propósito deve estar soltando fumaça pelas narinas.

A essa altura, minha paciência está no limite. Explodindo de raiva sem controlar minha indignação, pego o copo com o ice americano de suas mãos. Daehyun apenas pisca de surpresa e se limita a levantar as sobrancelhas interrogativamente.

— Isto não é seu! — indico com os olhos o copo já pela metade, aumentando o meu estresse.

— E isso... — fecho bruscamente o livro, puxando-o com um gesto abrupto. — Eu estou há quase vinte minutos tentando pegar e você simplesmente toma de mim?

Ele coloca o indicador no queixo e finge pensar.

Enquanto eu passo as mãos no cabelo para controlar a emoção, sinto um suspiro escapar antes que meu sistema nervoso entre em colapso.

— Era para o meu tutor, droga! — Resmungando, apontei novamente para o copo de café frio. Exalei lentamente, tentando aliviar a tensão.

Daehyun permaneceu indiferente, sem dizer uma palavra. Sua expressão não me agradava, mas decidi ignorá-lo na mesma medida e focar em descobrir onde estava meu tutor.

Enviei uma mensagem rápida e, sem resposta imediata, decidi ligar.

Notei que o dispositivo sobre a mesa começou a tocar. Em choque, desliguei a chamada e liguei novamente, esperando que o mesmo dispositivo não tocasse outra vez.

— Oh não, não, não! Isso não pode estar acontecendo! — Balançava a cabeça repetidamente, recusando-me a acreditar. — Isso é algum tipo de castigo?

Um sorriso irônico se espalhou no rosto de Daehyun, claramente se divertindo com a situação. Ele olhou para o relógio com um ar de tédio.

— Você está trinta minutos atrasada! — Ele disse, e tudo o que eu queria era atacá-lo.

— Por que tinha que ser você? — Perguntei, exausta fisicamente e emocionalmente, sentando-me na cadeira ao lado dele.

— Porque o professor Kim insistiu. Se não fosse eu, não haveria outra pessoa qualificada para te ajudar.

— Você não deveria ter aceitado! — Minha voz saiu quase como um suspiro cansado.

— Preciso de atividades extracurriculares. Estou me formando este ano e meu histórico precisa ser impecável.

— Eu me recuso a aceitar você como meu tutor.

Qualquer um que me visse agora diria que estou embriagada. Com as pálpebras pesadas, apoiei a cabeça em uma das mãos, arrastei o pé para relaxar os músculos e censurei mentalmente o ocorrido.

— Tudo bem! — Daehyun se levantou, organizando suas coisas na mochila. — Então estude sozinha para sua prova.

— Qual é a chance de eu conseguir outro tutor?

Ele fez um gesto de zero com a mão e abriu aquele sorriso irritante de coiote, completando com um: — Boa sorte!

Bati levemente minha cabeça na mesa como punição. Eu devia ser a pessoa mais azarada do mundo e, sem alternativa, precisava tirar uma nota excelente sozinha.

É improvável que nós dois consigamos dividir o mesmo espaço sem causar uma Terceira Guerra Mundial. Ele é insuportável, todo arrogante com aquele sorriso perfeito que me tira o fôlego... quero dizer, que me dá náuseas.

Na verdade, estou tentando me enganar. É impossível alcançar essa meta sozinha.

Apressei-me "arrependida", esperando encontrá-lo ainda na biblioteca.

— Ei! — Gritei, atraindo pedidos de silêncio por toda parte. Imediatamente tapei a boca com as mãos.

Ele me olhou confuso e, com passos firmes para me aproximar, o alcancei. Naquele momento, houve uma queda de energia inesperada e tudo ficou escuro, mesmo sendo dia.

A área específica sem janelas impedia a entrada da luz natural, tornando a escuridão dominante. Urgentemente agarrei suas mãos com intensidade e não consegui soltar.

Minha mente voltou aos dias da minha infância nas férias de verão quando minha prima Isabela, anos mais velha do que eu, me trancava em um banheiro escuro por pura maldade até que minha avó chegasse.

— Você já não é grande demais para ter medo do escuro? — Daehyun direcionou a lanterna do celular para o meu rosto, impedindo-me de manter os olhos abertos. Percebendo meu estado de pânico, logo se arrependeu do que disse. Dominada por uma intensa sensação de medo e respiração acelerada, apertei ainda mais firme sua mão enquanto ele gentilmente me puxava para mais perto. — Acredito que a luz voltará em breve — Ele me tranquilizou, guardando o celular no bolso e me abraçando de forma protetora. Com isso, a luz se acendeu instantaneamente. — Viu só! — Um sorriso afável e generoso se formou em seu rosto. Agradecida, fiquei envolta em seus braços, sem querer me afastar.

Amor de Algodão DoceOnde histórias criam vida. Descubra agora